Amigos/as,
A atualização deste blogue será retomada a partir do dia 1º de julho, pois irei fazer um retiro de 20 dias no qual estarei sem internet e telefone. Grato pela compreensão, um fraterno abraço a todos/as!
Fraternalmente,
Tiago de França
domingo, 8 de junho de 2014
sábado, 7 de junho de 2014
Pentecostes: celebração da manifestação do Espírito Santo
“A
cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum”
(1 Cor 12, 7).
A solenidade de Pentecostes é um convite à festa e à
reflexão sobre a ação do Espírito Santo no mundo. Muito se pode dizer a
respeito, mas o espaço de uma breve reflexão somente nos permite falar do
essencial.
Algumas
afirmações talvez possam escandalizar, mas elas serão ditas em vista do bem
comum e de uma compreensão mais lúcida da ação amorosa de Deus por meio do
Espírito. Partimos daquilo que já sabemos e que não nos custa repetir: o
Espírito procede do Pai e do Filho, e permanece conosco até o fim dos tempos.
O
Espírito em Jesus de Nazaré
Por meio da
experiência missionária de Jesus conhecemos o Espírito, pois este o levou ao
deserto e o preparou para a missão. A fidelidade de Jesus à missão dada pelo
Pai é graça do Espírito. Este o assistiu durante toda a sua vida e,
gradativamente, foi revelando-lhe a vontade de Deus.
Portanto,
em Jesus, a missão do Espírito foi a de mantê-lo unido ao Pai no amor, na
obediência e na fidelidade ao anúncio do Reino de Deus. Jesus teve consigo a
força divina para cumprir a vontade do Pai, tornando-se o Libertador de toda a
humanidade, ultrapassando todas as fronteiras e limites criados pelo ser
humano. Graças ao Espírito, a salvação é universal, pois, misteriosamente, esta
salvação chega a todos, indistintamente.
O
Espírito na Igreja primitiva
Logo após a
morte de Jesus na cruz, os discípulos se perguntavam como iriam cumprir a
missão que Jesus lhes deixou: anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus. Estavam
tomados de medo e confusão. Não sabiam para onde ir nem o que fazer. Jesus não
estava mais pessoalmente com eles, tinha ressuscitado e ganhado uma nova
dimensão. Não era mais visto como antes.
E
agora, como continuar a missão de Jesus? Não demorou muito e, de repente, veio
sobre eles o Espírito de Deus, o Paráclito, prometido por Jesus. A partir daí,
eles saíram do cenáculo, livraram-se do medo e se transformaram em grandes missionários
da Palavra de Deus, do Verbo divino que se fez carne. O medo deu lugar à
alegria do anúncio e à ousadia profética da denúncia. Eles passaram a fazer a
mesma coisa que Jesus fazia: pregavam a Palavra, curavam os doentes, libertavam
as pessoas de suas prisões físicas e espirituais.
O Espírito do Senhor permaneceu com eles, fortalecendo-os
e iluminando-os na missão. Eles ficavam admirados com os sinais que realizavam
em nome de Jesus e com a força do Espírito. Este os mantinha no amor e na
fidelidade até as últimas consequências. E o povo se alegrava e por meio dos
apóstolos sentiam a presença de Jesus nas comunidades.
Era
bonito de ver, mulheres e homens, pessoas simples do povo, despertando a
esperança nos corações dos aflitos e atribulados, libertando-os da mentira, da
ilusão e de tudo aquilo que tira a beleza da vida humana. Os apóstolos
ensinavam o mandamento de Jesus: o amor que se manifesta no perdão, na
acolhida, na solidariedade, na partilha, na alegria, no encontro e nos gestos
transformadores da vida dos pobres.
O
Espírito os guiava na empreitada e os encorajava diante dos opositores da
missão. O número dos discípulos de Jesus aumentava diuturnamente e a fidelidade
os levava ao martírio. Assim, alcançavam a vida plena porque lavavam suas
vestes no sangue do Cordeiro.
O
Espírito na Igreja medieval e moderna
Após um período
intenso de muita perseguição, a proposta de Jesus foi se institucionalizando e
tomou um rosto religioso. Jesus abriu o caminho e inaugurou o Reino de Deus, e
com o passar do tempo, especialmente no período medieval, posterior à
experiência eremítica dos Padres do deserto, a Igreja foi se transformando em
uma instituição muito poderosa: conquistou um patrimônio material incalculável
e durante séculos praticamente dominava o mundo, juntamente com os reis e
imperadores.
