quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

A polêmica em torno da relação entre homossexuais e Igreja Católica


    É no mínimo desonesta a acusação que andam fazendo contra o Papa Francisco sobre a questão que intitula estas breves considerações. Vez e outra, o Papa tem apelado para a necessidade da acolhida das pessoas que têm orientação sexual diversa da heterossexualidade. Isso muda a doutrina e a disciplina da Igreja sobre a homossexualidade? Claro que não! Então, por que os tradicionalistas insistem em acusar o Papa de mudar a moral católica neste quesito? A resposta é simples: Porque gostam de polemizar, confundindo a cabeça das pessoas, com o objetivo de levá-las a ver o Papa como inimigo da moral cristã.

Aqui não quero discorrer a respeito da necessidade de a Igreja rever alguns pontos de sua teologia moral. Tal abordagem merece uma apreciação científica, em espaços acadêmicos e culturais dados à pesquisa teológica. Hoje, na Audiência Geral no Vaticano, o Papa pediu mais uma vez que se evitem posturas condenatórias. Não se deve "se esconder no comportamento de condenação". Aqui o Papa toca no ponto central da hipocrisia de muita gente: Esconder-se no comportamento de condenação, ou seja, quando se condena as pessoas, muitos escondem comportamentos abomináveis. No mínimo, condenam no outro o muito que tem em si mesmos.
Qual a lei do cristão? O amor a Deus e ao próximo. Por que não se aceita essa lei? Por que falta a verdadeira fé, o verdadeiro amor e a esperança que salva. Os expedientes condenatórios são expressões evidentes da falta de amor. O cristão pode estar em dia com a lei religiosa, pode ser um católico 100%, mas se não tiver amor, está perdido com sua pretensa fé religiosa. Na Igreja, a falta de amor se evidencia na hipocrisia religiosa, presente nas falas e relações pautadas no juízo e condenação das pessoas. A ninguém Jesus deu o poder para julgar e condenar. Aí está um pecado grave a ser confessado sem demora.
Na Igreja há um grupo de gente maliciosa e inimiga da paz que vive de plantão, vigiando o Papa em suas falas. São iguais a muitos fariseus que viviam espionando Jesus, para pegá-lo em alguma falta e, assim, poderem acusá-lo. Geralmente, essa gente não tem moral nenhuma para acusar quem quer que seja, pois leva uma vida indigna do cristão. Os hipócritas são pecadores, que se dedicam a enxergar pecados na conduta alheia, mas são incapazes de olhar para si mesmos. São deturpadores da verdade, amigos da mentira. Como diz Jesus no Evangelho segundo João: são filhos do diabo, porque este é o pai da mentira e da confusão.
A moral cristã católica a respeito da homossexualidade permanece intocável. Todo católico que gosta de estudar a conhece. Mas esta moral não ensina nem autoriza julgamentos e condenações. As pessoas precisam ser acolhidas como realmente são: com suas virtudes, defeitos e tendências. A Igreja não nasceu para mudar as pessoas. Ninguém muda ninguém. Não se muda a natureza das pessoas. Elas são o que são. Um heterossexual assim se manifesta e pronto. O homossexual da mesma forma. Não há aí doença, nem perturbação, nem maldição, nem destino traçado. Há pessoas, que devem ser respeitadas em sua dignidade e formas de ser.
Deus é o Pai que ama a todos, porque não faz acepção de pessoas. Conhece seus filhos e filhas, e sabe do que são feitos. Deus é amor e ama a todos, santos e pecadores, cristãos e não cristãos, independente da condição ou orientação sexual das pessoas. Quando Deus nos olha, não se interessa, em primeiro lugar, se somos héteros, gays, lésbicas etc. Ele olha a nossa capacidade de amar. O mais importante não é a orientação sexual da pessoa, mas se ela é capaz de amar a Deus e ao próximo. Ninguém será salvo porque é hétero, homo, bi etc., mas porque amou a Deus e ao próximo como a si mesmo.
Quem segue Jesus ama e desperta o amor nas pessoas; ama-as como são, com todos os seus dilemas e possibilidades. A religião tem a função de despertar o amor, a fé e a esperança. Não pode ser lugar de julgamento e condenação. Religião não é tribunal, mas lugar de encontro, amizade, fraternidade. É lugar de se aprender a ser irmão do outro. Este não pode ser visto como inimigo, alguém que deva ser eliminado. Ser cristão não obriga a concordar com a orientação sexual das pessoas, mas exige o respeito, a defesa e a promoção da dignidade da pessoa humana. Quem ainda não assimilou esta dimensão da fé cristã está em dívida com a própria fé em Jesus.
A fé em Jesus rima com a cultura da tolerância e da amizade entre as pessoas. Vivemos numa sociedade marcada pela violência contra as pessoas homossexuais: xingamentos, espancamentos, calúnias, mortes etc. Está gravemente doente a pessoa que agride outra por causa de sua orientação sexual. Em muitos casos, a ignorância é a doença principal dos agressores, que se acham no direito de agredir e eliminar os outros. Todo agressor é um criminoso. A Igreja deve permanecer ao lado das vítimas, porque esta foi e permanece sendo a opção de Jesus, que revelou o Deus dos injustiçados.

Pe. Tiago de França