quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A atualidade dos Santos Padres da Igreja

“Todas as vezes que no Ocidente tem florescido alguma renovação na ordem do pensamento como ordem da vida – ambas estão sempre ligadas uma à outra – tal renovação tem surgido sob o signo dos Padres” (Henri de Lubac).

            Em um curto espaço de um breve artigo, infelizmente não podemos nos aprofundar no fértil período eclesiástico denominado patrístico. Trata-se dos seis ou sete primeiros séculos da história da Igreja. Nele apareceram grandes homens que se debruçaram sobre vários temas que formaram o núcleo central e fundamental da doutrina cristã. Houve mulheres que também se destacaram. 

Os historiadores costumam dividir o período patrístico em três partes: o dos Padres Apostólicos, o dos Padres Apologistas e o período dos grandes concílios ecumênicos. Os Apologistas foram os sucessores imediatos dos Apóstolos (Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Clemente de Roma entre outros.), e os Apologistas defenderam a fé e a religião cristãs perante as autoridades civis (Justino Mártir, Irineu de Lião entre outros.). Eles também defenderam a Igreja contra os hereges.

            Estes Pais da Igreja, com suas reflexões e com o testemunho da própria vida constituíram as bases da vida cristã. Seus ensinamentos perpassam os séculos e chegam até nós com toda a vivacidade doutrinal e profética. Constituem, portanto, as fontes primitivas do espírito cristão e eclesial.  

Quando da realização do Concílio Vaticano II (1962 – 1965), um dos movimentos mais significativos que precedeu este importante Concílio foi o movimento da volta às fontes patrísticas. Um grupo de teólogos europeus, principalmente oriundos da França, se destacou nos estudos teológicos sobre a obra e a vida dos Padres da Igreja, e ofereceram ao Concílio um conjunto de reflexões que ajudaram na elaboração de importantes documentos conciliares aos quais temos acesso hoje. O jesuíta francês Henri de Lubac (1896 – 1991) foi um dos maiores teólogos do séc. XX, e fez parte deste importante grupo de teólogos que trabalhou incansavelmente para a renovação da Igreja.

            Após esta breve contextualização, vamos a algumas afirmações sobre o pensamento que introduz nossa reflexão, de Henri de Lubac. O teólogo, renomado estudioso da Patrística, afirma categoricamente que na Igreja ocidental toda renovação acontece sob o signo dos Padres, ou seja, parte daquilo que os Padres meditaram e viveram.

Toda renovação, como o próprio nome indica, deseja refazer a caminhada, voltar às origens, reorientar a vida. Neste sentido, a ordem da vida recebe dos Padres a ceiva nuclear da autêntica espiritualidade cristã. A atualização da vida e da obra dos clássicos da Patrística é de grande importância para a vida eclesial, de modo que a essência daquilo que julgamos renovação da vida cristã remonta, grandiosamente, a estes clássicos.

            Na Igreja latino-americana também encontramos outros grandes Padres, além dos Padres conciliares, que em Medellín (1968) e Puebla (1979) souberam reler os documentos do Concílio, contextualizando-os. Medellín, Puebla e, mais recentemente, Aparecida é como que uma atualização da Patrística para nossos dias (Os 40 bispos que fizeram o Pacto das Catacumbas após o Concílio, em Roma, entre outros).  

São documentos que visam orientar, refazer, recriar, repensar, reerguer, conduzir, animar e apresentar possíveis caminhos para a solução daquele que sempre foi um dos maiores problemas do cristianismo na história: a letargia que tem tomado conta da vida de muitos cristãos que se recusam a dar testemunho do Cristo ressuscitado em meio às trevas deste mundo.

            Os Padres da Igreja são um testemunho vivo na história do cristianismo. Testemunho que grita alto, que impulsiona e convida para a ousadia profética. A Igreja é chamada a viver sob o signo dos Padres e Madres, e isto significa viver em permanente estado de renovação. 

Esta renovação passa pelo espírito missionário que ensina a partir rumo às periferias do mundo, na direção dos excluídos da sociedade, sob a luz do Espírito que trabalha nos corações das mulheres e homens de boa vontade. Portanto, a releitura atenta e profética dos Padres e Madres da Igreja é de grande valia na conversão pessoal e eclesial, tão urgente nos dias de hoje. Somente assim, os cristãos se transformam em sal e luz deste mundo marcado por tantas injustiças, fazendo aquilo que Jesus pediu para fazer: “Ide e anunciai!”

Tiago de França

Obs.: Acompanha este artigo uma foto de Dom Aloísio Lorscheider (1923 - 2007), um dos grandes Padres da história da Igreja no Brasil. 

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