sábado, 19 de junho de 2010

Jesus, o Cristo de Deus


“E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9, 20).

Ninguém sabe responder com exatidão a pergunta feita por Jesus aos seus discípulos. Não há conhecimento teológico que des-vele o significado pleno da pessoa de Jesus de Nazaré. Pela proibição do próprio Cristo descrita no texto evangélico da Liturgia deste 12º Domingo Comum (cf. Lc 9, 18 – 24), Pedro acertou na resposta. Jesus revelou-se como o Ungido de Deus, o Cristo. Por que será que Jesus proibiu os discípulos de falar que ele era o Cristo? Ele não queria ser reconhecido enquanto tal?

No tempo de Jesus e até hoje surgem na sociedade mulheres e homens que são tidos como messias (messianismo), ou seja, grandes revolucionários, reformadores sociais, líderes carismáticos. Jesus não quis ser mais um na multidão dos revolucionários e revoltados da sociedade de seu tempo. As autoridades dos judeus até desconfiavam que ele pudesse ser mais um deles e, de início, não se preocuparam. A ressurreição de Jesus mudou a opinião das elites religiosas e judaicas da época, e mesmo não crendo, tiveram que admitir que, de fato, Jesus é o Cristo de Deus.

Os revolucionários da história da humanidade são pessoas que contribuíram e que contribuem com a transformação do mundo, mas que passam. Jesus, enquanto o Ungido de Deus, certamente aderiu às causas das minorias e permanece para sempre. Permanece porque além de ter sido um sujeito histórico, também é Deus. A fé cristã permite-nos afirmar que Jesus é a presença de Deus no mundo. Com sua vinda, Deus visitou o seu povo. O testemunho da Escritura Sagrada fala explicitamente desta presença amorosa de Deus.

O que significa afirmar que Jesus é o Cristo de Deus? Significa reconhecer em Jesus a plenitude do Reino de Deus. O Ungido de Deus veio a este mundo inaugurar o Reino, iniciar uma construção histórica. Mas como construir o Reino? Ele responde da seguinte forma: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9, 23 – 24). Não existe construção do Reino fora do seguimento de Jesus, pois somente no discipulado se conhece o projeto de Jesus e tal projeto é o Reino de Deus.

A primeira atitude da pessoa que deseja seguir Jesus é renunciar a si mesmo. Longe de aniquilamento de si mesmo, tal atitude corresponde ao despojamento. Despojar-se de si mesmo. Jesus despojou-se e entregou-se para ser morto, e graças à sua entrega plena, Deus o ressuscitou dentre os mortos. O Apóstolo Paulo ensina-nos que Jesus “esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2, 7). Jesus renunciou ao poder e tornou-se servo. Humanamente, era um homem comum e sem poder para nada. Ele não exerceu nenhuma função que lhe conferisse poder neste mundo.

O discípulo de Jesus é alguém despojado do poder. O poder do discípulo encontra-se na sua disponibilidade em servir ao próximo. No ato mesmo de servir manifesta-se tal poder. Este é legítimo, evangélico e libertador. As demais formas de poder são opressoras, portanto, antievangélicas. Equivocada a pessoa que se proclama discípula de Jesus no exercício opressor do poder. Trata-se de uma autocompressão e de uma autoproclamação alienadas e ilusórias, destituídas de caráter evangélico.

A segunda atitude é tomar a cruz cada dia. Não é fácil o seguimento de Jesus, mas não é impossível. Se o fosse, o convite não teria sido lançado. O testemunho de vida de muitas pessoas que se tornaram cristãs autênticas mostra que o seguimento é possível. A natureza do seguimento a Jesus de Nazaré, o Ungido de Deus, pressupõe sofrimento, rejeição, morte e ressurreição. Não ressuscita quem não seguiu Jesus ao tomar a cruz cada dia. A cruz é como que o segredo do seguimento. Por isso, nenhum discípulo pode pedir a Deus que o livre do sofrimento, porque este faz parte do caminho de Jesus. Tal caminho é estreito, espinhoso e cheio de perseguições.

