terça-feira, 30 de setembro de 2014

A palavra de Deus e a liberdade humana (por ocasião do "Mês da Bíblia")

“Sede praticantes da Palavra, e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Com efeito, aquele que ouve a Palavra e não a põe em prática é semelhante a alguém que observa o seu rosto no espelho: apenas se observou, sai e logo esquece como era a sua aparência. Aquele, porém, que se debruça sobre a Lei perfeita, que é a da liberdade e nela persevera, não como um ouvinte distraído, mas praticando o que ela ordena, esse há de ser feliz naquilo que faz” (Tiago 1, 22 – 25).

Amigos e amigas, irmãos e irmãs no Cristo Jesus,

Graça e paz!

            Mais uma vez me dirijo a vocês para lhes transmitir uma palavra por ocasião do “Mês da Bíblia”. Exortar as pessoas, em nome de Deus, para ajudá-las no seguimento de Jesus, é um ofício que me ocupa desde a minha infância. Pelo batismo somos chamados a isto: sermos evangelizadores, missionários do evangelho de Jesus. Este é o ofício que Jesus partilha conosco. Portanto, somos partícipes da missão de Jesus. Isto é sublime e maravilhoso. A vida da humanidade depende da nossa disposição de anunciadores do mandamento por excelência: o amor, que é capaz de salvar, indistintamente, a todos.

            Para esta mensagem, escolhi os versículos da Carta do apóstolo Tiago, transcritos acima. São palavras de Deus que nos convidam a pensar na maneira como lidamos com a Sua palavra. Os cristãos são acusados pelos que se dizem ateus e por alguns outros de outras religiões, de sermos pessoas relaxadas, que somente louvamos e bendizemos a Deus, mas que não nos preocupamos com a prática da palavra de Deus. Em parte esta acusação é verdadeira. Na mensagem que escrevi por ocasião do “Mês das vocações”, me perguntava: Por que será que o Brasil tem tanta corrupção, apesar de ser o maior país cristão do mundo?... A maioria da população de nosso país afirma ser cristã. Tanto na política quanto no cotidiano da vida do povo encontramos, com certa facilidade, uma forte tendência cultural à corrupção. O famoso “jeitinho brasileiro” resolve praticamente tudo na vida de muitos. Parece que nos acostumamos com a corrupção e passamos a nos surpreender quando nos encontramos com pessoas honestas, transparentes e íntegras.

            É verdade que cada pessoa não é em si mesma totalmente boa, nem totalmente má. O joio e o trigo estão misturados em nós. Somos seres tendenciosos. Temos nossas más inclinações. A realidade, no entanto, tem demonstrado que estamos perdendo cada vez mais o controle sobre nossas tendências e/ou inclinações. A relativização de valores fundamentais como o amor, a solidariedade e o perdão está transformando o mundo em um caos. Assistimos a uma generalizada crise de humanidade. As inúmeras formas de violência não são contidas. O ser humano se transformou em mercadoria: é comprado, usado e descartado. Assiste-se a tudo isto com perplexidade e, às vezes, com naturalidade. Clama-se por justiça, mas as injustiças se proliferam. Vejam a guerra entre Israel e Palestina: mais de duas mil pessoas mortas! No Brasil, anualmente, cinquenta e seis mil pessoas são assassinadas por ano! Não estamos falando de coisas, mas de pessoas. Qual é o valor da vida humana?...

            O que nós temos que ver com isso? Esperando minha vez de ser atendido por um cabelereiro, escutei um senhor aparentemente instruído, dizer: “Aquele povo do Oriente Médio é um bando de doidos! Tem mesmo é que morrer! Bandido tem que morrer!” No seu pescoço, um crucifixo de ouro e em um dos pulsos, um escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Vejam o tipo de cristão que temos: pessoas que frequentam o culto e desejam a morte de seu semelhante. Aquele senhor representa milhões de cristãos. Aliás, de pseudocristãos. Quem deseja a morte de seu semelhante, por “pior” que este seja, não merece o nome de cristão, pois Jesus doou a sua vida para a salvação de todos, indistintamente. Este mau exemplo é para ilustrar a frieza oriunda da indiferença de muitos que se dizem cristãos. Se nos afirmamos cristãos e os problemas das pessoas e do mundo não nos interessam, nosso cristianismo é mentiroso e nocivo.

