“Eis
aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc
1, 38).
Nestes dias que antecedem a celebração do Natal do
Senhor, os cristãos são chamados a compreender a beleza e a profundidade do
mistério da encarnação de Deus na humanidade. É verdade que uma compreensão
plena é impossível, considerando que a realidade divina é misteriosamente
indizível. O que conseguimos compreender é aquilo que o próprio Deus quis
revelar: o fato de ter vindo a este mundo, tomando forma humana, sendo igual a
nós em tudo, exceto no pecado.
Para confundir os poderosos deste mundo, Deus escolheu a
pequena e humilde Maria, de uma cidade desconhecida e mal afamada chamada
Nazaré. “Não tenhas medo, Maria, porque
encontraste graça diante de Deus”: são as palavras do anjo após a saudação
dirigida à virgem prometida em casamento a José, da descendência de Davi. Maria,
de fato, não teve medo, e mesmo não compreendendo plenamente o que estava
acontecendo, porque era uma judia temente a Deus, aceitou ser a mãe do Verbo de
Deus, Jesus, o Messias.
O lugar e a pessoa escolhida mostram a predileção divina
por aquilo que é pequeno, frágil e insignificante aos olhos do mundo. Esta pedagogia
divina permanece vigorando no modo como o Espírito do Senhor age no mundo. Este
Espírito, que fecundou o ventre de Maria de Nazaré, continua fecundando a vida
dos pequenos, frágeis e insignificantes deste nosso mundo, marcado pela
opressão dos grandes em relação aos pequenos. É este Espírito que mantém viva a
esperança do povo de Deus. Durante toda a história da salvação é desse modo que
Deus tem atuado junto ao povo que escolheu para si.
O sim de Maria é providencial. Deus a
escolheu e elegeu, e ela respondeu prontamente ao chamado divino. Viveu plenamente
a sua vocação: a de ser mãe e discípula de Jesus, o Messias prometido,
inaugurador do Reino de Deus neste mundo. Com seu sim, Maria participa do
processo de libertação do seu povo porque sabia que Deus jamais o abandonaria. Com
o desenvolvimento da missão de Jesus, ela foi cada vez mais, assim como ele,
tomando conhecimento da grandeza da presença amorosa de Deus em Jesus de
Nazaré. Maria viveu sua vocação e já foi recompensada com sua participação na
glória divina, juntamente com tantos outros que responderam, generosamente, ao
chamado divino.
Hoje, os discípulos de Jesus precisam fazer como a mãe de
Jesus, com amor e liberdade, no cotidiano da vida, vencendo as tentações e
superando os desafios, dizer um sim generoso, maduro e consciente ao
chamado permanente de Deus. Dizer sim não para ser senhor, mas para ser
servidor do projeto divino de salvação da humanidade. Somente assim, a palavra
de Deus permanece em nós e nos tornamos sal da terra e luz do mundo. É assim
que o gosto amargo da vida se transforma em doçura e as trevas deste mundo se
dissipam, e o povo de Deus permanece firme e forte na sua peregrinação rumo à
casa do Pai.
Superando toda mania de grandeza e apego ao poder,
pessoas e instituições podem se tornar servas do projeto salvador de Deus. Quando
dizemos sim a Deus, simultaneamente, estamos dizendo não à satisfação egoísta
de nossos interesses. Desse modo, tornamo-nos abertos e disponíveis aos outros,
a vida ganha beleza e leveza, as relações interpessoais se fortalecem e o outro
é devidamente acolhido e reconhecido, a fraternidade acontece e o Reino se
manifesta no mundo.
É
isto que Deus deseja para cada pessoa e para toda a humanidade: que em Cristo
nos reconheçamos como irmãos, no respeito às diferenças culturais e religiosas,
na construção do novo céu e da nova terra, onde reinarão a justiça e a paz. É com
este sentimento e propósito que caminhamos alegres e esperançosos para a festa
solene do nascimento do Senhor Jesus.
Tiago de França
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