Durante
séculos, o Espírito foi totalmente esquecido e excluído da centralidade da vida
da Igreja. Esta preferiu o poder, o prestígio e a riqueza, que até os dias
atuais são motivos de escândalo e confusão.
No séc. XIII apareceu um sinal do Espírito para a
conversão da Igreja, mas esta não lhe deu ouvidos. Apareceu São Francisco, em
Assis, Itália. Francisco lembrou que a Igreja deve ser pobre, entre os pobres e
para os pobres. Seu testemunho foi reconhecido e ele foi canonizado, mas a
Igreja se recusou a praticar o mandamento de Jesus tão eloquentemente lembrado
pelo pobre de Assis.
No
séc. XVI apareceu outro sinal: Lutero se insurgiu contra os abusos da Igreja e
a partir daí surgiram outras experiências religiosas, que obrigaram a Igreja a
reconhecer a diversidade religiosa e a fazer uma reforma em suas posturas. Após
o Concílio de Trento, no séc. XVI até o séc. XX, a Igreja teve que enfrentar as
novidades oriundas de um novo tempo da história: os desafios propostos pela
modernidade.
Os
papas deste período não se cansaram de amaldiçoar a modernidade e seus
inventos. No séc. XX, após a morte do grande Pio XII, apareceu outro sinal do
Espírito: chegou à cadeira petrina, em Roma, o “Papa bom”, São João XXIII. Humilde
e discretamente, convocou a maior reforma da história da Igreja: o Concílio
Ecumênico Vaticano II.
Cardeais
e outros grandes na Igreja se perguntavam: de onde ele tirou essa ideia maluca?
Um concílio para quê? Como vamos fazer isso? Qual será o resultado dessa
maluquice?... São João XXIII convocou, no concílio tomou parte, deu as
diretrizes, abençoou a todos e se foi!... Corajosamente, veio o papa Paulo VI e
o concluiu, festivamente.
E agora, no início do séc. XXI apareceu outro sinal, que tem
se manifestado diante de todos: um latino-americano chega à cadeira petrina. Seu
nome é, corajosa e profeticamente, Francisco! Um pobre argentino em meio a
lobos ferozes, que lutam dia e noite para desmoralizá-lo e impedir a missão que
ele terá que cumprir antes de partir.
O
Espírito está se manifestando, falando às Igrejas; está mostrando o caminho,
apontando para o essencial: o Reino de Deus. As mentes e os corações mais
sensíveis, que também contam com a mesma iluminação, logo percebem que,
verdadeiramente, o Espírito não abandonou a Igreja Povo de Deus.
Ao
Espírito não interessa a salvação das estruturas criadas pela sede de poder,
mas interessa a salvação das pessoas, especialmente daquelas mais sofridas e
vulneráveis, que constituem a carne de Cristo. O que ocorrerá após a partida de
Francisco? Ninguém sabe, somente o Espírito do Senhor que, amorosamente, não
abandona o povo de Deus em sua peregrinação rumo à plenitude do Reino.
O
Espírito nos pobres e sua relação com a religião
Durante toda a história,
os pobres só tem a Deus como refúgio. À luz do evangelho de Jesus são os filhos
prediletos de Deus. O Espírito é a força dos pobres em suas lutas por
libertação. É aquele que os ajuda, cotidianamente, a permanecerem firmes na
caminhada. O poder opressor cada vez mais forte e refinado não lhes dar
sossego, mas Deus, em sua infinita sabedoria e bondade, não se cansa de amar e
conceder forças aos seus filhos e filhas.
A
vida dos pobres e sua persistência são testemunhos vivos da graça de Deus. Por
meio da fé em Jesus, os pobres não se deixam levar pelo desespero, mas o
Espírito lhes concede o dom da esperança, que se manifesta na espera ativa. Quer
aceitemos, quer não, na dinâmica divina, o Reino acontece a partir dos pobres
porque esta foi a escolha divina. Deus quis se manifestar a partir dos pequenos
e pobres e no Reino estes ocuparão o primeiro lugar.
Isto deixa claro o sentido da opção que a Igreja é
chamada a fazer pelos pobres. O Espírito aponta para os pobres. Se quiser se
colocar no caminho de Jesus, a Igreja precisa obedecer ao Espírito. E o que
este mandar fazer é: Ide aos pobres!
As
ladainhas, as orações, as invocações, as festas e tudo o que a Igreja faz com
relação ao reconhecimento da presença do Espírito somente são atos válidos se promovem
o encontro com os pobres. Os dons do Espírito existem em função do serviço.
Fora deste, todas as liturgias perdem seu sentido, transformando-se em teatro
para a satisfação do ego de seus celebrantes.
O
Espírito promove o encontro com a face sofrida do outro. Se este é evitado e
excluído, então não há presença do Espírito, mas apenas aparência de presença. O
Espírito se revela plenamente presente quando acontece o encontro solidário
entre as pessoas que procuram viver no amor.
Consideremos, finalmente, o agir do Espírito na pessoa do
crente. Ele é livre e libertador, não está preso a nada, nem a ninguém. É dom e
não é comprado nem conquistado. Encontra-se no mundo, recriando todas as
coisas. Acompanha a marcha da história, revelando e fazendo acontecer o Reino.
Inspira e faz surgir mulheres e homens cheios do amor de Deus e da perfeita
alegria.
O
Espírito não é religioso, não é propriedade de nenhuma religião. Batiza aquelas
pessoas abertas e disponíveis para a missão. Age com discrição e no silêncio.
Não satisfaz os desejos de ninguém. Ilumina gratuitamente o pecador e repudia o
puritanismo. É Deus agindo a partir de dentro de cada pessoa, fazendo-a
conhecer-se cada vez mais, levando-a a entregar-se ao amor, salvando-a por todo
o sempre. Pentecostes é a celebração deste Espírito libertador, invisível aos
olhos da carne, visível aos olhos da fé e à linguagem do amor. É nossa vida e
nosso tudo. É reconciliação e paz.
Tiago de França
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2014
“Acaso Cristo está dividido?” (1 Cor
1, 13)
Anualmente, na semana que antecede a festa de
Pentecostes, os cristãos são chamados a rezar pela unidade cristã. Neste ano, o
tema é sugestivo. Trata-se de uma indagação levantada pelo apóstolo Paulo
quando escreveu aos cristãos de Corinto, reclamando da divisão que estava
ocorrendo entre eles (cf. 1 Cor 1, 1 – 17).
Infelizmente,
nas comunidades cristãs há o escândalo das divisões. Realidade antievangélica
que precisa ser enfrentada com criatividade, oração e posturas ousadas. Jesus não
aceitou que seus seguidores causassem escândalos, pois estes destroem a
comunidade. Em um mundo marcado pelas divisões e pelas diversas formas de
violência, a religião cristã precisa trabalhar incansavelmente para a
construção da unidade e da paz.
Nenhuma
forma de violência em nome de Deus é legítima. O Deus e Pai de Jesus é amoroso,
misericordioso e acolhedor da pluralidade das manifestações religiosas. Todas possuem
a presença amorosa de Deus porque esta presença ultrapassa as fronteiras
criadas pelas crenças, oriundas da criatividade e do desejo humano de entrar em
comunhão com o sagrado. Agora vamos pensar a questão apresentada pelo apóstolo
Paulo a partir de alguns pontos que julgamos fundamentais para a construção da
unidade cristã.
A
origem das divisões
Muito se pode
falar do triste e vergonhoso fenômeno das divisões entre os cristãos. Os estudiosos
apreciam o tema a partir de diversos pontos de vista. Aqui não é o lugar para
delineá-los com afinco científico, mas queremos, brevemente, apresentar o que
consideramos o núcleo fundamental que forma a preocupação partilhada por todos.
O
que está por trás ou, melhor dizendo, o que motiva tais divisões é o apego às
crenças. Toda forma de apego é prejudicial e o apego às crenças parece
ser um dos mais nocivos ao ser humano. O cristão fundamentalista, caracterizado
pelo seu apego às crenças, é capaz de desrespeitar e até de tirar a vida de
outra pessoa.
O apego cega as pessoas, e uma pessoa cega não enxerga a
realidade. Aqui estamos falamos da cegueira da consciência. O crente cego é
aquele que acredita que, fazendo o mal, está fazendo bem. Este crente independe
de denominação religiosa. As crenças não são criações divinas, mas humanas. Portanto,
não são verdades absolutas, nem podem ser impostas às pessoas.
Nenhuma
religião pode, em nome de Deus, impor suas crenças às pessoas. Infelizmente, há
essa tendência. É possível o convencimento, mas é desrespeitosa toda forma de
imposição. Crenças impostas perdem seu valor e seu sentido, e se transformam em
fardos pesados, motivando escândalos nas comunidades cristãs.
