quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Marina Silva do PSB

             Em nosso segundo artigo sobre as eleições deste ano, queremos dar uma palavra sobre a candidata Marina Silva do PSB. Ela tem despertado o interesse de muita gente. Após a morte do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, Marina Silva cresceu em visibilidade política. Todos os que querem votar nela pensam que ela representa um novo projeto de mudanças para o país. A análise de algumas contradições comuns às três principais candidaturas à presidência nos mostrará que tal projeto de mudanças não existe.

            Marina Silva é de origem humilde e aprendeu a fazer política no PT. No PSB ela é uma estranha. Seus ideais políticos não estão contemplados no estilo PSB de fazer política. Juntamente com Eduardo Campos, ela ocupava a chapa de forma discreta. Sua trajetória política é conhecida por todos. Crente da Assembleia de Deus, ganha a simpatia e o voto de muitos crentes das denominações religiosas. Não fala com clareza de questões como aborto, homossexualidade, adoção de crianças por parte de homossexuais, entre outros temas pertinentes, mas nas entrelinhas aparecem opiniões religiosamente conservadoras.

            Marina Silva saiu do PT após este partido cair na desorientação política. O PT entrou numa grave crise de identidade política porque alguns de seus membros, dentre os que tinham mais influência, deixaram-se dominar pela sede do poder, do prestígio e da riqueza, tornando-se, desse modo, corruptos. É uma verdade inquestionável, apesar do sensacionalismo midiático, que quis convencer a todos que a corrupção no país nasceu com o PT, e do oportunismo do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que se aproveitou da Ação 470, que apurou o mensalão petista, para promover-se politicamente. No momento, o ex-ministro desapareceu, mas está estudando o momento para reaparecer.

            Tendo deixado o PT e passado pelo PV, tentou criar um partido político, a Rede, mas não conseguiu. Não poderia ficar de fora, então procurou Eduardo Campos e seu partido. Claro que tinha que ser acolhida para compor a chapa, apesar das reservas feitas. Que reservas? Numa tentativa desesperada de manter certo histórico ilibado em matéria moral, Marina Silva tenta convencer o PSB da necessidade de um projeto pautado na sustentabilidade, ambientalmente possível.  

Meio ambiente não é o forte do PSB. O partido não se preocupa com questões ambientais. A escolha do vice para compor a chapa é uma resposta clara que Marina deve ter compreendido bem: Beto Albuquerque, intimamente ligado ao agronegócio, setor que não tem se preocupado com a preservação do meio ambiente. Não estamos falando de um apoio qualquer, mas do vice da candidata.

A permanência de Marina Silva no PSB, após as eleições, é incerta. Ela se encontra em um ambiente que lhe é desfavorável. E o pior é que não está sendo fiel aos princípios que julga ter. Trata-se de uma candidata que não pertence a partido nenhum, permanecendo no PSB somente para alcançar o posto de presidenta da República. Isto se chama oportunismo descarado! Geralmente, políticos oportunistas não falam abertamente de suas convicções, pois temem ser ignorados. Desse modo, sempre falam o que o povo deseja ouvir. Facilmente, se percebe que o discurso é incoerente. Neste ponto, seu plano de governo é revelador.

            Outro fator preocupante são as alianças políticas. Se por um lado a candidata se recusa a subir em alguns palanques, frutos das estranhas alianças do PSB em alguns estados, por outro lado, recebe apoio de pessoas ricas e ambiciosas, como é o caso de Neca Setúbal, herdeira do banco Itaú. O apoio deste banco compromete, gravemente, a candidatura de Marina Silva, pois se trata de uma instituição financeira endividada com o Governo. São muitos milhões de reais de sonegação fiscal.  

Caso seja eleita, a Receita Federal vai encontrar sérias dificuldades para executar a cobrança, e o motivo não precisamos explicar. Portanto, cai por terra o discurso da candidata quando afirma que este e outros apoios que tem recebido são de grupos e pessoas ilibadas e comprometidas com o autêntico progresso econômico, político e social do país. Nenhuma instituição financeira faz doação a quem quer que seja, mas efetua empréstimos, exigindo o pagamento de alguma forma. Instituições financeiras não trabalham com gratuidade. É a política de interesses corporativistas.

            Governar para unir o Brasil e com a participação de todos: estes dois pontos aparecem, repetidamente, nas falas da candidata Marina. O que significa unir o Brasil? Como se daria esta participação? Estes dois aspectos do discurso da candidata se opõem, aparentemente, ao que tem chamado polarização PT – PSDB. Tenta-se transmitir a ideia de que a candidatura do PSB é algo novo para a construção de um novo país, mas o que, efetivamente, há de novo?

Seria novidade a disposição para receber apoio de quem quer que seja, indiscriminadamente, sem nenhum discernimento? Seria novidade a substituição de pessoas para fazerem as mesmas coisas? Seria novidade o reforço às políticas sociais implementadas pelo governo Lula? Parece que não. A novidade seria uma segunda mulher, de origem humilde, politicamente fragilizada, chegar à presidência da República, sem ser pelo PT nem pelo PSDB. Esta parecer ser a única novidade. Novidade que não mudaria a conjuntura política, social e econômica do país.  

            Boa parcela dos insatisfeitos com o governo Dilma e que não quer votar no candidato Aécio Neves do PSDB, certamente irá votar em Marina Silva, acolhida no PSB. Três fatores tem colaborado para o seu crescimento na corrida presidencial: primeiro, a morte do Eduardo Campos, que comoveu o país; segundo, sua origem humilde e seu jeito petista de fazer política e, terceiro, sua identificação com as questões ambientais.  

Ao que tudo indica, caminha-se para uma nova polarização. Marina Silva é uma versão semelhante do presidente Lula, com quem aprendeu a ser política. Caso seja eleita, seu governo será de continuidade, como foi o governo Dilma em relação ao do presidente Lula, ressalvando-se, claro, que Marina Silva não possui, considerando sua personalidade, a mesma firmeza da presidenta Dilma.  

Enquanto Marina Silva tem facilidade no emprego da palavra, Dilma tem maior facilidade em lidar com questões administrativas. Seus ministros podem testemunhar muito bem a sua firmeza ao lidar com a gerência de cargos de confiança. Caso seja eleita, Marina Silva terá que aprender a lidar com o jogo de interesses que domina o cenário político. Considerando esta pretensa unidade política em vista do bem comum, ao assumir o cargo, irá sentir que tal unidade está longe de ser realidade no Brasil. Uma profunda reforma política talvez dê conta de amenizar a sede de poder que domina a maioria dos políticos do país.

            Enfim, aos possíveis eleitores de Marina Silva, pedimos, cordialmente, que considerem o que expomos com muita liberdade. Não consideramos tal candidatura uma novidade no campo político do país. Encontrar-se-ão com a frustração aqueles que pensam o contrário. Infelizmente, não podemos esperar novidade no atual cenário político. O novo até existe, mas parece marginalizado pela maioria. Não estamos questionando o que se passa na vida pessoal dos que pretendem ser representantes do povo brasileiro, mas a maioria que está liderando as intenções de voto padece pela ausência de um projeto político renovador e realmente comprometido com as grandes causas do país.

Tiago de França 

Nenhum comentário: