sábado, 15 de outubro de 2016

O professor e a educação no Brasil

Neste ano, todo professor que tem consciência do que está acontecendo no Brasil sabe que não há muito o que comemorar neste dia 15 de outubro, Dia do Professor. Não temos o que comemorar, mas temos motivos de sobra para protestar.

Um dos motivos é simples de entender: anualmente, fala-se da importância do professor, assim como reclama-se a respeito da falta de valorização, tanto por parte do governo quanto por inúmeras pessoas que não tem o mínimo de respeito pelo professor. Apesar disso, praticamente nada se faz para mudar.

Estamos cansados de assistir à situação vergonhosa de como o professor é tratado no Brasil: vítima da violência em sala de aula e nos protestos que realiza (só para citar um exemplo, basta lembrar a forma vergonhosa como os professores foram tratados pelo governo do estado do Paraná em 2015); salário indigno, que não assegura um padrão de vida digna; número crescente de professores afastados por doenças oriundas do desgaste da profissão etc.

Com a queda da Presidenta Dilma e chegada de Michel Temer (PMDB/PSDB/DEM) ao poder, a situação se agravou. A primeira ação do governo Temer foi extinguir o Ministério da Educação. Segundo ele, a educação não precisa de ministério no governo. Somente essa atitude foi o bastante para avisar a todos os brasileiros que a educação não é, nem poderá ser prioridade do governo federal.

Outra medida antidemocrática e contrária à educação tomada pelo governo Temer foi a imposição, via Medida Provisória, de uma “reforma” do Ensino Médio. A ideia é extinguir a Filosofia e a Sociologia, assim como outras disciplinas da escola. Estas duas trabalham com a libertação da ingenuidade e da cegueira dos alunos. O governo quer gente cega e ignorante.

Neste sentido, além da “reforma”, está apoiando a tramitação do projeto “Escola sem partido” no Congresso Nacional. O objetivo do projeto é tornar lei a ideologia do governo e mandar para a cadeia os professores que despertarem o espírito crítico dos alunos. Segundo os idealizadores do projeto, despertar o senso crítico é crime, pois provoca subversão. Para eles, educar é ensinar a decorar.

Uma terceira medida do governo Temer é a PEC 241, também conhecida como “PEC da desgraça” ou “PEC da morte”. Trata-se de um projeto de emenda à Constituição que visa limitar os gastos do governo. O corte nas verbas da educação nos próximos 20 anos ultrapassará a cifra de 20 bilhões de reais por ano.

Para tomar estas e tantas outras medidas, o governo Temer age como se estivéssemos numa monarquia, na qual a vontade do rei é a que impera. Não há consulta ao povo; não há interesse naquilo que este pensa ou sente; recusa-se, terminantemente, a escutar os clamores populares; governa-se em prol dos interesses dos mais ricos em detrimento do bem comum.

Neste cenário, não há o que comemorar no dia do professor. O momento é oportuno para protestarmos contra estes e outros abusos que virão. A justa homenagem aos professores neste 15 de outubro de 2016 é nos unirmos no protesto contra as medidas que visam acabar com a liberdade no ensino, assim como mitigar os investimentos na educação.

Nós, professores, não somos criminosos. Nossa missão não é despertar o ódio, mas o gosto pela aprendizagem. Trabalhamos, diuturnamente, para assegurar o futuro do País. Somos merecedores do respeito e da estima de todos.

Depois dos pais, somos as pessoas mais importantes na vida de nossos alunos (pelo menos daqueles que tem consciência da importância de seus professores!) Reconhecendo ou não, o futuro deles passa por nossas mãos, por nossa voz e pelo bico de nossas canetas. Quem, na vida, consegue ser alguma coisa sem a colaboração do professor?...

Na qualidade de professor de Filosofia e Educação Religiosa, uno-me aos meus colegas de profissão, especialmente aqueles que se encontram em situações mais vulneráveis de trabalho. Não há salário que pague a nossa dedicação e nossa arte de lecionar. Que o bom Deus nos conceda saúde e perseverança, pois nos sentimentos honrados, apesar dos pesares, em sermos chamados de professores.

A todos os meus professores, de ontem e de hoje, na ativa, ou aposentados, a minha eterna gratidão! Eu não saberia o que sei, nem seria o que sou sem meus professores, especialmente a minha mãe, hoje aposentada, que foi a minha primeira professora, com quem aprendi a ler, a contar, a pensar e a ser gente.


Prof. Tiago de França

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