“No
entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o
homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são
dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” (Mc 10, 6 – 9).
No tempo de Jesus a cultura era marcada
pelo patriarcalismo,
no qual a figura do homem dominava; a mulher era submissa à vontade e aos
caprichos do homem. Além disso, podia ser despedida, caso este não a quisesse
mais (cf. Dt 24, 1). Neste contexto, toda mulher divorciada ficava abandonada,
sem proteção alguma. Em Mc 10, 2 – 16, os fariseus, para colocar Jesus à prova,
perguntam-lhe sobre a validade da carta de divórcio autorizada por Moisés. A partir
da resposta de Jesus, que não se deixou levar pela provocação dos fariseus, mas
aproveitou bem para recordar-lhes o mandamento de Deus a respeito do
matrimônio, vamos meditar algumas questões que merecem nossa atenção.
Desde
o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Na criação, Deus fez o
homem e a mulher: ambos, diante de Deus são iguais. Não deveria haver
superioridade nem submissão, mas igualdade. Na família, infelizmente a mulher
sempre foi considerada um ser inferior, portanto, responsável pelos serviços “inferiores”:
o cuidado da casa. Confinada no interior da casa, a mulher não assumia o espaço
público e quando o fazia era acompanhada do esposo. O modelo tradicional de
família colocava a mulher no seu devido lugar, lugar que não era o dos homens. Ocupada
nos afazeres domésticos, a mulher era sustentada pelo homem e como este detinha
o dinheiro, tudo era conforme seu gosto. Servidora do homem em todos os
sentidos, a mulher estava obrigada à obediência e ao respeito.
No século passado, em plena abertura
do Concílio Vaticano II, em outubro de 1962, o Papa João XXIII viu na
emancipação da mulher um dos sinais dos tempos modernos. Esta emancipação
não significa a submissão do homem à mulher, mas o reconhecimento da igualdade
querida por Deus desde a criação. Deus não criou a mulher para ser escrava do homem,
mas para ser companheira: ambos devem caminhar juntos em pé de igualdade para
serem verdadeiramente felizes. Sem companheirismo não há felicidade possível no
matrimônio. No respeito e na promoção das diferenças que caracterizam os
gêneros masculino e feminino, o dado da pessoalidade deve ser considerado. Mulher
e homem são pessoas e assim devem ser tratados.
Deus
os criou para serem uma só carne. Na criação, Deus viu que o homem estava
sozinho. A solidão nunca fez bem ao ser humano e não é criação divina. Em todos
os momentos da história da salvação, a família e a comunidade sempre estiveram
presentes. A humanidade acontece e se desenvolve a partir da família e da
comunidade. É aí também que acontece a felicidade do gênero humano. Criados por
Deus para viverem a união matrimonial, mulher e homem devem fazer todo o
esforço possível para construírem juntos uma vida feliz. Para isto, dentre os valores
possíveis, alguns são fundamentais, a saber: o amor, a fé, a compreensão, a
paciência, o respeito e a perseverança.
Não há matrimônio sem amor. Portanto, o mesmo deixa de existir
quando falta o amor. Aqui entra o desafio da indissolubilidade do
matrimônio. Que sentido tem um casal continuar “unido” se não há amor? Deve
continuar somente para atender à exigência da indissolubilidade matrimonial?
Nenhuma instituição religiosa pode obrigar alguém a permanecer numa relação que
já não tem o amor como o fundamento e, portanto, o sentido de sua existência. Este
amor a que nos referimos é sinônimo de doação recíproca, do querer bem ao
outro, sem apegos nem submissão, pois o verdadeiro amor liberta o ser humano, o
realiza e o torna feliz.
A fé no Deus que ama incondicionalmente o ser humano é força e ânimo
na caminhada matrimonial. Com a ajuda da graça divina é possível superar as
dificuldades que vão surgindo no caminho. Por meio da fé, o Deus que constituiu
a união entre a mulher e o homem eleva esta mesma união à perfeição no seu
amor. A difícil situação atual do matrimônio mostra claramente que os casais
precisam ser cada vez mais pessoas de fé, que confiem mais em Deus e esta
confiança os manterá sempre unidos, principalmente em meio às tribulações da
vida.
Não há convivência possível sem compreensão mútua. Onde não há
compreensão há intolerância e violência. A incompreensão tira do outro o
direito de ser visto e considerado na sua real condição de ser limitado,
finito, frágil, sujeito a falhas. Além disso, a incompreensão impede o diálogo,
que consiste na recepção da verdade do outro, daquilo que o outro tem para oferecer
de bom. Quando não se busca compreender o outro, a vida matrimonial se torna um
tormento, pois abre espaço à impaciência. A compreensão gera a paciência e esta
insiste na continuidade da relação para o bem de todos. A paciência em meio às
dificuldades é uma virtude que sustenta o casal.
O respeito às diferenças é outro valor imprescindível para o
matrimônio. Mulher e homem são diferentes nas formas de agir, pensar e ser. O respeito
recíproco conserva a dignidade do matrimônio e colabora para a valorização da
singularidade de cada cônjuge. A falta de respeito é um dos piores males que
afeta a relação matrimonial, pois onde não há respeito há o ridículo, a
exposição do outro e a humilhação. O desrespeito é uma forma de violência
contra o matrimônio.
Estes valores colaboram com o casal
e os faz viver o dom da perseverança.
O difícil não é iniciar a vida matrimonial: todo início é alegre e feliz. Colocar-se
no caminho não é algo difícil, o necessário e desafiante é perseverar. A perseverança
está intimamente ligada à fidelidade,
que gera mais amor e confiança. Na fidelidade há tranquilidade e paz.
Por fim, é preciso considerar que o matrimônio é um chamado de Deus, é
vocação cristã. Portanto, é caminho de Jesus no qual se deve perseverar até as
últimas consequências. Deus chama cada casal à santidade no
matrimônio, e esta santidade não é outra coisa senão contribuir na obra
da criação, no cuidado recíproco e com o que Deus concede: construir a família
para um outro mundo possível.
O futuro da humanidade está
necessariamente ligado à família. Com o passar do tempo, esta tem passado por
profundas e complexas transformações. Surgem novos tipos de famílias que
merecem um olhar atento e misericordioso. As mudanças são rápidas, causam
preocupação e nos remetem à verdade de que o velho modelo tradicional de
família já não existe mais, salvo raríssimas exceções. Portanto, é necessário
rever o conceito, a doutrina, os valores e o olhar sobre a relação conjugal; do
contrário, tudo o que se falar a respeito do matrimônio já não fala nada a
ninguém, torna-se discurso vazio e, portanto, sem sentido. Em outra reflexão
poderemos discorrer a respeito destas profundas transformações que afetam a
família na sociedade hodierna.
Tiago de França
Um comentário:
Muito bom o texto, Tiago! O matrimonio é isso, AMOR, RESPEITO, PACIÊNCIA, e varias coisas que forma uma unica vida feliz entre duas pessoas. Creio que seja muito belo uma vida assim... Eu particularmente tenho um ótimo namorado que queria passar o resto da minha "Vidinha" com ele..Amo muito!
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