O dia 8 de março é uma
excelente oportunidade para homenagearmos as mulheres. Claro que elas podem ser
reverenciadas o ano todo, mas o dia de hoje tem um tom especial. Trata-se de
uma data para reivindicarmos a igualdade entre mulheres e homens, assegurada
tanto nas leis humanas quanto na lei divina.
À luz da Bíblia, no livro do Gênesis, Deus criou a mulher
para ser companheira e não para ser concorrente ou inimiga do homem. Ser
companheira não significa ser auxiliar ou serva do homem. Essa é uma
interpretação falsa do texto bíblico, pois Deus não criou uma escrava para o
homem.
Companheirismo é sinônimo de igualdade e liberdade. Em
relação ao homem, a mulher deve ser tratada como pessoa livre, e não como
objeto de satisfação de desejos. O machismo que se enraizou nas culturas pelo
mundo afora continua sendo algo tão forte que muitas mulheres, infelizmente,
terminaram assimilando o sentimento de submissão, transformando-se em objeto
nas mãos de muitos homens.
Somente na modernidade tardia, a partir do século
passado, é que a mulher resolveu ousar ocupar o espaço público. A mulher sempre
foi considerada “coisa” do lar. Reservaram para ela os afazeres domésticos e a
criação da prole. O mercado de trabalho e o mundo da política foram pensados
para os homens. As rodas de conversa sobre política, trabalho e economia só
contavam com a participação dos homens. As mulheres viviam na cozinha,
conversando sobre assuntos que somente eram delas.
“Senhor meu marido”: esta era a forma de tratamento das
mulheres em relação aos seus donos. O homem era o senhor, e a este se deve o
respeito e a obediência; e esta postura não era recíproca. O homem se sentia no
direito de agredir, física e verbalmente, caso a mulher não o respeitasse e
obedecesse. Nesta época profundamente patriarcal, a religião confirmava essa
violência, ensinando as mulheres a serem servas obedientes, senhoras honradas
do lar. Nas Igrejas, os líderes religiosos liam a Bíblia ao pé da letra,
impondo às mulheres o fardo da servidão. Até hoje, muitos pastores continuam
lendo a Bíblia dessa forma.
Tratar a mulher com inferioridade não é somente um grave
equívoco cultural, mas é, sobretudo, alimentar uma falsa visão de si mesmo.
Quando o homem enxerga a mulher como um ser inferior, isto é um sinal evidente
de que não tem uma imagem positiva de si mesmo. Quem inferioriza o outro tem
algo desajustado em si mesmo. Homem e mulher são categorias da cultura que
estão muito além do macho e fêmea. Com a evolução da humanidade, homem e mulher
precisam rever os conceitos que criaram para designar seu papel no mundo. Quem
são e como devem se relacionar? Esta é uma questão que precisa ser revista à
luz da situação das vítimas.
A desigualdade de gênero não é criação divina, não é
fruto do acaso ou da falta de sorte, mas é criação da forma distorcida como o
homem concebeu a sociedade e as relações interpessoais ao longo da história. Por
isso, é uma situação que pode e deve ser corrigida, e esta correção passa,
necessariamente, pela participação da mulher. É esta que deve dizer o que
deseja ser e fazer. Não é o homem que deve abrir algumas brechas na sociedade
para que a mulher faça alguma coisa. Não! A mulher precisa conquistar o seu espaço,
de forma pacífica, humilde e perseverante.
O feminismo extremado afirma que o momento atual
constitui “a vez das mulheres”. Facilmente, encontramos mulheres afirmando que
agora é a vez da mulher dominar. Isto é um erro gravíssimo. Não representa
nenhuma superação e evolução social a mulher deixar de ser serva e tornar-se
senhora do homem, passando de uma situação de dominada para dominadora. Isto é
um retrocesso.
Neste
contexto, não temos promoção da igualdade entre os gêneros, mas uma guerra
inútil, que somente gera sofrimento tanto para o homem quanto para a mulher. E
o pior é que na competição irracional entre mulheres e homens, estes se mostram
mais violentos. Por instinto, se mostram capazes de absurdos que a história não
nos deixa mentir. No mundo inteiro, todas as formas de violência são,
predominantemente, praticadas pelos homens.
Atualmente, tem algo que nos causa preocupação e que
precisamos, antes de concluir o presente artigo, mencionar com pesar. Infelizmente,
muitas mulheres não contribuem com o próprio processo de emancipação, cedendo
ao machismo. São mulheres que se entregam nas mãos de homens que as exploram,
impiedosamente. O hedonismo de nossos dias transforma inúmeras mulheres em
objetos de satisfação sexual, e, por não terem consciência do próprio valor,
ocorre uma vergonhosa exposição do corpo feminino, que passa a ser praticamente
vendido aos homens; apresentado como mercadoria a ser usada e descartada.
Neste
sentido, muitas mulheres não cuidam do corpo, mas o embelezam e, artificialmente,
o modificam (silicones, plásticas etc.) em função de poder satisfazer o desejo
sexual do homem. Estas mulheres não se importam consigo mesmas, mas vivem em
função de despertar o desejo sexual do homem. Muitas, expõem-se ao ridículo, e
chegam ao ponto de serem tão artificiais que já não mais se reconhecem. Este
fenômeno pós-moderno tem um nome: Coisificação do corpo feminino. Para
justificarem-se diante da crítica, elas respondem: “O que importa é ser feliz,
e ser feliz é sentir-se bem!” Visivelmente, percebe-se a falta de conhecimento
daquilo que se fala, ou seja, falam de uma felicidade que verdadeiramente
desconhecem. Tal postura não contribui em nada na emancipação feminina, mas
somente reforça o machismo da sociedade patriarcal.
Toda
mulher é capaz de trilhar o caminho da liberdade. Para que isto ocorra são
necessários alguns valores e posturas fundamentais: Respeito a si mesma; andar
de cabeça erguida; cultivar a solidariedade; não se sentir inferior ao homem;
adquirir um senso aguçado de justiça para reclamar os direitos que a lei
assegura às mulheres; ter coragem de denunciar os abusos cometidos pelos
homens; ter cuidado para não perder a sensibilidade e a ternura, marcas
profundamente femininas; conscientizar-se da necessidade de avançar na
conquista do espaço público, em todas as esferas sociais, especialmente no trabalho
e na política; não enxergar o homem como inimigo, mas como amigo e companheiro;
criar os filhos, juntamente com o companheiro e/ou companheira na perspectiva
da igualdade de gênero; enfim, ser protagonista da própria história,
tendo a vida na palma das próprias mãos.
Desejamos
a todas as mulheres, saúde, discernimento, coragem e muita força! O mundo
certamente seria insuportável sem a ternura das mulheres. O calor feminino
certamente torna a vida mais forte e feliz.
FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!
Tiago de França
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