segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

As favelas, as chuvas e os pobres


As favelas fazem parte dos grandes centros urbanos do país. Quem são os moradores das favelas? Os pobres. Discriminadamente, fala-se que a favela é lugar de gente “ruim”, de pessoas perigosas, que ameaçam a ordem social. Tudo mentira! Não existe gente ruim, nem gente boa; mas existem pessoas que fazem o mal e o bem. Rotular as pessoas e discriminá-las nas categorias da bondade e da maldade é um equívoco gravíssimo. Antes de qualquer ação, todos são pessoas e na dignidade de pessoa todos devem ser respeitados. Na sociedade humana e social toda pessoa tem direitos e deveres. Quando há harmonia entre os direitos e os deveres, a sociedade vai bem, do contrário, a desordem torna-se presente e os que mais sofrem são os pobres, que numa sociedade injusta têm os seus direitos desrespeitados. Não há pessoas perigosas ou que ameacem o convívio social, afinal de contas, toda pessoa é dotada de razão; mas existem pessoas que são violentadas em sua dignidade e respondem violentamente a tal violência.

Além de serem vítimas da violência desenfreada, os pobres favelados também sofrem gravemente com as chuvas, pois a localização geográfica das favelas é totalmente desfavorável. As favelas não se encontram nos centros das grandes cidades, salvo raras exceções. Para citar somente uma exceção cito uma pequena favela que há no coração do bairro Aldeota, na cidade de Fortaleza – CE. As pessoas mais ricas desta cidade moram na Aldeota e nesta há um pequeno aglomerado de pobres que resistem em morar em pequenos cubículos. Segundo a Defesa Civil do Estado de São Paulo, aproximadamente 60 mil pessoas moram em favelas. São as grandes periferias da cidade, situadas em morros sujeitos a deslizamentos. Quando estes acontecem, os pobres ficam sem casa para morar. São lugares que não oferecem a mínima condição para a sobrevivência de seres humanos, pois faltam moradia, saúde, saneamento básico, educação, segurança, lazer, trabalho e alimentação de qualidade.

Os pobres que residem em tais circunstâncias têm suas vidas marcadas pela marginalização social. Esta é caracterizada pelo esquecimento governamental. Investem-se milhões de reais em gastos com construções de avenidas, estádios de futebol etc. para receber os jogos olímpicos e a copa do mundo e se esquecem de investir na qualidade de vida das pessoas e na erradicação das favelas. Na verdade, não se trata de esquecimento, mas de má vontade política, pois a grande parcela de nossos governantes está preocupada em criar novas estratégias para desviar as verbas públicas, como é o caso do democrata Arruda e companhia, em Brasília, DF. E para mostrar que são “religiosos”, no ato do crime ousam invocar o nome de Deus para elevar aos céus uma prece de ação de graças pelo bom êxito da operação criminosa. O que desperta a esperança é a certeza evangélica que ensina duas verdades para este caso: a primeira, é “que nada é oculto que não se descubra”, a segunda é que a justiça do Reino de Deus não faltará aos pobres.

É preciso analisar as causas e estudar soluções para a situação dos favelados. A estrutura das favelas não permite o oferecimento de boa qualidade de vida aos pobres, ou seja, é preciso erradicar as favelas das grandes cidades através da construção de moradias dignas para o povo. A moradia é um direito constitucional. Não cabe à religião, nem às organizações não governamentais a construção de tais moradias, mas ao Poder Público. Os desvios de verbas e os grandes investimentos provam que não falta dinheiro público para se investir em moradias dignas para a população carente. Repito: O que falta é boa vontade política. Diante da situação, que é emergente, a sociedade é chamada a se organizar e reivindicar seus direitos. As Igrejas são também chamadas a apoiar as iniciativas de defesa e promoção da dignidade da pessoa humana, abandonando as pregações alienantes e capitalistas, que em nada contribuem para a libertação integral das pessoas.

Por trás da destruição das favelas, que se dá por causa dos deslizamentos ocasionados pelas chuvas encontra-se o clamor da natureza que não suporta mais as agressões constantes por parte do ser humano. Agressões que se manifestam através de queimadas, poluição de mares, rios e lagos, desmatamentos, emissão de gás carbônico etc. Começa hoje, dia 07/11, a Conferência de Copenhague, que conta com a presença de delegações de 193 países. Estes terão seis dias de reuniões técnicas para encontrar e aprovar soluções práticas para a situação ambiental do planeta. Torçamos para que os maiores poluidores do planeta, EUA e China, possam se sensibilizar com a terrível situação ambiental da Terra e tomar iniciativas efetivas em favor da vida da natureza.


Tiago de França

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