A pandemia está revelando o nível de
consciência e responsabilidade das pessoas. A cultura negacionista é assimilada
por inúmeros brasileiros: alguns negam a existência da pandemia, da mesma forma
que negam que existiu a ditadura militar no Brasil; outros negam a eficácia das
vacinas contra a Covid-19, recusando-se a se vacinar e influenciando outros a
fazerem o mesmo. Nestes dias, por ocasião da celebração do Natal e da virada de
ano, muitas pessoas estão se aglomerando, expondo-se ao vírus; e assim a
pandemia vai se estendendo e se agravando, ceifando inúmeras vidas.
A política e a economia também foram
afetadas pela pandemia. Nos EUA, Donald Trump caiu, e renovou a esperança de
dias melhores para os norteamericanos. O presidente eleito parece mais sensato,
sensível e aberto à diversidade das culturas e a um jeito mais decente de fazer
política. A democracia daquele país saiu fortalecida das eleições deste ano. No
Brasil, a maioria dos eleitores optou pela moderação. Aos poucos e com muito
sofrimento, parcela dos brasileiros está descobrindo que os radicalismos, o
conservadorismo e o falso moralismo destroem a democracia e geram uma sociedade
escandalosamente intolerante, preconceituosa e condenada ao fracasso.
Economicamente, o real segue sendo
desvalorizado; os preços dos alimentos aumentam cada vez mais; o desemprego atingiu
mais de 14 milhões de pessoas; o endividamento das empresas atingiu recorde de
60,5% do Produto Interno Bruto; nos últimos quatro anos, segundo o IBGE, o
Brasil fechou mais de 316 mil empresas; os preços dos combustíveis continuam
subindo; enfim, a pandemia piorou a situação econômica que já estava ruim. Com o
fim do auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso Nacional, a tendência é
piorar. O auxílio reduziu a pobreza em 23%. Isso significa que o seu término
aumentará o nível de pobreza. Em 2019, o país alcançou recorde de 13,5 milhões
de miseráveis.
Essa é a nossa situação. Contra as
estatísticas não há ideologia que possa criar outra realidade. A violência dos
discursos possui a finalidade de esconder a realidade. Não é possível esconder
o número crescente das vítimas do feminicídio, do racismo, da violência
policial, do tráfico de drogas e do crime organizado, das milícias e da
corrupção sistêmica. Esta permanece avassaladora, na política e na sociedade. Essa
realidade não é transitória nem acidental, mas permanente e, em muitos
aspectos, integra projetos de poder pensados e implementados por gente
criminosa, detentora do poder político e econômico. A situação do Brasil
retrata fielmente o poder da elite econômica que controla a economia e a política.
Mas a esperança permanece viva em
muitos corações. Aos que professam a fé em Jesus, é preciso recordar esta
palavra do apóstolo Paulo: “A esperança
não decepciona, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Essa esperança nos impulsiona na
caminhada da vida, e o amor de Deus nos sustenta. Assim, pacientes e
perseverantes, praticando a justiça e o amor, somos capazes de suportar e
vencer esse momento sombrio da história da humanidade. É necessário despertar.
No amor somos fortes e vencedores. Livres
da indiferença e firmes na solidariedade, tudo podemos superar. O Senhor
permanece conosco e nos ajuda na travessia.
Feliz
Ano Novo!