Ultimamente, os tradicionalistas estão saindo do armário.
Sempre existiram, mas não faziam questão de ser tão agressivos. A onda ultraconservadora
que tem tomado a política nacional despertou e provocou uma onda
tradicionalista no seio do cristianismo católico e não católico, no Brasil.
Nestes breves apontamentos, não quero fazer uma análise
minuciosa das semelhanças e diferenças que há entre o tradicionalismo político
e o tradicionalismo religioso. Mas qualquer pessoa que se utilize do bom senso
e da observação acurada poderá perceber, com certa nitidez, as características
e os prejuízos desse movimento violento.
Mais do que em outras épocas, este é o momento de todo
cristão, de qualquer Igreja, saber discernir o bem do mal, o que vem de Deus e
o que é invenção humana para satisfação de interesses humanos e mundanos. Toda
espécie de violência praticada em nome de Deus, obviamente não vem de Deus.
Toda espécie de ataque à unidade cristã e à comunhão eclesial, certamente não
vem de Deus. E por que podemos afirmar isso com tanta clareza e certeza? Porque
Jesus não semeou a discórdia entre as pessoas, mas pregou, com palavras e
obras, o caminho da pacificação. Ele é o Príncipe da Paz (cf. Is 9,5).
Desde o tempo dos primeiros cristãos, a discórdia sempre
existiu no seio das comunidades. Em todas estas podemos enxergar a ação do
diabo, que é pai da mentira e da divisão. Infelizmente, há cristãos que ousam
em fazer o papel do diabo, provocando a divisão e a discórdia; transformando-se
em inimigos da paz de Cristo. Em nome de Deus e da ortodoxia da fé, muitos se
dedicam a caluniar, difamar e injuriar pessoas e instituições. É o que tem
ocorrido, com mais veemência e violência, nos últimos tempos, principalmente a
partir do pontificado do Papa Francisco.
Os tradicionalistas pregam a obediência, mas, muitos deles,
não a vivem. Falam que se deve respeito e obediência aos bispos e ao Papa, mas
se revoltam contra os Bispos, a Conferência dos Bispos e ao próprio Papa.
Porque não concordam com o jeito de ser, pensar, agir e pastorear do Papa,
dedicam-se a desmoralizá-lo. Onde ficam o respeito e a obediência? E a unidade
cristã? Pode alguém, em nome de Jesus, participar de um movimento sistemático
de perseguição e desmoralização dos Pastores da Igreja? Não seria isso papel de
quem aderiu ao estilo de ser e de agir do Anticristo?
No evangelho segundo João, diz Jesus: "Eu vos dou um
novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, assim também
vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois meus
discípulos: se tiverdes amor uns para com os outros" (Jo 13,34-35). Quem
calunia, difama e injuria o irmão não o ama, não pratica o mandamento novo dado
por Jesus. Portanto, está fora da comunhão eclesial. Não há meio termo, nem se
pode tolerar que a defesa da ortodoxia da fé ocorra por meio da violência
contra a boa fama das pessoas e das instituições.
Partindo desse pressuposto teológico, que está na base da
teologia da unidade cristã, consideremos os últimos ataques à Conferência dos
Bispos. Tem circulado nas redes sociais um vídeo, no qual aparece inúmeras
mentiras sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021. A mentira decorre da
falta de conhecimentos básicos e da malícia propositada de colaborar com a
divisão da Igreja. Muita gente mal informada e desprovida de formação teológica
básica tem se dedicado a destruir a unidade cristã.
Para afastar a confusão, muitas vezes, é preciso esclarecer
questões básicas, tais como:
1. O
Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) não é uma instituição
político-partidária de esquerda, mas um organismo que visa fortalecer o
testemunho ecumênico, fomentar o diálogo interreligioso e promover interlocução
com organizações da sociedade civil e com o governo para a promoção da justiça
e da paz.
2. A
Campanha da Fraternidade surgiu na Igreja Católica, com o objetivo de levar os
católicos a refletir sobre as questões que afetam diretamente a vida das
pessoas, na sociedade e na Igreja. Anualmente, a Campanha é proposta durante o
Tempo da Quaresma, por ser um tempo de penitência, oração, caridade e escuta da
Palavra de Deus.
3.
Pela quinta vez, a Campanha é realizada no formato ecumênico, ou seja, em
parceria com outras Igrejas cristãs, principalmente as que integram o CONIC. A
Igreja Católica integra o CONIC. O fato de ser ecumênica não significa que a
Igreja Católica esteja abrindo mão da sua identidade; pelo contrário, a
comunhão com irmãos e irmãs de outras Igrejas é uma necessidade vital para a
Igreja Católica, que tem se esforçado para testemunhar Jesus Cristo, de forma
ecumênica e interreligiosa, como ensina o Concílio Ecumênico Vaticano II.
