Quando acompanhei a primeira
aparição de Francisco ao mundo e ouvi que o mesmo veio da América Latina e é
jesuíta, fiquei emocionado e disse a mim mesmo: Não! O Espírito está presente
na Igreja! Vibrei de alegria e agradeci a Deus por tão grande feito! De fato,
desde então, a Igreja ganhou novo alento. Tem algo novo acontecendo. A
humildade e a simplicidade voltaram a aparecer em Roma. O ambiente onde
Francisco habita é tomado pela sua presença de espírito forte e cativante.
Os gestos e as palavras do atual
bispo de Roma são simples e provocantes. Certamente, seus opositores na Cúria
Romana andam preocupados, desconcertados, com medo do que vai acontecer. Em
todo tempo e lugar, as pessoas que alicerçam sua vida na falsidade e no apego
ao dinheiro e ao poder se sentem profundamente ameaçadas pelos profetas e
profetisas de Deus. A profecia é a palavra de Deus: forte, simples, penetrante,
que denuncia insistentemente o mal e anuncia a Boa Nova do Reino de Deus.
A historiografia bíblica e a
história da Igreja mostram a sorte dos profetas: incompreendidos, odiados,
injuriados, perseguidos e mortos. São poucos os profetas que tem vida longa e,
portanto, alcançam a velhice. Os inimigos do Reino de Deus, que são demônios encarnados,
portanto, mulheres e homens que constituem a força do anti-Reino não dormem nem
cochilam, mas vivem espionando a vida dos profetas, semelhantemente aos
doutores da lei e fariseus, que espreitavam Jesus para surpreendê-lo em alguma
falha. Esses demônios são astutos, são filhos das trevas, inimigos da verdade e
da liberdade, gente perigosa que não perde uma ocasião para fazer o mal e
eliminar os operários da vinha do Senhor.
Quem desconhece a história e a estrutura
burocrática e corrupta do Vaticano não entende a existência e extensão dos
problemas nele contidos. Optando pelo evangelho de Jesus, que é oposto ao poder
que oprime, o Papa Francisco já conta com muitos adversários, e estes não se
encontram no meio do povo pobre, mas na hierarquia da Igreja, principalmente
dentro do Vaticano. Por isso, é preciso ter muito cuidado e jogo de cintura
porque não se trata de uma estrutura jovem, mas milenar, constituída de vícios,
luxo, desvios, desordem, desumanidades, hipocrisia, entre tantos outros males. Francisco
sabe que em Roma há homens que celebram Missa sem acreditar em Jesus Cristo.
Não bastam soluções paliativas para
resolver os problemas gritantes da Igreja. As mudanças só são possíveis se as
estruturas forem mudadas. Não adianta falar de pobreza se não se renuncia à
riqueza. Não adianta falar de evangelho se o direito canônico é o que domina.
Não adianta falar de carreirismo se as estruturas o proporcionam. Não adianta
falar de vida humilde em meio à ostentação. Não adianta falar do poder opressor
se as estruturas de poder são mantidas. Se não houver mudanças estruturais, por
mais santas que sejam as pessoas, tudo continuará do mesmo jeito.
Quando um enfermo não é tratado, por
mais que queira viver, certamente morrerá. Sem mudanças estruturais nenhuma
instituição sobrevive. Tanto as pessoas quanto as instituições, por uma
exigência da evolução do tempo, precisam passar por mudanças. Não vivemos na
eternidade, mas estamos sujeitos ao espaço e ao tempo, consequentemente, à
evolução cultural e cósmica. Que o Espírito continue guiando e fortalecendo
Francisco, para que permaneça firme no caminho que abraçou, e que o evangelho
de Jesus prevaleça.
Tiago de França
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