“Marta,
Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é
necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc
10, 41-42).
Jesus estava na casa de duas mulheres: Marta e Maria (cf.
Lc 10, 38-42). Quem recebeu Jesus foi Marta, mas quem se sentou aos seus pés,
para escutar a sua palavra, foi Maria. Enquanto esta escutava a palavra de
Jesus, aquela se ocupava com muitos afazeres. Vendo a irmã ocupada com Jesus,
Marta reclama a sua ajuda, e pede a Jesus que ela se prontifique a ajudá-la. E a
resposta de Jesus é a que introduz esta meditação breve. Os gestos e palavras
destas mulheres e de Jesus tem muito a nos dizer hoje.
Segundo Jesus, Marta estava preocupada e agitada com
muitas coisas. Esta parece ser a situação da maioria das pessoas hoje. Preocupação
e agitação fazem parte do mundo atual, muito mais que em outras épocas. Isso tem
matado muita gente. O mundo está cheio de gente atormentada, que há muito tempo
perdeu a paz interior. São pessoas atribuladas pelas preocupações e agitações,
vítimas de um sistema econômico que explora e mata.
Ninguém se preocupa e se agita à toa. Na medida em que a
vida vai se tornando difícil, por causa das mínimas condições de vida que deveriam
ser acessíveis a todas as pessoas, então termina-se por assistir à confusão da
vida pós-moderna. Diante das inseguranças e constantes ameaças, as pessoas
ficam preocupadas com o amanhã, agitando-se facilmente. É uma realidade compreensível.
Viver em paz nos dias de hoje é um ideal cada vez mais distante.
Jesus ensina que não há necessidade de vivermos
preocupados e agitados com tantas coisas. A serenidade é uma virtude cristã,
uma virtude desafiadora. Somente se livra do excesso das preocupações e
agitações aqueles que realmente se entregam nas mãos de Deus e nele esperam. É necessário
confiar em Deus, pois Deus é a segurança daqueles que seguem Jesus. É verdade
que somos, diuturnamente, atingidos por más notícias e tribulações, mas a
confiança em Deus gera certa serenidade, gera a paz de espírito.
Confiar em Deus não significa esperar que Ele resolva
todas as coisas, na hora em que bem quisermos. Deus não substitui o agir
humano, mas é o Pai providente, que caminha junto, abrindo o caminho que conduz
à vida plena. No mundo encontramos muitas pessoas que dedicam todo o seu tempo
ao trabalho. Trabalhar é necessário, mas a vida não é feita somente de
trabalho. De que adianta tanto trabalho para acumular riqueza, se a vida
biológica pode encontrar o seu fim a qualquer momento? É necessário tempo para
outras coisas, principalmente para a escuta da palavra de Jesus.
No seio das comunidades cristãs também encontramos o
chamado ativismo religioso. As pessoas se cansam de tantos eventos religiosos,
e depois descobrem que evangelizaram pouco. A experiência de Jesus mostra que
não são os eventos religiosos que evangelizam. As primeiras comunidades cristãs
não viviam de eventos religiosos. Hoje, nossas Igrejas cristãs apreciam os
grandes eventos, com grandes multidões. Mas o seguimento de Jesus não é para
multidões. O seguimento de Jesus ocorre no cotidiano da vida das pessoas. Os eventos
não estão em função do seguimento, mas em função da religião.
Há uma
grande diferença entre ser cristão e ser religioso. É possível que uma pessoa
possa ser cristã e religiosa, mas o que temos é muita religião e pouco
seguimento de Jesus. Muito culto e construções de templos para pouca prática do
amor-doação; muita religiosidade e muita injustiça. O seguimento de Jesus
passa, necessariamente, pelo essencial, que Maria escolheu bem: escutar a
palavra de Jesus.
O que
significa escutar a palavra de Jesus hoje? Para responder acertadamente,
precisamos identificar o lugar de fala de Jesus em nossos dias: Onde Jesus está
falando? A experiência missionária de Jesus fala da predileção de Deus pelos
pobres e marginalizados. Eis o lugar a partir do qual fala Jesus às nossas consciências
e às nossas Igrejas: Jesus nos fala pela boca dos pobres e marginalizados. Estas
pessoas o conhecem, mesmo desconhecendo as narrativas bíblicas sobre o
Nazareno. Deus se revela no meio e a partir dos pobres e marginalizados. É o
que toda a história da salvação nos revela.
Para ser
cristão é necessário escolher o essencial: escutar a palavra de Jesus. Para isso,
é também necessário se aproximar dos portadores da palavra de Jesus: os pobres
e marginalizados. Eles carregam a palavra de Jesus na boca e no coração. Aliás,
carregam a palavra de Jesus em sua carne sofredora. Os pobres e marginalizados são
a carne sofrida de Jesus Cristo. São sacramentos da manifestação de Deus no
mundo. Isto é profundamente místico e belo, profético e revelador. Precisamos nos
curvar diante deste mistério, e nos deixar envolver por ele.
Por isso,
quem escuta a palavra de Jesus no culto e depois trata o próximo com
indiferença, não escutou a palavra. Escutar não é somente parar e dar ouvidos. Escutar
é acolher o que a palavra de Jesus diz: Amai-vos
uns aos outros como eu vos amei. Esta é a palavra de Jesus. Somente quem
ama verdadeiramente, é que escutou, de fato, a palavra de Jesus.
O mandamento
do amor é a palavra que salva e que dura para a vida eterna. Trata-se de uma
palavra exigente, firme, clara, simples, penetrante e redentora, dirigida a
todos. Não há salvação fora desta palavra. Portanto, quem quiser ser salvo,
escute e acolha a palavra de Jesus: Ame o próximo como Jesus amou. Isto significa
escolher o essencial.
Tiago
de França
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