segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Opinar

    


        Semanalmente, publicarei um breve artigo de opinião sobre algum tema. O padre é um formador de opinião e não posso fugir disso. Neste primeiro texto desta série que passo a denominar "artigo semanal", desejo discorrer sobre o ato de opinar. 

    Opinião todo mundo tem, com ou sem fundamento. Há opiniões relevantes e irrelevantes, dependendo da subjetividade de quem a recebe. Não somos obrigados a aceitar a opinião alheia, mas é atitude civilizada respeitá-la. Respeitar a opinião dos outros é um ato de solidariedade com o que o outro pensa. Valorizar a opinião dos outros é da índole de quem aprendeu a conviver. Concordando ou não, o respeito ao outro revela grandeza de alma.

    Há opiniões que possuem fundamento na realidade, e há aquelas que são formadas a partir da fantasia da pessoa, que imagina que a realidade é do jeito que pensa ou deseja. As mais aceitáveis são as que possuem conexão com a realidade, porque podem ser facilmente verificadas. Opiniões sofisticadas são as que conseguem descrever, com certa precisão, o que ocorre no mundo real, revelando o pensamento do seu autor, seu posicionamento. Toda opinião é uma posição sobre alguma questão, ou situação. Quem não opina, não se posiciona. 

    Quem opina deve estar preparado para ser avaliado na sua opinião, positiva ou negativamente. Há os que acolhem e avaliam positivamente a opinião, e há aqueles que rejeitam e até depreciam. Quando quem opina é livre em relação à avaliação daquilo que opinou, então segue seu caminho com certa tranquilidade, por saber que o outro é livre para reagir como quiser. Não se pode descer ao nível dos depreciadores, sob pena de se tornar um deles. Com depreciadores não se pode perder tempo, pois o tempo é uma preciosidade.

    Nenhuma opinião consegue abarcar a totalidade do sentido das coisas. Portanto, ninguém pode pretender dar uma opinião que encerre, definitivamente, uma questão. Toda questão permanece aberta. Não reconhecer isto revela uma grande limitação, bem como falta de humildade. Nenhuma opinião é definitiva. As pessoas podem mudar de opinião. Trata-se de uma atitude inteligente. A flexibilidade é uma virtude. Opiniões engessadas são próprias de uma mente curta ou limitada. 

    Há situações sobre as quais a prudência manda opinar, há outras que recomenda fazer o contrário. Há opiniões que acrescentam, porque iluminam mentes e corações, como também pode ocorrer o contrário. Sábia é a pessoa que sabe o momento de opinar e o de calar. Há circunstâncias que não pedem a nossa opinião. O discernimento ensina que o silêncio é a opinião louvável e aceitável. Também pelo silêncio podemos opinar. A ausência de comunicação verbal ou escrita também transmite uma opinião, uma resposta. A ausência opina no sentido de dizer que a palavra não é bem-vinda nem ajuda a construir sentido. Toda ausência, assim como todo discurso, pode e deve ser lida e compreendida. 

    A sociedade dita pós-moderna e líquida é profundamente marcada pelo excesso de palavras, sons e imagens. Há um barulho que, muitas vezes, nada comunica. No excesso está a falta. Este excesso gera cansaço e tédio nas pessoas. Gera também certa indisposição interior, revelada na falta de paciência e de escuta. As pessoas parecem cansadas, e já não querem mais ouvir. Estão desiludidas com o excesso de palavras que não comunicam paz e tranquilidade, mas causam agitação, porque carregadas de violência e ilusão. A palavra está perdendo a credibilidade, apesar de necessária, porque o ser humano é um ser de palavra, de comunicação. Precisamos recuperar a credibilidade da palavra, e isto acontece quando investimos verdade nas palavras.

    Opinar com base na verdade, sem perder a caridade e a ternura. A verdade não pode ser dita de forma violenta. A forma como opino pode causar rejeição ou acolhida. Opinar com mansidão e amor, com respeito e verdade. Assim, é mais fácil para a opinião encontrar mentes e corações abertos. Do contrário, ninguém suporta. Cada pessoa que ousa opinar, deveria se perguntar: Minha opinião realmente vai acrescentar alguma coisa? Tenho me esforçado para fazer valer a minha opinião? Como tenho exercido o meu direito de opinar? Nesta dada situação, devo opinar, ou calar? Sou intolerante e desrespeitoso quando opino? Opinar é importante, mas não podemos fazê-lo de qualquer jeito. Mas tudo é processual. Ninguém nasce pronto. Assim como aprendemos a falar, andar, comer, escovar os dentes, dirigir etc., também é possível aprender a opinar.

Pe. Tiago de França

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito do artigo

Anônimo disse...

Muito bom