Jesus nos chama para participarmos da construção do Reino Deus e tal participação implica perseguição e morte. O testemunho dos mártires da Igreja primitiva, de todos os tempos e lugares, que pela profecia fecunda derramaram o seu sangue pelas causas do Reino revela-nos que tal participação é verdadeira. No Discurso Inaugural da Conferência de Aparecida, no n. 4, afirma o Papa Bento XVI que a Igreja é convocada a ser “advogada da justiça e defensora dos pobres”, e para que isto se efetive, a Igreja deve despojar-se de todo e qualquer poder mundano e opressor, e tomar a cruz cada dia.

Impregnada pelas duas primeiras atitudes, a pessoa já se tornou discípula de Jesus, porque aceitou segui-lo. Tais atitudes devem perdurar por toda a vida, santificando a pessoa na comunhão plena com o Deus que se revela no rosto dos sofredores e empobrecidos. A solidariedade é a palavra que resume as três atitudes do discípulo missionário de Jesus. O Evangelho convida-nos a sermos solidários na opção preferencial pelos pobres, opção que “deve conduzir-nos à amizade com os pobres” (Documento de Aparecida, 398).

Para conhecermos verdadeiramente a pessoa de Jesus e vivermos a experiência do Apóstolo Pedro que o reconheceu como o Ungido de Deus, precisamos viver o mandamento de Jesus, que consiste no amor a Deus e ao próximo. Reconhecemos Jesus na prática do amor fraterno. O amor está para o conhecimento e reconhecimento de Jesus de Nazaré, é o caminho que nos revela a pessoa do Ungido de Deus no cotidiano de nossas vidas. Quem não ama, não conhece Jesus nem seu projeto libertador. É graças ao amor que temos condições de renunciarmos a nós mesmos e tomarmos a cruz cada dia.

A Igreja de nossos dias precisa responder à pergunta de Jesus através da opção preferencial pelos pobres. Para isto, é necessário renunciar a toda e qualquer pretensão de hegemonia e dominação. Como bem disse o Papa, sendo “advogada da justiça e defensora dos pobres”, a Igreja se converte e se coloca no caminho de Jesus. Isto implica que todos os membros, a começar pelos que compõem a hierarquia, assumam posturas de humildade, seriedade, co-responsabilidade, solidariedade, abertura e diálogo com a sociedade.

O bom êxito da Lei Ficha Limpa, aprovada e sancionada, é um exemplo autêntico de que a Igreja tem condições e deve sempre se posicionar a favor dos empobrecidos. Com a aprovação e sanção da Lei Ficha Limpa, os empobrecidos são os primeiros favorecidos, pois terão seus direitos respeitados e os recursos públicos aplicados para o bem comum, tendo representantes mais honestos e responsáveis, sem o crescente número dos terríveis desvios que marcam a história política de nosso país. A Igreja é advogada da justiça quando ajuda a promover a justiça aos oprimidos, opondo-se de uma vez por todas aos poderosos exploradores. Ser “advogada da justiça e defensora dos pobres” obriga a Igreja a assumir atitudes proféticas na sociedade e a cortar os laços de amizade com quem explora o povo de Deus. A hierarquia da Igreja precisa ser amiga dos pobres na defesa e promoção de seus direitos.


Tiago de França

2 comentários:

felipe disse...

orGostei desde texto,mas será que de fato a Igreja é ela é "advogada" dos pobres se em muitas situações é ela mesma causa de tantas injustiças.
Para justifica as suas deficiências caímos no dogmatismo "a Igreja é santa, porém é pecadora.
Tenho medo de frases como essas que são usadas para defender tamanhas falhas.

Anônimo disse...

sr.Felipe, infelizmente o ser humano não mergulha fundo (de coração) a esses dogmas... A Igreja (JESUS = Santo); pecadora (A PESSOA, O SER HUMANO). Porém, quando realmente abrimos os nossos Corações vemos maravilhosas OBRAS!!! HENRIQUE