sábado, 10 de dezembro de 2011

Ser testemunha de Jesus


“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu, enviou para dar a boa-nova aos humildes” (Is 61, 1).

Ser testemunha de Jesus: eis o chamado de Deus para o ser humano. O que significa ser testemunha de Jesus? O texto evangélico deste III Domingo do Advento (cf. Jo 1, 6 – 8.19 – 28) nos mostra a figura do profeta João Batista, aquele que “veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”.

É o Espírito de Deus que suscita no mundo e na Igreja as testemunhas de Jesus de Nazaré, e para testemunhá-lo é preciso se colocar no seu caminho, caminho estreito, pedregoso e perigoso. Toda testemunha de Jesus age ungida e/ou inspirada pelo Espírito, portanto, não fala de si mesma nem para si mesma. A testemunha de Cristo existe em função da adesão ao projeto libertador de Jesus, em função do Reino de Deus. Ter fé em Jesus é aderir seu projeto. Não adianta o contrário: engana-se quem afirma ter fé em Jesus, mas se recusa a ser operário de sua vinha. Quem assim procede não tem fé, mas vive iludindo-se.

João Batista foi enviado ao mundo por causa de Jesus, veio dizer para as pessoas que o Messias estava chegando, e o disse com toda verdade e liberdade. Como Jesus, era um homem do deserto, ou seja, livre para ajudar na libertação de quem quisesse seguir o cordeiro de Deus. Sua liberdade o levou ao martírio. Com sua morte, mostrou que o caminho de Jesus é o da libertação integral e plena, vida abundante para todos. Era homem da palavra e do gesto fundamentados na verdade e na liberdade: características do autêntico profeta do Senhor.

“Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis, e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias”. Com estas palavras, João Batista reconhece e fala de sua missão. Antes delas, ele afirmou ser apenas uma voz. Não era a voz, mas uma voz que não falava de si mesmo, mas apontava para o verdadeiro Messias, o Cristo. Este estava no meio do povo, misturado com os pecadores, à espera do batismo. Ambos eram homens que estavam no meio da gente pobre, misturados com os pecadores, sinais de contradição para muitos em Israel, especialmente para os líderes da religião oficial.

João Batista é um modelo de pessoa que escuta a voz do Espírito do Senhor e se entrega à missão profética. Trata-se de um chamado universal, que é para todos, mas nem todos estão dispostos a assumi-lo. A missão profética tem algumas exigências e é profundamente marcada pela humildade, simplicidade, verdade, ousadia, coragem, perseguição, confiança plena na vontade divina e martírio. Estas características tornam o profeta uma pessoa livre, integrada, disposta a dar a vida pelo Reino de Deus. Assim era João Batista.

A profecia é necessária à Igreja, esta não existe sem aquela. Os profetas ajudam a Igreja a converter-se, a colocar-se no caminho de Jesus, a ser, verdadeiramente, instrumento de salvação e não motivo de escândalo e confusão para o mundo. Para testemunhar Jesus, a Igreja precisa escutar o que o Espírito fala por meio dos profetas. Escutá-los é muito difícil porque eles não falam “pela metade”, mas falam a palavra de Deus, que por si mesma é exigente e orienta para a conversão. Eles não ocultam nem manipulam a palavra de Deus, mas a proclamam até as últimas conseqüências.

Por fim, é preciso recordar que os profetas reforçam a esperança dos pobres. Estes, em todas as épocas e lugares, são os que mais sofrem, são as maiores vítimas das injustiças sociais: a corrupção se intensifica; o capitalismo, apesar de convalescente, continua ceifando vidas; a fome continua matando milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente no continente africano; a indiferença e o ódio causam mortes e conflitos entre nações e pessoas; a exploração desmedida da Amazônia assusta, deixa centenas de famílias sem rumo na vida e ameaça a biodiversidade; a Europa está incrédula, perturbada e sem futuro garantido etc. Em meio a tudo isso, os pobres são os mais vulneráveis e, conseqüentemente, os que mais sofrem.

Apesar de tudo, a esperança dos pobres vive! Os profetas são as mulheres e homens que, na Igreja e fora dela, com palavras e gestos que anunciam e denunciam, reforçam a luta dos pobres rumo à libertação plena, que acontecerá no Reino de Deus. Neste, eles têm lugar garantido, porque confiam na promessa do Deus da vida e da liberdade, promessa que garante a felicidade para aqueles que não perderam a esperança num outro mundo possível. Por não perder a esperança, o povo de Deus é um povo que caminha perseverantemente até a volta daquele que proclamou que a vontade de Deus é que o ser humano e toda a criação sejam recriados e tenham vida plena.


Tiago de França

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