            O que nos ensina o apóstolo Tiago nos versículos acima transcritos? Ensina-nos, em primeiro lugar, a sermos praticantes da palavra de Deus, e não meros ouvintes. É verdade que não existe no mundo um cristão sequer que seja capaz de praticar com perfeição a palavra de Deus. Ninguém é perfeito e Deus não nos exige a plena observância. Deus sabe de que somos feitos, mas isto não justifica a forma como muitos cristãos procedem no mundo. O Espírito do Senhor, que trabalha diuturnamente em nossos corações, é nossa força e nos auxilia na prática da palavra de Deus. A escuta, a meditação e a prática da palavra de Deus só nos são possíveis graças à ação do Espírito do Senhor. Somente com seu auxílio é que podemos compreender a vontade de Deus explicitada nas Escrituras. Este mesmo Espírito nos motiva ao encontro da palavra do Pai, nos ajuda a compreendê-la e a praticá-la no cotidiano da vida. Isto significa um caminho, um itinerário capaz de nos transformar interiormente, concedendo-nos a graça de sermos continuadores da missão de Jesus.

            Em segundo lugar, o apóstolo Tiago nos ensina que a palavra de Deus é a Lei da liberdade, que, se a observarmos, seremos, de fato, felizes naquilo que buscarmos fazer. Quem não deseja ser livre não deve se debruçar sobre a palavra de Deus. A liberdade é a consequência inevitável do encontro com a palavra do Pai. Nenhuma lei criada pelo ser humano é capaz de libertar as pessoas. As leis humanas são instrumentos de opressão, pois, na maioria dos casos, somente condenam os mais fracos. A lei de Deus é a Lei da liberdade, pois a esta somos chamados. Quem a observa consegue se libertar de qualquer espécie de mal.

O que é esta Lei da liberdade? É o amor. Este é a via única pela qual podemos ser livres. Quando amamos o próximo como a nós mesmos estamos praticando a Lei da liberdade. Amar o próximo com atos, e não com meras declarações de amor. Nenhuma declaração transforma interiormente as pessoas: nem quem a emite, nem quem a recebe. O amor que não passa é o amor de atos, que acontece no encontro com o rosto do outro. Quem se recusa a amar o próximo pode apresentar qualquer forma de justificativa, mas nenhuma é válida diante de Deus. Na Lei da liberdade não há meio termo: ou amamos, ou não amamos. Quem optou por não amar, fica preso ao seu egoísmo e nele perecerá. Em Cristo Jesus não há salvação para quem não ama. Isto significa a Lei da liberdade: o amor ao próximo como a si mesmo até as últimas consequências. Isto é seguimento de Jesus, caminho de liberdade aberto a todos. O amor é a condição para ingressar, permanecer e perseverar neste caminho. Quem não está disposto a amar o próximo não pode seguir Jesus.

Por fim, amigos e amigas, quero me despedir fazendo-lhes uma breve recomendação quanto às eleições deste ano: primeiro, vejam o passado do candidato; segundo, escolham livremente, visando o bem comum; terceiro, cuidado com o que fala a mídia deturpadora dos fatos, principalmente a Rede Globo; quarto, observem se as propostas do candidato são reais ou ilusórias, e quinto, votem naquele que já fez, de fato, o que foi possível fazer para o bem de todos, com verdade e dignidade. Para maiores esclarecimentos, entrem em meu blogue na Internet (cf. Com Jesus na contramão: http://tiagodefranca.blogspot.com). Neste, disponibilizo alguns artigos sobre as três principais candidaturas à presidência da República (Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves), assim como outras orientações a respeito da importância do voto e das eleições para a consolidação democrática do país. Participem das eleições, pois participar da política faz parte da missão cristã. Recusar-se à política é um grave pecado! Recomendo-me às suas preces, na certeza de que as faço por vocês. Que o Pai no Espírito nos confirme no caminho de seu amado Filho.

Fraternalmente, no Cristo ressuscitado,

Tiago de França 

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