quinta-feira, 28 de abril de 2011

Oposição desconcertada


Há alguns dias, o presidente de honra do PSDB, FHC – Fernando Henrique Cardoso publicou um artigo intitulado “O papel da oposição” na edição nº 13 da Revista Interesse Nacional. Quando concluí a leitura do longo texto cheguei à conclusão de que a oposição está passando mal na política brasileira. O texto de FHC é inteligente e traz consigo a confirmação do que são o PSDB e o DEM na política nacional: partidos de elite.

Há uma diferença entre afirmar partido de elite e partido da elite. Justifico-me. De elite porque FHC escreveu para chamar a atenção dos tucanos para a necessidade do partido abandonar o que chamou de “movimentos sociais” ou “povão” para que se conquiste a nova classe média que está, aos poucos, surgindo no Brasil. Creio que FHC se esqueceu ou não admite a verdade de que o PSDB e DEM nunca se interessaram pelo “povão”. Isto mesmo! Vou explicar.

Há uma segunda diferença a ser constatada: entre interesse pelo “povão” e manipulação do “povão”. Quem se recorda da última campanha presidencial? Lembram da bolinha de papel que se transformou numa pedra atirada na cabeça do candidato José Serra? A senhora Rede Globo até que tentou ajudar, mas não teve jeito! Lembram do silêncio generalizado durante todo o Governo FHC em matéria de corrupção na política? Parece que não havia corruptos naquele tempo!

Mas alguns tucanos são espertos: repudiaram, publicamente, a idéia central de seu presidente de honra: foram unânimes em afirmar que a vitória nas urnas depende do “povão”. Eles aprenderam e jamais vão esquecer que a soma da maioria dos votos dos nordestinos foi a maior contribuição para a vitória da presidente Dilma. FHC afirma que este “povão” é ignorante em matéria de política: chama-o de pessoas “aparelhadas”. Será mesmo?!...

O efeito do artigo de FHC foi devastador. Agora se fala de fusão entre os partidos DEM e PSDB. José Serra não opina, pois, politicamente, parece que faleceu! Aércio Neves subiu à tribuna do Senado, falou bem e bonito, mas após uma semana ninguém sabe mais nada do que o mineiro falou. O Jornal Nacional não tem mais o que dizer a respeito dos discursos fervorosos dos tucanos e democratas. Tais discursos não existem mais. O que está por trás disso?

Jesus disse que todo reino dividido entre si acaba em inevitável destruição: é isto que está acontecendo com a oposição. O PSDB está radicalmente dividido entre si: os tucanos paulistas não querem conversa com os tucanos mineiros; recentemente, Gilberto Kassab resolveu fundar um partido; Aércio não quer conversa com José Serra; há uma briga intensa pelo poder entre guetos no interior tanto do PSDB quanto do DEM; não há um projeto partidário comum, cada um pensa e age como quer sem se preocupar com a unidade partidária; e por fim, com a fundação do novo partido do Gilberto Kassab, os tucanos estão dando um show de infidelidade partidária.

Não é bom que a política nacional fique sem oposição, pois o Governo precisa ser fiscalizado e cobrado. Não há democracia sadia sem uma oposição com bases e projetos sólidos, aberta à discussão e à construção de um país melhor para todos. Resta-nos esperar para vermos o desfecho desta triste e vergonhosa situação.


Tiago de França

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