Jesus
não propôs crença alguma, mas apenas abriu um caminho, o caminho da justiça do
Reino de Deus que se desdobra no amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo. Ensinou a viver a religião na liberdade dos filhos e filhas de
Deus. Ele era judeu e assim procedeu. Era plenamente livre em relação à religião
judaica.
Religião,
Palavra e vida
Em matéria de práticas
religiosas, o escândalo se revela na incoerência que há entre fé e vida. Infelizmente,
não é pequeno o número daqueles crentes que se encontram em uma profunda
contradição. Neste sentido, a fé não reflete na vida.
Há
uma radical separação entre fé e vida. Isto é demasiadamente perigoso. Não há
autêntica fé sem ligação com a vida, pois esta é o lugar onde aquela nasce e se
desenvolve. Na vida se transparece a fé que se julga ter. Em outras palavras,
através da vida do crente se conhece a fé que ele possui.
A Palavra de Deus está na vida e na boca do crente. Primeiro
naquela, depois nesta. Assim, precisa haver coerência, sintonia e harmonia entre
o que se vive e o que se crê. Se as pessoas parassem para pensar na íntima
relação entre fé e vida, e procurassem se converter, certamente o mundo seria
melhor.
Este
mundo está povoado por crenças e por crentes. Isto nos obriga a perguntar: por
que, então, este mundo se torna cada vez pior, frio e perigoso?... Qual a
contribuição que o Cristianismo está dando para a construção da justiça e da
paz mundiais?... Esta contribuição é, certamente, inerente ao modo de ser e de
viver de cada crente.
Liberdade,
abertura e pluralidade
A fim de que cessem os conflitos e as divisões, as
Igrejas cristãs precisam cada vez mais de cristãos que cultivem a liberdade. O medo
da liberdade sempre atrapalhou a vida cristã. Na carta aos Gálatas, o apóstolo
Paulo nos ensina que foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Pois bem, os
inimigos da liberdade o são de Cristo Jesus. Fora da liberdade não há como
conhecer o caminho de Jesus, caminho que conduz a Deus.
Somente os cristãos livres conseguem construir uma
humanidade nova e livre, e nas sábias palavras do venerável teólogo José
Comblin, “uma humanidade livre é uma
humanidade que se deixa interpelar por todas as pessoas que não lhe oferecem
nenhum interesse, nenhum valor, que não oferecem nenhum poder novo, nenhuma
garantia, mas apenas riscos e ameaças de perturbação” (J. Comblin, in A liberdade cristã, Paulus, 2009, p.
131). Livres para agir conforme a prática de Jesus.
Cristãos livres são pessoas abertas à novidade que brota
da ação do Espírito no mundo. Sem liberdade e sem abertura não há como
descobrir a ação amorosa de Deus. Este se transforma em enigma, realidade
oculta que tende à mera satisfação da curiosidade humana, mas Deus é vida, é
presença humilde, discreta e transformadora.
O
novo nos desafia, nos interpela, orienta-nos para a acolhida do diferente. Somente
pessoas livres e abertas conseguem entrar em comunhão com a diversidade
religiosa presente no mundo; conseguem enxergar a presença divina em todas as
denominações religiosas; conseguem, enfim, celebrar a fé sem discriminações,
sem apegos e sem proselitismo.
Em nome de Jesus, pedimos e exortamos, com a autoridade
que as Escrituras Sagradas nos conferem: se tuas práticas religiosas te afastam das
pessoas e te transformam negativamente, isolando-te no conformismo e na indiferença,
liberta-te de tais práticas, se queres tomar parte no Reino de Deus.
Tiago de França
domingo, 1 de junho de 2014
Ascensão de Jesus
“Ide
e fazei discípulos meus todos os povos” (Mt 28, 19).
Uns afirmam que Jesus subiu, literalmente, ao céu, de
corpo e alma. Outros, porém, dizem que não. Os primeiros ficam com a letra, os
segundos ficam com seu sentido teológico. A meu ver, parece que não é de suma
importância contemplar um grupo de discípulos olhando Jesus subindo e
desaparecendo entre as nuvens.
