O
Papa Bento XVI convocou a Igreja para viver e celebrar o Ano da Fé, de 11 de
outubro de 2012 a 11 de outubro de 2013. Logo no início, ocorreu em Roma o
Sínodo dos Bispos, que teve como tema A
Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã. Estas iniciativas
demonstram a preocupação do Papa com a atual situação da Igreja: diminuição
significativa do número de fiéis em todo o mundo, principalmente na Europa,
considerada berço da cristandade. A evasão de fiéis é consequência de outros
problemas internos da Igreja, mas é o motivo principal que perpassa o Ano da Fé
e o Sínodo dos Bispos.
Ainda não saiu a exortação
apostólica pós-sinodal do Sínodo dos Bispos deste ano, mas pelo que se comenta
não terá grandes novidades. Os Bispos não se reúnem em Roma para realizar
grandes mudanças na Igreja. Institucionalmente, esta sempre foi lenta para
realizar mudanças. Estas não podem ser esperadas. Mudanças sempre vieram das
bases da Igreja, das lutas dos leigos, em meio a pressões e perseguições. Exemplo
disso foi o movimento dos mendicantes do séc. XIII, na pessoa de São Francisco
de Assis e tantos outros; mas o aparato institucional abafou a herança deixada
pelos mendicantes: de pobres missionários passaram a ricas ordens religiosas.
Por trás da preocupação pela
diminuição significativa de fiéis se esconde outra mais séria: uma hierarquia
fragilizada, que perde cada vez mais o controle sobre os fiéis. Estes, em sua
maioria, não dão mais atenção ao que o clero ensina e afirma. Para justificar e
legitimar a importância de suas posições e ensinamentos, a hierarquia acusa o relativismo como um dos maiores males do
século. É verdade que o relativismo é um mal que afeta gravemente o ser humano
pós-moderno, mas é verdade também que o mesmo não é o único que explica a
evasão de fiéis e a crise institucional da Igreja.
Não é só o relativismo que torna a
hierarquia fragilizada, mas ela em si mesma é causa de sua própria fragilidade.
Constituída verticalmente por homens excluindo, assim, a mulher, não consegue
encontrar, a partir de sua atuação pautada na centralização do poder, respostas
aos problemas que afligem o homem hodierno. A maioria dos jovens não se
identifica mais com o ministério ordenado da forma como se encontra
ordinariamente instituído na Igreja. Isto tem provocado um preocupante
esvaziamento nos seminários, assim como um declínio no número de presbíteros em
todo o mundo.
O que se anuncia sobre o Ano da Fé
não parece ser aquilo que realmente se quer alcançar com o mesmo. Anuncia-se
que há uma séria necessidade de se explicitar melhor o seguimento de Jesus
Cristo; que o cristão precisa comprometer-se com a conversão; que a Igreja é
comunidade Povo de Deus, assembleia dos chamados; que a Igreja não deve se
preocupar com o número, mas com a qualidade de seus membros; que a doutrina que
conduz a salvação precisa ser melhor compreendida para ser praticada etc. Tudo
isto pode e parece ser orientado para o fim a que se pretende realmente:
reforçar a identidade católica para que a Igreja não perca totalmente sua
hegemonia no mundo.
Quem se recorda do Ano Sacerdotal? O
que ficou deste ano convocado pelo Papa Bento XVI? Substancialmente, nada mudou
na vida dos presbíteros e na sua missão na Igreja. Sem ser pessimista, mas
penso que ocorrerá a mesma coisa com o Ano da Fé: muitas celebrações,
seminários, simpósios, subsídios, debates e tantos outros eventos; mas,
substancialmente pouca coisa ou quase nada mudará. E não mudará porque não
haverá espaços para as urgentes, necessárias, almejadas e esperadas mudanças. Isto
porque o novo sempre causa medo e insegurança.
Há quem ache pessimista ou
reducionista tal abordagem, mas parece ser a mais coerente com a realidade da
Igreja. Apesar de tantas infidelidades e/ou incoerências, o Espírito de Deus
não falta a seu povo, permanecendo-lhe fiel. Esta fidelidade divina assegura a
realização plena do Reino, portanto, a salvação do gênero humano; salvação
gratuita e universal, que contempla toda a humanidade, porque assim Deus o
quis. Esta é a esperança cristã que perpassa toda a história e que a conduz até
a consumação dos séculos.
Tiago de França
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