“Todas
as vezes que no Ocidente tem florescido alguma renovação na ordem do pensamento
como ordem da vida – ambas estão sempre ligadas uma à outra – tal renovação tem
surgido sob o signo dos Padres” (Henri de Lubac).
Em um curto espaço de um breve artigo, infelizmente não
podemos nos aprofundar no fértil período eclesiástico denominado patrístico. Trata-se dos seis ou sete
primeiros séculos da história da Igreja. Nele apareceram grandes homens que se
debruçaram sobre vários temas que formaram o núcleo central e fundamental da
doutrina cristã. Houve mulheres que também se destacaram.
Os
historiadores costumam dividir o período patrístico em três partes: o dos
Padres Apostólicos, o dos Padres Apologistas e o período dos grandes concílios
ecumênicos. Os Apologistas foram os sucessores imediatos dos Apóstolos (Inácio
de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Clemente de Roma entre outros.), e os
Apologistas defenderam a fé e a religião cristãs perante as autoridades civis
(Justino Mártir, Irineu de Lião entre outros.). Eles também defenderam a Igreja
contra os hereges.
Estes Pais da Igreja, com suas reflexões e com o
testemunho da própria vida constituíram as bases da vida cristã. Seus
ensinamentos perpassam os séculos e chegam até nós com toda a vivacidade
doutrinal e profética. Constituem, portanto, as fontes primitivas do espírito
cristão e eclesial.
Quando
da realização do Concílio Vaticano II (1962 – 1965), um dos movimentos mais
significativos que precedeu este importante Concílio foi o movimento da volta
às fontes patrísticas. Um grupo de teólogos europeus, principalmente oriundos
da França, se destacou nos estudos teológicos sobre a obra e a vida dos Padres
da Igreja, e ofereceram ao Concílio um conjunto de reflexões que ajudaram na
elaboração de importantes documentos conciliares aos quais temos acesso hoje. O
jesuíta francês Henri de Lubac (1896 – 1991) foi um dos maiores teólogos do
séc. XX, e fez parte deste importante grupo de teólogos que trabalhou incansavelmente
para a renovação da Igreja.
Após esta breve contextualização, vamos a algumas
afirmações sobre o pensamento que introduz nossa reflexão, de Henri de Lubac. O
teólogo, renomado estudioso da Patrística, afirma categoricamente que na Igreja
ocidental toda renovação acontece sob o signo dos Padres, ou seja, parte
daquilo que os Padres meditaram e viveram.
Toda
renovação, como o próprio nome indica, deseja refazer a caminhada, voltar às
origens, reorientar a vida. Neste sentido, a ordem da vida recebe dos Padres a
ceiva nuclear da autêntica espiritualidade cristã. A atualização da vida e da
obra dos clássicos da Patrística é de grande importância para a vida eclesial,
de modo que a essência daquilo que julgamos renovação da vida cristã remonta,
grandiosamente, a estes clássicos.
Na Igreja latino-americana também encontramos outros
grandes Padres, além dos Padres conciliares, que em Medellín (1968) e Puebla
(1979) souberam reler os documentos do Concílio, contextualizando-os. Medellín,
Puebla e, mais recentemente, Aparecida é como que uma atualização da Patrística
para nossos dias (Os 40 bispos que fizeram o Pacto das Catacumbas após o
Concílio, em Roma, entre outros).
São
documentos que visam orientar, refazer, recriar, repensar, reerguer, conduzir,
animar e apresentar possíveis caminhos para a solução daquele que sempre foi um
dos maiores problemas do cristianismo na história: a letargia que tem tomado
conta da vida de muitos cristãos que se recusam a dar testemunho do Cristo
ressuscitado em meio às trevas deste mundo.
Os Padres da Igreja são um testemunho vivo na história do
cristianismo. Testemunho que grita alto, que impulsiona e convida para a
ousadia profética. A Igreja é chamada a viver sob o signo dos Padres e Madres,
e isto significa viver em permanente estado de renovação.
Esta
renovação passa pelo espírito missionário que ensina a partir rumo às
periferias do mundo, na direção dos excluídos da sociedade, sob a luz do
Espírito que trabalha nos corações das mulheres e homens de boa vontade. Portanto,
a releitura atenta e profética dos Padres e Madres da Igreja é de grande valia
na conversão pessoal e eclesial, tão urgente nos dias de hoje. Somente assim,
os cristãos se transformam em sal e luz deste mundo marcado por tantas
injustiças, fazendo aquilo que Jesus pediu para fazer: “Ide e anunciai!”
Tiago de França
Obs.: Acompanha este artigo uma foto de Dom Aloísio Lorscheider (1923 - 2007), um dos grandes Padres da história da Igreja no Brasil.
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