quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

A segunda condenação do ex-presidente Lula


Saiu a segunda condenação do ex-presidente Lula. Já era esperada, pois na chamada "república de Curitiba", o ex-presidente é considerado, de antemão, um criminoso. Quando, previamente, há esta consideração, não adianta o trabalho da defesa. Permite-se a atuação da defesa somente para constar nos autos. Do contrário, o processo sofreria de nulidade.

Não há exagero nesta constatação. O que há de igual ou semelhante nas sentenças do ex-juiz Moro e da atual juíza do caso? Entre outros absurdos, existe a desconsideração dos elementos trazidos pela defesa aos autos do processo. Tudo o que a defesa trouxe aos autos foi simplesmente ignorado. Quando há o propósito de condenação é possível ignorar citando. É um modo inteligente de dizer que tudo foi visto e levado em conta. Mas a condenação mostra tudo.

O ex-presidente não é dono do sítio. Parece que neste ponto a juíza está de acordo. Então, qual o problema? O ex-presidente cometeu dois erros: primeiro, era amigo do dono. Isto não é crime, mas a sentença considerou como elemento coadjuvante da ação delituosa. Segundo, frequentou o sítio do amigo dono do sítio. Como a amizade era de longa data, e se tratava de uma figura ilustre ("o cara", como disse o Barack Obama, dos EUA), o dono do sítio deixou o amigo a vontade para visitar e usar o imóvel. A juíza viu nisso, acompanhando a acusação fantasiosa do MP, indícios de crime.

Mas o mais interessante são outros dois aspectos que, futuramente, farão o STJ e STF rever a condenação, se quiserem fazer justiça: a competência do juízo e a ausência de provas no que se refere ao benefício que o presidente teria recebido, sem ser o dono do imóvel, da empresa que fez as abençoadas reformas e/ou melhoramentos. Competência, no sentido jurídico-processual do termo, resolve a seguinte pergunta: Quem deveria julgar o processo? O sítio não está no Paraná. Por que, então, o processo foi instaurado lá? Qual a ligação do sítio com os desvios da Petrobras? O MP imaginou, não provou, e o juiz, que hoje é ministro de governo, se considerou competente para julgar. Parece uma clara eleição de juízo. O que a lei diz não parece ter importância.

Quem não tem noção de processo penal desconfia, e quem estudou esta matéria fica escandalizado. Mas, se analisarmos várias decisões prolatadas por inúmeros juízes no Brasil, veremos que o fato de ignorar a lei para julgar conforme anseios pessoais, grupais e populares virou moda. Em muitos casos, vale o que o juiz pensa, e não o que diz a lei e as provas dos autos.

Enquanto isso, onde está Michel Temer? E a situação do Aécio Neves, como fica? Quem matou Marielle Franco? E o Beto Richa, por que já está em sua confortável residência? E o pessoal da máfia dos ônibus coletivos do RJ? O que estão fazendo para dar um basta nos milicianos que atuam no RJ? E o Queiroz com o filho do Bolsonaro? Todos esperando o tempo passar, para gozar dos benefícios do esquecimento e da prescrição.

Mas as altas autoridades da República, nos três poderes, dizem: "As instituições estão em pleno funcionamento. Vivemos numa democracia plena". Mas estão funcionando para quem? Que tipo de democracia temos? Até quando está situação vai perdurar? Por que as pessoas não se rebelam?

Tiago de França

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