Desde o início da pandemia temos visto nas redes sociais a
proliferação de mensagens de cristãos tidos como radicais, que se expressam com
muita violência sobre a limitação do culto cristão; limitação imposta pelos
decretos governamentais e pelas orientações dos líderes religiosos que buscam
respeitar tais decretos.
O radicalismo não vem de Deus, mas agride as coisas de
Deus. Não faz bem às pessoas e faz com que o cristianismo seja rejeitado pelas
mulheres e homens de bom senso. Assim como há radicais no Islamismo, que
provocam o terrorismo no Oriente Médio e em outras partes do mundo, também no
cristianismo estamos assistindo ao crescente surgimento de radicais cristãos:
pessoas que usam a Bíblia numa tentativa desesperada de legitimar ideologias de
morte.
Jesus Cristo não fazia parte de nenhum grupo adepto do
radicalismo. A sua mensagem é radical porque centrada no amor a Deus e ao
próximo. O amor é exigente e, portanto, radical, porque capaz de transformar e
libertar, integralmente, as pessoas. Mas Jesus, Filho de Deus e Salvador da
humanidade, não agredia as pessoas, nem se utilizava do nome de Deus para
satanizar pessoas e instituições. Infelizmente, muitos que professam a fé em
seu Nome estão caindo nesta tentação avassaladora
Os cristãos radicais costumam satanizar muitas realidades.
Um exemplo claro disso é a satanização do novo coronavírus. Muitos estão
dizendo que Satanás está usando o vírus para destruir a Igreja de Cristo, e
afirmam também que os governantes e juízes que decretam o fechamento
transitório das igrejas e templos são agentes de Satanás. Para isso, buscam na
Bíblia expressões que sirvam para legitimar suas falas absurdas. Tiram os
textos bíblicos de seus contextos e instrumentalizam a Palavra de Deus.
Trata-se de uma desprezível manipulação da Palavra de Deus.
O que está escrito no livro do Apocalipse vale para toda a
Bíblia: "Se alguém lhes fizer algum
acréscimo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro. E se alguém
tirar algo das palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da
árvore da Vida e da Cidade Santa, que estão descritas neste livro!"
(Apocalipse 22,18-19). Usar textos bíblicos para satanizar pessoas e
instituições é um pecado gravíssimo, porque constitui falsificação das Sagradas
Escrituras.
Além da Bíblia, os radicais cristãos se utilizam de uma
interpretação equivocada da Tradição da Igreja. Muitos citam a época da Igreja
primitiva para dizer que estamos vivendo situação semelhante. Trata-se de um
equívoco. A comparação mostra, com clareza, que não conhecem a Igreja
primitiva. Precisam estudar a História da Igreja. O desconhecimento das
Escrituras e da História faz com que apareçam tais comparações. Somente em
algumas partes do mundo os cristãos têm experimentado perseguições sangrentas.
No Brasil não há uma perseguição sistemática aos cristãos, como na Igreja
primitiva.
O coronavírus não é uma invenção de Satanás para destruir a
Igreja de Cristo. A ciência explica muito bem o surgimento dos vírus e outros
agentes nocivos à saúde e ao progresso dos povos. Esta mesma ciência tem a capacidade
de buscar soluções possíveis para erradicar tais males, e as vacinas produzidas
são uma prova disso. Os adeptos do radicalismo se parecem com aqueles que, no
tempo de Jesus - época desprovida de conhecimento científico -, atribuíam a
Satanás e seus demônios a origem de inúmeras doenças. É necessário aprender a
ler e a interpretar as Sagradas Escrituras; do contrário, muitas aberrações
podem ser ditas e feitas em nome de Deus, com base nas mesmas Escrituras
Sagradas.
Por fim, cabe ainda considerar que os juízes dos tribunais
têm a missão constitucional de resolver os conflitos entre as pessoas. Quando
direitos entram em conflito, os tribunais devem resolver a questão. Em matéria
de direitos, é preciso considerar que nenhum direito é absoluto. Quando o
direito à vida entra em conflito com o direito à prática pública do culto,
prevalece o direito à vida. Isso é óbvio. Ninguém precisa ser jurista para
compreender isso. Para cultuar a Deus, o crente precisa estar vivo. Os mortos
não louvam ao Senhor (cf. Salmo 115,17).
O culto cristão está para além das práticas religiosas
realizadas nas igrejas e templos. O próprio Jesus ensinou no sermão da montanha
que se deve orar ao Pai com sinceridade de coração a partir de qualquer lugar
(cf. Mateus 6,5-6), porque Deus está em toda parte. É preciso aprender a adorar
ao Pai "em espírito e verdade"
(João 4,24).
O culto nas igrejas e templos é muito importante para
manter as comunidades unidas e animadas, porque a fé cristã é essencialmente
comunitária, mas a suspensão provisória do culto não deve ser motivo para
desespero. O que o Senhor espera de cada fiel é a prática cotidiana do amor.
Não adianta o culto nas igrejas e templos se o coração permanece distante do
Senhor. Cabe ainda recordar uma palavra oportuna para este momento, escrita por
São Tiago: "Com efeito, a religião pura
e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as
viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo" (Tiago
1,27).
O momento reclama o amor a Deus e aos irmãos. Há muita gente precisando de ajuda. Muitas pessoas estão passando fome. Outras estão angustiadas, ansiosas e depressivas. Inúmeras famílias enlutadas. Portanto, muitas ocasiões para a prática do amor ao próximo. Os adeptos do radicalismo precisam abandonar o barulho que fazem nas redes sociais para terem tempo para a prática da caridade. No dia do juízo final, o Senhor não perguntará se o fiel defendeu a religião e suas doutrinas. Neste sentido, vale a leitura e meditação de Mateus 25,31-46, que fala do julgamento segundo o amor. Deus salva os que amam, porque o mais importante é o amor, não a prática rigorosa da lei e da religião.
Tiago
de França
2 comentários:
Verdade meu irmão,nossa preocupação no momento é ter compaixão de nossos irmãos que estão vivendo realidades;da fome,doenças e tantas outras.Precisamos está perseverantes e fortalecidos na fé,para juntos fazermos uma corrente concreta de solidariedade ao próximo.Enquanto aqueles que estão criticando e se preocupando com as igrejas abertas,que façam uma reflexão de sua vida como ela está;Será que estou tendo compaixão e se preocupando com meu irmão que precisa de qualquer tipo de ajuda nesse momento?
Sinto falta das missas presenciais, mas nesse momento crítico q estamos passando, o mais importante é salvar vidas. Afinal nós somos Igreja .
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