Há
mais de três séculos apareceu um negro no nordeste do Brasil: forte, destemido
e corajoso. Formou uma comunidade denominada quilombo: lugar de gente unida,
refugiada e resistente. Gente cicatrizada
pelo chicote, pelo estupro e pela exploração.
Zumbi
se imortalizou na carne ensanguentada do povo negro, nas suas lutas pela terra
e pela liberdade. Tornou-se um herói nacional, não celebrado pela mídia branca
e racista, mas glorificado pelos negros estigmatizados da sociedade. Zumbi é
símbolo da luta pela liberdade, luta das mais louváveis, experimentada somente
pelos corajosos.
Brasil,
2014. Inúmeros negros continuam sendo discriminados. A lei diz que é crime a
discriminação, mas não adianta. Passa-se por cima da lei e fica por isso mesmo.
Por isso, a melhor forma de combater a discriminação é aderindo à consciência
negra, ou seja, é necessário assumir, de uma vez por todas, uma verdade
fundamental: Todos somos filhos dos negros. O sangue deles corre em nossas
veias. Somos filhos da miscigenação. Nenhum filho da nação brasileira pode
afirmar o contrário, inclusive os brancos racistas.
A
cor da pele não indica superioridade nem inferioridade. Na espécie humana,
todos são iguais. Todos nascem, crescem, se reproduzem e morrem. Com a cultura,
criamos a discriminação. Esta não é natural. Ninguém nasce odiando ninguém. Aprende-se
a odiar, como também se aprende a amar. A discriminação é um problema da mente,
é um problema de miopia humana.
Quem
discrimina está com problema na visão. É um problema de consciência. Renunciando
à preguiça mental e se debruçando sobre a história, é possível alcançar a cura.
A discriminação, ainda, é um problema de ignorância. Se uma cor me causa
repugnância, o problema não está na cor, mas na minha mente doentia. Reconciliemo-nos,
pois, com as cores! Como suportaríamos viver em um mundo sem cores?!...
Por
fim, para não deixar passar despercebida a memória de Zumbi, este grande herói
nacional, precisamos, ainda, afirmar três coisas fundamentais:
1)
Para quem professa a fé em Jesus de Nazaré, a discriminação é um pecado grave
porque, independentemente da cor da pele ou de qualquer outra diferença, todos
somos, em Cristo, irmãos. Por isso, cristianismo e discriminação racial são
incompatíveis. O Deus e Pai de Jesus está na missa dos católicos, no culto dos
evangélicos, nos terreiros do candomblé, no silêncio da meditação budista,
enfim, está em tudo e em todos;
2)
Independentemente da cor da pele ou de qualquer outra diferença, todos somos
capazes. Neste sentido, são válidas todas as iniciativas governamentais e
sociais em prol da igualdade entre os seres humanos. Negá-las ou tentar desqualificá-las
representa desconhecimento da realidade e
3)
Brancos, negros, índios, estrangeiros etc.: somos todos humanos, somos pessoas.
Desse modo, em nosso país não há várias raças de pessoas, mas há brasileiros,
que devem ser tratados com respeito e promovidos em sua dignidade. Não formamos
um povo puritano, somos juntos e misturados! Nossa religião e cultura estão
alicerçadas na miscigenação.
Viva
o herói da liberdade, Zumbi dos Palmares!
Viva
o homem que nos ensinou que o outro não é meu inimigo, mas é outro igual!
Tiago
de França
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