sábado, 21 de novembro de 2020

Jesus: rei compassivo

 


“Vinde, benditos do meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo” (Mt 25,34).

            Jesus, o Filho do Homem, virá em sua glória para exercer o julgamento. Mas ninguém precisa sentir medo, porque o julgamento será nos termos da lei do amor (cf. Mt 5,31-46). Longe de qualquer espírito de vingança e crueldade, Jesus é um juiz justo e compassivo, conhecedor da condição humana, porque a viveu, intensa e plenamente. Portanto, seremos julgados por alguém que participou da nossa condição. Jesus sabe do que somos feitos.

            É verdade que não se pode tomar o texto de Mateus, acima referenciado, ao pé da letra, no sentido de pensar que o juízo final será tal como o texto apresenta. O mais importante é prestar atenção às exigências que Jesus, o rei compassivo, faz ao acolher as ovelhas do rebanho do Senhor, que ficarão à direita do trono. Os benditos do Pai de Jesus são todos aqueles que praticam a lei do amor: os que dão comida aos famintos, que matam a sede dos sedentos, que recebem o estrangeiro, que vestem os nus, que cuidam dos doentes e os que visitam os encarcerados. Os que vivem nessas e em tantas outras situações de necessidade são chamados de meus irmãos mais pequeninos.

            Aqui já é possível uma séria avaliação da consciência para saber se estamos ou não servindo a esses irmãos mais pequeninos de Jesus. No texto, ele fala que tudo o que fazemos a estes irmãos é a ele que fazemos. Ou seja, o rei compassivo é um desses irmãos. Ninguém pode mudar isso. Não adianta o líder religioso pregar na Igreja que Jesus é todo-poderoso, um rei triunfante, como os reis humanos. Tal imagem de Jesus é incompatível com o Evangelho, porque ele é um irmão pequenino. Quer aceitemos, quer não, ele é assim.

            Também é possível que cada cristão cuide em rever, se for o caso, a imagem que tem de Jesus. Se ele é rei compassivo, identificado nos irmãos menores, desprovidos de poder humano, então é necessário aceitá-lo e acolhê-lo nesses irmãos menores. Do contrário, no julgamento, ouviremos a seguinte sentença: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos. Todo aquele que se fecha em si mesmo, permitindo-se dominar pelo egoísmo, buscando somente a satisfação dos próprios interesses, não será acolhido no Reino, preparado desde a fundação do mundo para aqueles que viveram neste mundo a lei do amor.

            Olhando para o mundo atual, encontramos tanto individualismo e indiferença. Com a máxima urgência, o discípulo de Jesus precisa livrar-se desses males que podem ser a causa de sua perdição eterna. Os egoístas não entrarão no Reino de Deus. Por mais religiosa que seja uma pessoa, mas se não se libertar do egoísmo, não entrará no Reino de Deus. Jesus, o rei compassivo, no juízo final, não perguntará sobre o grau de religiosidade das pessoas, mas acolherá aquelas que viveram conforme o amor. Mas não um amor de palavras, mas de gestos concretos. Os que fecham os olhos para a necessidade dos outros não poderão participar do Reino de Deus.

            Alguém poderia perguntar: se é o amor que salva, para que serve, então, religião? Certamente, não é Deus que precisa de religião, mas nós, humanos. As doutrinas, ritos, normas etc., servem para manter o discípulo de Jesus no caminho do serviço aos irmãos. A religião tem a missão de congregar as pessoas, de reuni-las para celebrar o mistério do amor. Também é missão da religião ajudar a mantê-las unidas no propósito de viver conforme o amor.

Por meio dela, o cristão aprende que ninguém é salvo afastado dos outros, mas vivendo o amor em comunidade, porque é da natureza desse amor promover o encontro entre as pessoas; encontro permanente, nunca ocasional. As pessoas devem se encontrar para permanecerem no amor. Se a religião não servir a este propósito, então não passa de uma pedra de tropeço na caminha dos discípulos de Cristo, rei compassivo. É na comunidade cristã que o discípulo do rei compassivo aprende o significado da compaixão, vivendo uma vida cheia de sentido e alegria, porque descobriu, na prática, os sentimentos que conduziam Jesus na direção dos famintos, sedentos, nus, enfermos, migrantes, pecadores etc.

Por fim, cabe-nos citar a exortação do apóstolo Tiago, que diz: Com efeito, a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo. Esses órfãos e viúvas representam todos os irmãos menores de Jesus, e o discípulo sabe onde eles se encontram. A religião precisa tornar as pessoas sensíveis às causas que promovem e cuidam desses irmãos; do contrário, por mais belas que sejam as nossas liturgias, nenhuma delas agradarão ao Pai celestial se não forem acompanhadas do testemunho do amor fraterno. Nestes tempos de pandemia do novo coronavírus, onde estão os irmãos mais pequeninos de Jesus? Procuramos viver em comunhão com eles, ou lhes fechamos os olhos?...

Tiago de França

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