“Zaqueu,
desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa” (Lc
19, 5).
À luz da conversão do publicano Zaqueu (cf. Lc 19, 1-10),
queremos falar sobre a necessidade da conversão. No texto, aparecem algumas
expressões muito significativas, que podem nos ajudar em nosso processo de
conversão.
Zaqueu era chefe de cobradores de impostos e muito rico. Era
homem rejeitado pelo povo e encerrado na solidão. O seu deus era o dinheiro.
Vivia em função deste. Sua riqueza tinha origem na desonestidade. Como todo
homem rico, dedicava a sua vida ao acúmulo e à conservação do dinheiro. Não
tinha alegria e desconhecia o amor. Só tinha dinheiro. Este dominava o seu
coração.
Esta condição de Zaqueu nos questiona: temos um coração
livre? O que tem dominado nosso coração e nossa vida? O que tem preenchido o
nosso viver? Quais os nossos apegos? O que estamos fazendo com o que nos
prende? Ódio, ciúme, inveja, ressentimento, pessimismo, frieza, ambição,
lembranças, desejos, posses, controle, mentira, falsidade, fantasia, ilusão, sucesso,
poder, dinheiro... O que nos prende e nos escraviza?...
Zaqueu ficou sabendo da existência de Jesus, e queria vê-lo.
Queria conhecer Jesus. Este era o seu desejo. Muitas vezes, as pessoas escutam
falar de Jesus, mas não desejam conhecê-lo. Em nossas Igrejas cristãs há muitas
pessoas que frequentam o culto, mas não desejam conhecer Jesus. Evitam
encontrar-se com ele. Muitas destas pessoas têm medo de Jesus, têm medo das
consequências do encontro com ele. O medo conduz ao comodismo.
O texto evangélico fala de uma procura recíproca: Jesus e
Zaqueu se procuravam. Como era de estatura baixa, Zaqueu subiu numa árvore para
ver Jesus. A multidão acompanhava Jesus e impedia a visão de Zaqueu. Quando
Jesus passou pela árvore onde ele estava, fez o convite: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. Ele
atendeu ao convite e “recebeu Jesus com
alegria”.
Interessante que Jesus pediu para que ele descesse depressa. Zaqueu precisava urgentemente
de conversão, e Jesus sabia disso. Isso mostra que Jesus quer se encontrar
conosco o mais breve possível. Ele tem pressa em nos despertar para a
conversão. Esta não pode ser adiada, postergada no tempo.
Não
sabemos do tempo que ainda dispomos para viver; por isso, é necessário
atendermos ao convite de Jesus quando ele passa por nós. Não podemos perder a
oportunidade. Se perdermos a oportunidade, pode ser que não haja outra. Pode
ocorrer também que já não tenhamos mais tempo. Nossa vida pode ser abreviada
pela força das circunstâncias... Não podemos ficar adiando a nossa conversão.
O
sentimento primeiro que surge no encontro com Jesus é a alegria. Esta alegria é
única e permanente. É única porque nada neste mundo oferece uma alegria
semelhante. Só o encontro com Ele. Quem nunca se encontrou com Jesus desconhece
a verdadeira alegria. Trata-se de uma alegria que permanece porque Jesus não
passa pela vida das pessoas, mas vem para ficar. Ele quer permanecer em cada
coração que se abre à sua presença amorosa.
Ao
verem Jesus na casa de Zaqueu, as pessoas começaram a falar mal tanto de um
quanto do outro. A fofoca sempre existiu. Ficaram escandalizados com a atitude
de Jesus: “Ele foi hospedar-se na casa de
um pecador!” Geralmente, as pessoas pensam, dentro e fora de nossas
Igrejas, que os pecadores públicos devem ser rejeitados. E as pessoas criam
categorias de pecadores: ladrões, adúlteros, prostitutas, homossexuais,
usuários de drogas, mendigos, pessoas sem ocupação etc.
Para
muitos “cristãos”, estas pessoas devem ser desprezadas. Não se deve ter contato
com elas. São consideradas impuras, inúteis e condenadas à perdição eterna. A
regra é clara: mantê-las à distância para evitar contaminação, pois são filhas
do demônio. Alguns “cristãos” mais radicais propõem até que tais categorias de
pessoas sejam extintas da sociedade. Esses “cristãos” vivem orando praticamente
todos os dias, participando ativamente do culto religioso de nossas Igrejas.
São os falsos cristãos: hipócritas, cheios de veneno!
Jesus
não deu atenção às murmurações das pessoas, e foi hospedar-se na casa de
Zaqueu, pecador público da época. Estando em sua casa, Jesus nada pediu. Não
fez sermão nem o condenou. Simplesmente, se fez presença de Deus em sua vida. Diante
da presença de Jesus, Zaqueu não resistiu, ficou de pé (postura de gente
decidida), e disse: “Senhor, eu dou a
metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro
vezes mais”. Esta foi a sua escolha, a sua decisão, a sua conversão.
Partilhar
os bens com os pobres e devolver o dinheiro roubado às vítimas das cobranças
injustas: eis o resultado do encontro com Jesus. A partir deste encontro
transformador, Zaqueu enxergou a necessidade da conversão. Com Jesus, passou a
entender que nenhum ser humano precisa acumular riqueza para ser feliz; que a
partilha é uma exigência fundamental do encontro com Jesus; que o dinheiro em
excesso tira a verdadeira alegria da vida, encerrando a pessoa no vazio
existencial.
Tendo
acolhido a decisão de Zaqueu, Jesus lhe disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho
de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava
perdido”. Jesus foi enviado pelo Pai para procurar e salvar os pecadores. Seu
chamado à conversão não exclui ninguém. Podemos agir como Zaqueu: aceitar o convite
de Jesus para permanecer em nossa vida.
Converter-se
não é mudar de religião; não é praticar todos os preceitos religiosos; não é
decorar a Bíblia; não é simplesmente evitar o pecado. Converter-se é acolher
Jesus. Não há transformação sem o encontro com Jesus. Ele quer se encontrar
conosco, e deseja habitar o nosso coração. Quer transformar a nossa vida. A
experiência ensina que quem acolher Jesus é radicalmente transformado por ele,
encontra o verdadeiro sentido da vida e conhece a verdadeira felicidade.
Este
é o chamado à conversão. A pessoa convertida é alegre, acolhedora, cheia de
amor e de ternura, misericordiosa, aberta ao perdão e à partilha, despojada, humilde
e voltada para os outros. Converter-se é permanecer com Jesus, e tê-lo como a
única riqueza da vida. Assim, nada falta. Quando estamos com Jesus, temos tudo.
Tornamo-nos
um com Ele. Estamos salvos.
Tiago
de França
2 comentários:
Thiago, excelente texto e ensinamentos. Obrigada por elucidar tão bem sobre as alegrias que temos ao nos decidirmos sobre estar, verdadeiramente, com Cristo
Obrigado, Maria Elisete, pela apreciação do texto!
Grande abraço!
Postar um comentário