Neste ano, todo professor
que tem consciência do que está acontecendo no Brasil sabe que não há muito o
que comemorar neste dia 15 de outubro, Dia do Professor. Não temos o que
comemorar, mas temos motivos de sobra para protestar.
Um dos motivos é simples de
entender: anualmente, fala-se da importância do professor, assim como
reclama-se a respeito da falta de valorização, tanto por parte do governo
quanto por inúmeras pessoas que não tem o mínimo de respeito pelo professor. Apesar
disso, praticamente nada se faz para mudar.
Estamos cansados de assistir
à situação vergonhosa de como o professor é tratado no Brasil: vítima da
violência em sala de aula e nos protestos que realiza (só para citar um
exemplo, basta lembrar a forma vergonhosa como os professores foram tratados
pelo governo do estado do Paraná em 2015); salário indigno, que não assegura um
padrão de vida digna; número crescente de professores afastados por doenças
oriundas do desgaste da profissão etc.
Com a queda da Presidenta
Dilma e chegada de Michel Temer (PMDB/PSDB/DEM) ao poder, a situação se
agravou. A primeira ação do governo Temer foi extinguir o Ministério da
Educação. Segundo ele, a educação não precisa de ministério no governo. Somente
essa atitude foi o bastante para avisar a todos os brasileiros que a educação
não é, nem poderá ser prioridade do governo federal.
Outra medida antidemocrática
e contrária à educação tomada pelo governo Temer foi a imposição, via Medida
Provisória, de uma “reforma” do Ensino Médio. A ideia é extinguir a Filosofia e
a Sociologia, assim como outras disciplinas da escola. Estas duas trabalham com
a libertação da ingenuidade e da cegueira dos alunos. O governo quer gente cega
e ignorante.
Neste sentido, além da “reforma”,
está apoiando a tramitação do projeto “Escola sem partido” no Congresso
Nacional. O objetivo do projeto é tornar lei a ideologia do governo e mandar
para a cadeia os professores que despertarem o espírito crítico dos alunos. Segundo
os idealizadores do projeto, despertar o senso crítico é crime, pois provoca
subversão. Para eles, educar é ensinar a decorar.
Uma terceira medida do
governo Temer é a PEC 241, também conhecida como “PEC da desgraça” ou “PEC da
morte”. Trata-se de um projeto de emenda à Constituição que visa limitar os
gastos do governo. O corte nas verbas da educação nos próximos 20 anos
ultrapassará a cifra de 20 bilhões de reais por ano.
Para tomar estas e tantas
outras medidas, o governo Temer age como se estivéssemos numa monarquia, na
qual a vontade do rei é a que impera. Não há consulta ao povo; não há interesse
naquilo que este pensa ou sente; recusa-se, terminantemente, a escutar os
clamores populares; governa-se em prol dos interesses dos mais ricos em
detrimento do bem comum.
Neste cenário, não há o que
comemorar no dia do professor. O momento é oportuno para protestarmos contra
estes e outros abusos que virão. A justa homenagem aos professores neste 15 de
outubro de 2016 é nos unirmos no protesto contra as medidas que visam acabar
com a liberdade no ensino, assim como mitigar os investimentos na educação.
Nós, professores, não somos
criminosos. Nossa missão não é despertar o ódio, mas o gosto pela aprendizagem.
Trabalhamos, diuturnamente, para assegurar o futuro do País. Somos merecedores
do respeito e da estima de todos.
Depois dos pais, somos as
pessoas mais importantes na vida de nossos alunos (pelo menos daqueles que tem
consciência da importância de seus professores!) Reconhecendo ou não, o futuro
deles passa por nossas mãos, por nossa voz e pelo bico de nossas canetas. Quem,
na vida, consegue ser alguma coisa sem a colaboração do professor?...
Na qualidade de professor de
Filosofia e Educação Religiosa, uno-me aos meus colegas de profissão,
especialmente aqueles que se encontram em situações mais vulneráveis de
trabalho. Não há salário que pague a nossa dedicação e nossa arte de lecionar. Que
o bom Deus nos conceda saúde e perseverança, pois nos sentimentos honrados,
apesar dos pesares, em sermos chamados de professores.
A todos os meus professores,
de ontem e de hoje, na ativa, ou aposentados, a minha eterna gratidão! Eu não
saberia o que sei, nem seria o que sou sem meus professores, especialmente a
minha mãe, hoje aposentada, que foi a minha primeira professora, com quem
aprendi a ler, a contar, a pensar e a ser gente.
Prof. Tiago de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário