quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

MENSAGEM QUARESMAL 2018

Quaresma: Tempo de silêncio, oração, escuta da Palavra e conversão

“O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1, 15)

        Ninguém se converte sem escutar a voz de Deus. Esta voz está presente no testemunho das Sagradas Escrituras, no clamor dos que sofrem, e na bela manifestação de toda a criação. A escuta leva à obediência na fé. O Espírito sonda todas as coisas e torna a pessoa capaz desta obediência. Sem a presença deste Espírito, ninguém escuta nem obedece a Deus. Portanto, converter-se é, em primeiro lugar, escutar e obedecer. Daí tudo o mais acontece, de acordo com a graça de Deus.

        O que Deus tem nos falado hoje, nesta hora tão difícil da história mundial e brasileira? O que o Espírito está falando às Igrejas? Como tem sido a vivência de nossa fé, dentro de nossas Igrejas? Qual a nossa postura diante dos ataques à dignidade das pessoas, especialmente das que são excluídas? A partir de quais contextos Deus está falando ao nosso coração? Onde estão nossas Igrejas quando os poderosos de nosso País perseguem, maltratam e ceifam os direitos e a vida dos mais pobres? Como temos reagido quando diante das injustiças praticadas perante nossos olhos?...

        Silenciar o coração e a mente, e colocar-se diante de Deus em oração, para meditar sobre estas questões são atitudes fundamentais no processo pessoal e comunitário de conversão. O tempo passa e não podemos adiar a nossa conversão. Precisamos, definitivamente, aceitar Jesus: Aceitá-lo com a boca, com a mente, com o coração, com toda a nossa inteligência e forças. Quem, verdadeiramente, aceita Jesus se torna uma pessoa nova, ressuscita para uma vida nova. Somente Jesus é capaz de transformar a nossa vida. Sem ele, estamos perdidos.

        O mundo está profundamente doente porque a humanidade está enferma. Há muito egoísmo, ambições, interesses em conflito permanente, desamor. Há muito ódio, indiferença, competição, perseguição e dispersão. Há uma multidão infinita de gente perturbada e desorientada, cega e aprisionada, entregue à própria sorte. Simultaneamente, no meio de toda essa gente, há inúmeras pessoas que vivem buscando, sedentas de sentido, desejosas de liberdade e alegria. Há muita gente fugindo do vazio, abismo perigoso, que mata, impiedosamente.

        A pessoa convertida é aquela que se colocou no caminho de Jesus e nele está perseverando. Não há outra forma de conhecer Jesus senão a partir do seu caminho; caminho estreito e pedregoso. As pessoas que trilham este caminho, pura aventura de amor, tornam-se amorosas. Quem é amoroso não tem medo, pois entrou no reino da liberdade. Somente assim se conhece Jesus, permanecendo com ele por toda a eternidade. Quem permanece com Jesus, vive unido ao próximo, no amor e na liberdade. Converter-se é permanecer em Jesus na comunhão com os outros.

        Quem trilha a estrada da conversão vive em espírito de vigilância e atenção. Ser vigilante significa estar atento a si mesmo, às sombras interiores e à ação do Espírito sobre elas. Todo aquele que confia na ação deste Espírito, torna-se vaso disponível em suas mãos suaves e transformadoras. É o Espírito que conduz ao deserto, lugar das provações, da escuta e da purificação. Trata-se de um processo lento, purificador, santificador e, consequentemente, libertador. Não existe a possibilidade de sermos verdadeiramente humanos sem nos submetermos ao deserto das provações, que é o nosso próprio interior.

        Para a construção de uma humanidade nova é necessário que surja o homem novo, firme e decidido a entrar no reino da liberdade. Este homem novo nasce da fé, da esperança e do amor; nasce da ação silenciosa e amorosa da Trindade Santa, que vem e faz morada. Fora da Trindade não há renovação espiritual possível. Desligado de Deus, o homem é um ser errante no meio do mundo. Contando somente com a própria inteligência, negligenciando a dimensão espiritual inerente à sua condição, o homem gira em torno de si, sendo a causa da sua própria ruína. É o que assistimos no mundo atual. Dotado de inteligência e contando com muita tecnologia e poder aquisitivo, o homem anda para trás, mergulhado num movimento global de destruição de si mesmo e do mundo em que vive.

        Torna-se urgente recuperar o sentido da humanização das pessoas. O mais importante é o homem sadio e feliz. Não há felicidade nem progresso em meio a tanta patologia e morte. É mentirosa toda promessa de realização e felicidade exclusivista. Ninguém é feliz excluindo os outros. Tendo como alicerce o sofrimento do outro, o que chamam de felicidade não passa de exploração, artifício de Satanás, pai da mentira e da confusão. A felicidade da pessoa convertida consiste em saber-se amada por Deus. Basta o amor para ser feliz. Tudo o mais é acessório e, muitas vezes, supérfluo.

        Aproveitemos o Tempo da Quaresma para meditar estas coisas. Não podemos aceitar que, ano após ano, continuemos estagnados em nosso processo de conversão. Nosso mundo precisa, urgentemente, de autênticos seres humanos: Pessoas que saibam conviver, no amor. A fé cristã nos ensina que é possível sermos plenamente humanos, e a Trindade Santa está aí, querendo fazer morada em nós, querendo nos humanizar. E uma vez plenamente humanos, seremos, definitivamente, divinos. Esta é a vontade de Deus. É isto que Ele tem falado ao nosso coração.

Feliz itinerário quaresmal, até a celebração da Páscoa do Senhor!

Fraternalmente, no Espírito do Senhor,

Tiago de França 

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