Qual é a mensagem de Jesus? Para compreendermos a força dessa mensagem, cremos que é importante sabermos de seu conteúdo. O conteúdo é simples, profundo e libertador. Todo cristão sabe que o amor constitui o centro da mensagem de Jesus. Não se trata, porém, do amor anunciado nos dias de hoje. Geralmente, as pessoas não amam. O que elas chamam de amor é, na verdade, apego.
Qual a diferença entre o amor e o apego? O amor liberta e
o apego escraviza. É muito difícil não cair na tentação do apego. Este se impõe
de forma violenta, sufocando a pessoa e desumanizando-a. Há vários tipos e
níveis de apego. Alguns chegam a ser patológicos. Com muita facilidade as
pessoas tendem a se apegar a coisas, lugares, riquezas, ideias, acontecimentos,
doutrinas, leis etc. Um dos piores apegos é o apego a si mesmo.
Quais são as características da pessoa que tem apego a si
mesma? Trata-se de uma forma sutil de egoísmo. Não estamos falando do amor que
se deve ter a si mesmo, mas de uma forma doentia de autoglorificação. Há um
outro nome para este mal: a egolatria. Os ególatras são autossuficientes, ou
seja, endeusam-se de uma forma que se bastam a si mesmos. Em suas vidas não há
lugar para o amor nem para o outro. A alteridade é algo que desconhecem. O
centro de suas vidas é o próprio eu.
E o amor, por que é tão difícil praticá-lo? Apegar-se é
mais fácil do que amar. Entre acolher uma pessoa do jeito que ela é e
recusar-se a acolhê-la, esta segunda opção é mais cômoda. Isto porque acolher o
outro requer compreensão e esta requer abertura, disponibilidade e
sensibilidade. O amor exige um desarmar-se, um pensar no outro, um colocar-se
no lugar do outro. Isto é alteridade. Apegada a si mesmas, as pessoas são
incapazes disso. Quem vive apegado à própria vida, vive buscando salvar a si
mesmo; portanto, não está interessado em salvar a vida do outro. Jesus
denunciou esse mal quando viveu e pregou o amor.
Onde está, então, o centro da dificuldade? Sair de si
para encontrar-se com e no outro: eis o desafio da alteridade. Discursivamente,
toda pessoa de bom senso sabe da importância deste encontro com o outro, mas,
na prática, a tendência é agir de forma egoísta. Aqui está a explicação para o
mal da indiferença que assola a humanidade. A “globalização da indiferença”
(expressão do papa Francisco) tem tomado o mundo, e é algo tão forte que se
transformou numa cultura; cultura reproduzida consciente e inconscientemente
por milhões de pessoas em todo o mundo. Ser indiferente se tornou algo normal e
aceitável.
Como vencer o mal da indiferença para construirmos uma
nova humanidade? O caminho é simples e exigente. O caminho é o que foi proposto
por Jesus: Amar sem medida e
incondicionalmente. Podemos orar, fazer jejum, doar donativos, ir aos
templos religiosos, fazer penitência, confessar os pecados, reivindicar os
direitos e denunciar as injustiças, entre tantas outras ações louváveis, dentro
e fora da religião; mas todas estas coisas devem ser feitas com e por amor. Sem
o amor, todas se transformam em vaidade humana, em puro “mundanismo” (expressão
do papa Francisco).
Qual o mal que tem afetado as Igrejas cristãs? A falta de
amor entre os cristãos é de causar vergonha, é algo deplorável. Há uma
expressão que traduz desse mal: Hipocrisia religiosa. Já no seu tempo Jesus
denunciou este mal. Ele não tolerou mulheres e homens hipócritas,
principalmente os de dentro da religião.
Dentre
muitos conceitos, a hipocrisia religiosa é o uso malicioso da religião para
esconder das pessoas os próprios limites e defeitos, assim como para
explorá-las, aproveitando-se de sua inocência e ingenuidade. O hipócrita
costuma se servir de discursos moralistas: Fala de uma moral que não pratica,
jogando nas costas dos outros um fardo insuportável. A mensagem do amor não é
hipócrita, mas liberta da hipocrisia. Fala-se, demasiadamente, sobre o amor,
mas foge-se dele porque é exigente e lança-nos na direção do outro.
Como amar as pessoas hoje? Amar como Jesus amou não é
tarefa fácil. Exige renúncia às
nossas pretensões egoístas. A gratuidade
faz parte do amor. Aproveitar-se do outro é uma forma de apego, não de amor. O
amor também exige liberdade, ou
seja, amamos o outro para que este seja cada vez mais livre. Amar não é
apoderar-se do outro, transformando-o em um objeto de satisfação de desejos. A responsabilidade também faz parte do
amor. Cuidar do outro é responsabilizar-se por ele. Sem cuidado não há amor, mas há somente discurso vazio e mentiroso. O
amor inclui atitude, encontro, companheirismo, e estas coisas constituem ação. Em
Jesus, o amor é ação desinteressada, livre, cuidadosa e, portanto, responsável.
Jesus amou doando
a própria vida. O amor o levou ao madeiro da cruz. Esta não foi fruto do
acaso, da falta de sorte e da predestinação. De modo algum. A cruz é
consequência da opção de Jesus pelo amor. Amou a todos até as últimas
consequências. Preferencialmente, amou os pobres e os pecadores públicos. Neste
sentido, foi fiel a opção de Deus Pai, que desde a criação do mundo se colocou
do lado dos pobres e oprimidos. Por isso, quem
não estiver disposto a doar a própria vida, a desapegar-se dela, não poderá
amar como Jesus. A história da humanidade está repleta de testemunhos:
Inúmeras mulheres e homens se colocaram no caminho de Jesus, o caminho do amor,
e nele perseveraram.
Para ilustrar e finalizar nossa reflexão, vamos citar um exemplo de discípula fiel a Jesus: Dorothy
Mae Stang, religiosa norte-americana, que após ter denunciado a exploração
da floresta amazônica, foi covardemente assassinada em Anapu – PA, no dia 12 de
fevereiro de 2005. Neste ano, celebramos dezesseis anos de sua memória. Ir.
Dorothy amou como Jesus: Deu a sua vida. Não perdeu a vida, mas a ganhou
gloriosamente. Seu martírio é participação na morte de Cristo Jesus e, dessa
forma, ela participou da sua Ressurreição. Seu testemunho é de vida, liberdade e
amor à natureza, que precisa ser preservada. Ir. Dorothy foi o grito do
Espírito de Deus para que o povo brasileiro olhasse para a Amazônia e desta
cuidasse, para que a vida continue florescendo com abundância. Que o Espírito
que conduziu Jesus e a Ir. Dorothy nos inspire, ilumine e fortaleça diante das
tentações que nos conduzem ao abandono do projeto de Deus.
Tiago de França
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