domingo, 22 de maio de 2011

Jesus de Nazaré: caminho, verdade e vida


“Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também” (Jo 14, 1).

No texto evangélico deste V Domingo da Páscoa (cf. Jo 14, 1 – 12), Jesus se apresenta como o caminho, a verdade e vida. São Pedro afirma que ele é também “Senhor, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus” (cf. 2ª leitura: 1 Pd 2, 4 – 9). Qual o significado destas palavras para nós hoje? Em At 6, 1 – 7 (1ª leitura), Lucas faz referência à importância da oração, da pregação da palavra de Deus e do serviço às mesas como anúncio, que leva à aceitação da fé em Cristo Jesus. Meditemos, pois, sobre as implicações práticas do anúncio de Cristo enquanto caminho, verdade e vida.

“Não se perturbe o vosso coração”

Desde quando revelou aos discípulos que iria morrer na cruz, Jesus falou de seu retorno para o Pai. Isto não significa que Jesus abandonou seus discípulos. Ele assegura-lhes a preparação de um lugar, “a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós”. Jesus está unido aos seus seguidores e às comunidades cristãs fundadas por eles. Quando estamos com ele, não devemos ficar perturbados, pois o ressuscitado é a segurança de nossas vidas. Contra toda perturbação Jesus exige fé em Deus e nele, e assegura também que no Reino do Pai há lugar para todos.

Num mundo no qual as pessoas estão cada vez mais individualistas e materialistas, as dificuldades que enfrentamos para sobreviver tornam-se maiores e têm levado muita gente ao desespero. Não é pequeno o número daqueles que perdem a esperança num mundo melhor. Multiplicam-se as que desistem de viver. Depressões, nervosismo, impaciência, intolerância e perturbações de toda ordem tornaram-se problemas comuns em nossos dias. Quase ninguém reserva tempo para o silêncio que leva à autoescuta de si mesmo. Isto explica a verdade de que o desconhecimento do outro passa pelo autodesconhecimento de si mesmo. Se não me interesso pela construção de uma vida pessoal autêntica, como vou me interessar pelo bem do outro?...

Jesus é o caminho

Quando disse aos discípulos que eles sabiam para onde iria, eles logo responderam: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Estas palavras são sinceras. De fato, eles não estavam entendendo nada. Jesus continuava sendo um mistério para eles; não sabiam quem era Jesus, nem de onde veio nem para onde iria. Até hoje, há pessoas que estudam a vida de Jesus, mas não sabe quem ele é. Ninguém consegue conhecer verdadeiramente Jesus através da Cristologia, mas somente através da experiência da adesão à pessoa dele. Aderi-lo é segui-lo.

Para seguir Jesus há um caminho e tal caminho é ele mesmo. Compreender esta verdade é fundamental para o cristão e para a vida da Igreja. Jesus é o caminho que leva ao Pai: “Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Para construir o Reino de Deus, a pessoa precisa seguir Jesus e para seguir alguém precisamos trilhar um caminho, pois não se caminha no vácuo. Somos peregrinos neste mundo, mundo de caminhos e descaminhos. Caminhar no caminho que é Jesus significa conhecê-lo, porque para chegarmos aonde queremos precisamos conhecer o caminho.

Eis uma questão fundamental: Aonde queremos chegar? Se quisermos construir o Reino do Pai, se desejamos pertencer a este Reino e nele nos encontrarmos com o Pai, só há um caminho que nos leva com toda a segurança: Jesus de Nazaré, o Messias. As riquezas, o prestígio, o poder, a ciência, a sabedoria deste mundo etc.: Nenhuma destas coisas é o caminho, mas somente Jesus de Nazaré. O mesmo se pode afirmar da Igreja: esta não é o caminho que leva ao Pai, mas instrumento que pode ser encontrado no caminho. O caminho não é propriedade exclusiva de nenhuma das Igrejas cristãs. A missão da Igreja é ajudar as pessoas a caminhar em Jesus de Nazaré, sendo que ela mesma deve ser a primeira a se colocar no caminho.

Quem procura levar uma vida conforme o Evangelho de Jesus, certamente, está no caminho. No Evangelho se encontra a norma que deve orientar a vida daquele que se colocar no caminho: o amor. Por isso, podemos afirmar que quem ama de verdade está no caminho. O Evangelho é Jesus, Jesus é Deus e Deus é amor: eis o caminho que leva à vida plena. Dentro e fora da Igreja podemos encontrar descaminhos: pessoas e ocasiões que podem nos desviar de Jesus. Se nos deixarmos guiar pelo Espírito que faz brotar em nós o amor, jamais nos afastaremos daquele que é o caminho que leva ao Pai.

O Evangelho revela que Jesus de Nazaré representa um risco muito grande para seu discípulo. Segui-lo pressupõe o comprometimento da própria vida. Tal comprometimento até as últimas conseqüências leva ao martírio, gesto supremo da doação da vida no caminho: eis o motivo pelo qual a maioria das pessoas se recusa a seguir Jesus de Nazaré. Decisão, maturidade, consciência, coragem, disponibilidade, doação e profecia: são algumas das exigências para se colocar no caminho.

Jesus é a verdade

Num outro trecho do Evangelho segundo João, Jesus afirma: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32). Acreditar que Jesus é a verdade significa viver com autenticidade. Ele é a verdade que liberta integralmente o ser humano. Viver segundo a verdade é um desafio possível, mesmo em meio a uma sociedade que prega a mentira e a confusão. O cristão é chamado a ser luz em meio às trevas da mentira que reinam neste mundo. A verdade põe um fim na mentira e desmascara o mentiroso.

Na vida da Igreja, encontramos o testemunho das profetisas e dos profetas: mulheres e homens portadores da verdade do Evangelho. A profecia não é uma verdade humana, mas a verdade evangélica dita através de pessoas humanas para a vida do mundo. Os profetas e profetisas são pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito Santo, que ousam anunciar o Evangelho de Jesus de Nazaré em meio às estruturas opressoras do mundo; são livres porque só obedecem ao que o Espírito diz e pede, seu testemunho é de liberdade e verdade.

Jesus é a vida

Jesus foi enviado para nos conceder a vida. Nele está escondida a nossa vida. Acreditar que Jesus é a vida significa comprometer-se com a defesa e a promoção da vida. No Evangelho encontramos Jesus vivendo no meio das pessoas marginalizadas, pessoas que tinham a vida ameaçada e tirada. O Pai enviou Jesus ao mundo porque quis restituir a vida ao ser humano. Por isso, Jesus se colocou do lado dos empobrecidos, opondo-se a toda forma de exploração do ser humano. Ao entregar-se na cruz, num gesto de fidelidade até o fim, e ao ressurgir dentre os mortos, em Cristo o Pai concede-nos vida plena. Sendo caminho, verdade e vida, Jesus revelou o Pai ao mundo.

Mais do que em outras épocas, a vida se encontra gravemente ameaçada. Não somente a vida do ser humano, mas também a vida do planeta. Assim, o cristão e a Igreja precisam fazer uma opção clara e efetiva pela vida que está sendo agredida e extinta. Mais do que constatações e denúncias contra a exploração do homem e do planeta, se faz necessário somar forças com pessoas e organizações numa luta efetiva contra a morte do planeta e, consequemente, contra a morte do ser humano e de toda a criação.

Neste sentido, há um exemplo a ser citado e reconhecido no Brasil: a luta de Dom Erwin Kräutler e das comunidades indígenas contra a construção da usina hidroelétrica de Belo Monte, em Xingu – PA. Trata-se de uma luta profundamente evangélica porque visa à defesa da vida de tantos irmãos e irmãs indefesos. Em meio a uma terra onde a lei é a do mais forte, este Bispo da Igreja tem sido a voz dos sem voz. A experiência missionária de Dom Erwin Kräutler fala profeticamente para a Igreja que sofre com as tendências à recessão e com o abandono da profecia.

Hoje, Domingo (22 de maio), a Irmã Dulce, o “Anjo bom da Bahia”, foi beatificada em Salvador – BA, onde serviu a Deus. Qual o significado desta beatificação para a Igreja no Brasil? A Irmã Dulce manifestou a maior virtude que torna uma pessoa santa aos olhos de Deus e do mundo: o amor afetivo e efetivo para com os pobres.

A Igreja deve aprender com a Irmã Dulce a se colocar no caminho de Jesus: ocupar o lugar dos últimos assumindo, assim, as suas dores e dilemas. O “Anjo bom da Bahia” nos ensina que Jesus precisa ser amado nos pobres. Venerá-la significa se colocar no caminho que ela se colocou: o caminho da prática do amor aos últimos. A Igreja precisa reaprender com a Irmã Dulce o autêntico sentido da santidade: amor traduzido na doação da própria vida. Concluo esta reflexão com um dos pensamentos da Bem-aventurada Dulce dos Pobres: “O bem ao próximo tem mais valor quando operado em silêncio e com a consciência de que todo o bem que podemos proporcionar é por graça e vontade de Deus”.


Tiago de França

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