sábado, 24 de outubro de 2009

Dia Nacional da Juventude 2009


Neste dia 25 de outubro, a PJ – Pastoral da Juventude no Brasil celebra o DNJ – Dia Nacional da Juventude. O tema deste ano é: “Contra o extermínio da juventude” e Lema: “Juventude em marcha contra a violência”. Trata-se de um dia de oração e reflexão sobre a realidade dos jovens em nosso país, que é celebrado desde 1986 pelo Setor Juventude da CNBB e as Pastorais da Juventude do Brasil. Inicio esta reflexão com alguns números e constatações assustadoras:

- Segundo o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros – 2008, entre 1996 e 2006 o índice de homicídios na população jovem teve um aumento de 31,3%, enquanto na população total foi de 20%;

- Os negros representam um índice de vitimização 73,1% superior aos brancos na população total e 85,3% superior na juventude;

- A violência contra os povos indígenas, ocorrida entre os anos de 2006 e 2007, aumentou mais de 60%, sendo a maioria jovens;

- Sete milhões de jovens brasileiros não trabalham nem estudam;

- Segundo a Pastoral Carcerária, os presos são, em geral, jovens, pobres, analfabetos e negros;

- Segundo dados do Ministério Público, somente no Distrito Federal, entre 2003 e 2005, 178 jovens foram mortos enquanto cumpriam medida socieducativa;

- Segundo dados do Ministério da Justiça, os jovens de até 24 anos são aqueles que figuram nas estatísticas com mais de 46% do total das vítimas de homicídios intencionais e mais de 50% dos autores no ano de 2005;

- Um estudo da OIT - Organização Internacional do Trabalho concluiu que 15% dos jovens que trabalham no tráfico têm entre 12 e 14 anos;

- Segundo o IHA – Índice de Homicídios na Adolescência, divulgado em julho passado, que analisou 267 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, concluiu que, dentre todas as causas de mortalidades de adolescentes entre 12 e 18 anos, 45% foi por homicídio, seguida por morte natural (25%) e acidentes (22%).

Esta é a triste realidade de nossa juventude brasileira. Não se trata de uma visão pessimista ou ideologia anti-neoliberal, mas da realidade dos jovens brasileiros. São números que nos envergonham, porque provam o descaso em relação à situação juvenil. Enquanto milhares de jovens morrem todos os anos no Brasil, nossos governantes estão preocupados com a descoberta das novas jazidas de petróleo e com as eleições de 2010. Está mais que provado que os jovens são as maiores vítimas da violência urbana de nosso país. Basta observarmos o número dos que compõem as gangues que têm enfrentado a polícia nos conflitos das favelas do Rio de Janeiro. São jovens os chamados “bandidos” das favelas do Rio de Janeiro e das favelas presentes nas demais capitais de nosso país. Quais as razões da não priorização da juventude brasileira?

No cenário religioso, observa-se a mesma coisa. Nas comunidades paroquiais, são poucos os párocos que priorizam ou apóiam a juventude. A Igreja, com sua linguagem quase que inacessível, nela os jovens não se sentem acolhidos. A nossa Igreja parece não saber evangelizar e deixar-se evangelizar pelos jovens. Eles são tidos como rebeldes, delinqüentes, dispersos, que mais atrapalham do que ajudam. Quando a Igreja olha para os jovens, é para convidá-los para integrarem as pastorais e organismos paroquiais. E quem disse que os jovens estão preocupados em ajudar na manutenção dos organismos paroquiais (pastorais de manutenção)? Não estão interessados e nem podem se interessar! A renovação da Igreja, no seu jeito de ser e de agir no mundo, certamente passa pela juventude. Não se trata de a Igreja se converter aos jovens, nem os jovens se converterem à Igreja, mas na jovialidade da missão, todos se converterem ao Cristo, que não era sacerdote e nem idoso, mas o jovem missionário do Pai e evangelizador dos pobres. A abertura e o diálogo, tanto da parte dos jovens quanto da Igreja, são de fundamental importância para a construção de um novo jeito de ser Igreja.

O que fazer diante da terrível situação da juventude brasileira? Não esperemos que o sensacionalismo dos canais de TV, principalmente da TV Globo e suas afiliadas, o mercado neoliberal e os governantes descomprometidos com as verdadeiras causas de nosso país façam alguma coisa pelos jovens. Todos eles só pioram a situação, pois são mentirosos e enganadores. Só querem lucrar em cima da desgraças que ocorrem com nossos jovens. Quando os jovens cometem violência, o sensacionalismo midiático publica e ganha dinheiro com o Ibope. E o mercado dita o que os jovens devem consumir. É uma verdadeira ditadura ideológico-midiática que os jovens, fracos na formação da consciência, não suportam enfrentar.

Por isso, a Igreja, o Estado, a Família e a Escola têm profundas responsabilidades no futuro da juventude. Todos têm a missão de colaborar na construção de um futuro melhor, que pode surgir a partir de uma juventude que pensa e age de forma responsável, consciente e organizada. Quando vejo jovens desorientados e dispersos, violentos e tidos como “perdidos”, sinto que vivemos numa sociedade dispersa, violenta e perdida. Os jovens são frutos do meio em que vivem. Isto prova que as instituições acima mencionadas estão faltando gravemente. Se tais instituições não planejarem ações integradas para salvar a sociedade e de modo especial a juventude, a guerra civil a que assistimos se agravará cada vez mais. É hora de quebrar os preconceitos e deixar de lado as resistências para juntos agirmos em favor de um país melhor. Todos sabem do problema, pois o mesmo é a realidade crua e nua do país atual. Até quando suportaremos viver desse jeito? Será que estamos assistindo a uma regressão na evolução da espécie humana sobre a face da Terra? O que está acontecendo com o ser humano, que não age diante de sua autodestruição?...

O Dia Nacional da Juventude é uma boa oportunidade para pensar a realidade. Não podemos negá-la, pois estamos morrendo. A vida dos jovens é a vida do país, pois os jovens devem ser os protagonistas da história. Se não temos jovens conscientes e organizados, penso que não teremos um futuro promissor para o Brasil. Não podemos ocultar que há várias ações em favor da vida juvenil sendo praticadas em nossa sociedade e que precisam de apoio e incentivo. Ver, julgar e agir é preciso urgentemente, antes que seja tarde demais! Enquanto cristãos, acreditamos na vida porque o nosso Deus é vida plena, por isso, lutemos pela vida do futuro de nossa Igreja e de nosso país, que são os jovens.


Tiago de França

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