4. A Campanha da Fraternidade não fere o espírito quaresmal, mas o torna mais fecundo e necessário. Não se trata de experiência comunista, nem sociológica, mas espiritual, teológica, pastoral e eclesial. O comunismo, como é falado pelos tradicionalistas nas redes sociais, não existe, porque é inventado por quem não se dar ao trabalho de estudar a história e o significado histórico e sociológico dos fatos e dos sistemas políticos e econômicos. No Brasil, o comunismo nunca existiu, nem na política nem no seio das Igrejas cristãs. O que existe é o capitalismo selvagem, expressão viva da atuação da elite econômica, que controla a economia e a política, contando com a conivência de muitos líderes religiosos.
5. O
texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, que tem como Tema:
"Fraternidade e diálogo: compromisso de amor", e Lema: "Cristo é
a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade" (Ef 2,14a), não promove
a denominada ideologia de gênero. A própria CNBB já se manifestou contra tal
ideologia. Não é prioridade da Igreja trabalhar esse tema, apesar da sua
importância. As urgências do momento são outras.
O que o texto faz é denunciar os crimes cometidos contra as
pessoas que integram a população LGBTQI+, por entender que tais pessoas são
filhas de Deus e cidadãs, merecedoras do respeito e da estima dos discípulos de
Cristo. Todo ser humano deve ser respeitado e promovido em sua dignidade. À luz
do Evangelho, toda forma de preconceito é antievangélica e, portanto,
inaceitável.
Por fim, e não menos importante, é preciso recomendar que as pessoas de boa vontade evitem compartilhar textos, vídeos e transmissões de falsos católicos que trabalham contra a unidade da Igreja. Não se deve dar ouvidos a essa gente. Quem se dedica à destruição da comunhão eclesial não deveria ser ouvido. A defesa e promoção da fé cristã passa, necessariamente, pelo respeito, diálogo, tolerância, reciprocidade, compreensão, caridade e pela cultura do encontro. Disseminar mentira e ódio é se colocar, frontalmente, contra a mensagem libertadora de Jesus de Nazaré, que nos deixou outro ensinamento importante e inviolável: "Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti" (Jo 17,21).
Tiago
de França
29 comentários:
Muito importante fazer esses esclarecimentos e mostrar o verdadeiro ensinamento do Evangelho. Para não deixar dúvidas.
Maravilha de reflexão!
Obrigado meu irmao foi muito bom entender o ecomenismo
Muito esclarecedor , obrigada ☺️
Parabéns. Claro e esclarecedor.
Gostei do esclarecimento,se faz necessário ,para não nos deixar levar a dúvidas
"Que todos sejam um,como tu, Pai, estás em mim, e eu em Ti". Porque chamar nossos irmãos de Católicos Diabólicos?
Todos são de Cristo não é mesmo?
Texto excelente, elucidativo que precisa ser compartilhado.Gostei mto da observaçäo" não se deve dar ouvidos a essa gente que se dedica a disseminar ódio, divisão e falsas informacões" isso mesmo. Eu,pessoalmente, faço questão de passar ao largo. Não leio keio, não dou ibope, não compartilho , nao comento, não discuto. Simples assim: ignoro!
Texto perfeito! Grande Tiago!! Deus o abençoe!!
Oremos pelos que plantam cizânia dentro de nossa Igreja!!
Quem não tiver capacidade para refletir que não se julgue "dono na verdade".
A VERDADE sobresairá.
A VERDADE não precisa de se explicar.
Cristo sofreu calado. "Ele não abriu a boca" no seu sofrimento pois, Ele É a VERDADE é SILÊNCIO.
Parabéns pelo texto elucidativo ele nos faz compreender de fato o real objetivo da campanha da fraternidade Ecumênica 2021. "O que era dividido Cristo fez unidade"
Infelizmente vivemos momentos de muita falta de discernimento e ódio, principalmente aos empobrecidos, terreno fértil aos falsos pastores, verdadeiros lobos em pele de cordeiros.
Muito bom este comentário, e o esclarecimento
Glória a Deus!!!
Deus seja louvado!!!
O texto é belíssimo e é assim que temos de pensar e viver.
Papa Bento XI Que Deus te ilumine sempre.
Gostei do texto do Tiago apesar de ter algumas duvidas. Ja os comentarios contra me chamaram a atencao, pelas ofensas e piadas. Sao tao raivosos que nao tenho vontade de refletir o que esta escrito porque parece ser mais uma declaracao de odio. Gracas a Deus, nao vivo mais no Brasil e tirei meus filhos dai. O pais tornou-se insano.
Concordo com você.
Por isso, vamos orar muito.
Parece que as nossas lideranças não encontraram Deus ainda.
Não posso sair do Brasil o que posso fazer é rezar mais.
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