Isto
é um espetáculo que nossa fértil imaginação se regozija em realizar. A ascensão
de Jesus é outra coisa, é algo que ultrapassa as especulações da imaginação e
da mente. Ascensão é subida, é crescimento, que ocorre em um movimento inverso
daquilo que costumeiramente julgamos compreender: ascensão é descida na subida.
As Igrejas e os crentes neste dia de celebração da ascensão,
certamente falarão do senhorio de Jesus. Não ouso afirmar que Jesus não é o
Senhor, mas prefiro acreditar que ele não procurava se colocar como o Senhor.
Heresia? Decida o leitor como quiser. Penso que senhorio parece ser algo
demasiadamente forte para um servo sofredor.
Que
estou querendo dizer? Se Jesus é o Senhor, então somos convidados a crer em um
Senhor servo. Humanamente, parece contraditório, não?! Neste mundo os senhores
são homens de poder e domínio, que desejam ser servidos. Possuem prestígio,
poder e riqueza. Jesus é o Senhor que não tem prestígio, nem riqueza, nem
poder. Ele não domina nada, nem ninguém.
Assim, cai por terra a velha e desgastada imagem que
muitos criam a respeito do senhorio de Jesus: a de um Deus todo-poderoso! Jesus
não pode nada. Ele está disposto a frustrar aqueles que o procuram para a
realização de seus sonhos, fantasias e desejos. Ele não se presta a estas
satisfações.
Para
tais realizações há o prestígio, a riqueza e o poder. Por isso, caro leitor, se
você procura estas coisas, não as procure em Jesus. Ele não tem nenhuma delas
para oferecer a quem quer que seja. Jesus nos recomenda o caminho do amor que
nos liberta. Este é o tesouro que ele tem a nos oferecer. Esta foi a sua
experiência. O caminho está aberto. Se quisermos, podemos segui-lo, mas para
isto é preciso corresponder à exigência fundamental do caminho aberto por ele:
arriscar-se a viver por amor.
Isto é descida na subida: arriscar-se a viver por amor.
Se assim procedermos, experimentamos o que muitos chamam de renovação
espiritual. De modo geral, o conteúdo desta renovação é desconhecido pela
maioria daqueles que julgam tê-la experimentado. A maioria experimenta, mas não
se renova. É estranha tal afirmação, não?! É isso, infelizmente, que ocorre.
Em
Jesus, as pessoas querem subir, triunfar, alcançar a vitória, glorificarem-se,
brilhar... Isto parece bom, não?! Parece, mas por trás destas palavras se
escondem desejos meramente humanos de glória e de triunfo. A mesma glória
oferecida pelo poder, pelo prestígio e pela riqueza. As pessoas querem triunfar
neste mundo em nome de Jesus! Caso consigam, devem saber que Jesus estava longe
de todas elas. Ele não é oportunidade para o triunfo de quem quer que seja.
Há ainda algo a ser dito, algo ainda mais extraordinário
que a ascensão revela: Jesus não sobe ao céu, ele desce e permanece no coração
das pessoas e as convida para ousarem este movimento sagrado e revelador de
descida para o mais profundo de si mesmas. Jesus quer fazer conosco o caminho
de descida para aquele mergulho necessário, intenso e revelador da presença de
Deus em nós.
Poucas
pessoas se dispõem a esta ascensão. Há medo e resistência, e muita vontade de
permanecer na inércia de si mesmas. Jesus nada pode fazer diante da
indisposição das pessoas. Estas tem plena liberdade diante dele. Jesus nada
impõe, apenas propõe. É o Senhor servo que quer somente nos acompanhar, nos
alumiar com sua luz, dando-nos força para o esplendoroso encontro com a vida e
com a liberdade.
Descer da montanha e ver a vida como ela é. Tocá-la com
as mãos quentes e frias e enxergá-la com o sorriso da alegria. Vê-la com os
olhos da fé. Tê-la na palma da mão e senti-la com o coração. Permanecer diante
de si, dos outros e de Deus na total disponibilidade, com mãos estendidas e pés
firmes no chão rachado pelo sol da vida.
São
coisas conhecidas por quem vive, cotidianamente, a experiência de permanecer
com Jesus, conhecendo sempre mais os becos e vielas do seu caminho, no encontro
caloroso dos que se apertam para ir escapando noite e dia, na luta constante
por um mundo melhor. Isto é ascensão. Isto é páscoa. Isto é fazer com que todos
os povos se tornem, no amor e na liberdade, discípulos de Jesus, o Senhor
servo, amante da vida e de todos os pecadores.
Tiago de França
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