O mês de agosto se inicia
com a expectativa para o início dos jogos olímpicos, nesta sexta-feira, 5 de
agosto. Algumas coisas nos chamam a atenção desde a chegada, ao Rio de Janeiro,
das equipes estrangeiras que participarão dos jogos. São questões que merecem
um olhar crítico.
A primeira, revela um
detalhe de nossa cultura: fazer as coisas em cima da hora. As delegações
chegaram e não encontraram a Vila Olímpica pronta para hospedá-las dignamente. A
equipe australiana foi a que fez questão de manifestar, veementemente, a sua
insatisfação. E com razão.
Infelizmente, nós,
brasileiros, temos a fama de sermos um povo indisciplinado, e esta indisciplina
nos leva a fazermos as coisas de forma apressada e um tanto desorganizada. Geralmente,
não gostamos de planejar as coisas com a necessária antecedência. Desse modo, o
resultado envergonha a todos. Mas este não é o ponto mais importante. O que
importa está por trás disso.
Politicamente, agimos da
mesma forma. Estamos no início de agosto. Em outubro teremos eleições
municipais. Vamos eleger prefeitos e vereadores. No cotidiano dos brasileiros,
praticamente ninguém fala em política. Talvez, depois dos jogos olímpicos, aqui
e acolá, algumas pessoas discutam o assunto. Mas a previsão é a de sempre: as
pessoas vão escolher em cima da hora. Poucos meses após as eleições, muitas já
não lembrarão em quem votaram.
A segunda questão, nos faz
pensar na esperteza do governo interino. Estamos falando de uma possível ameaça
de terrorismo durante os jogos olímpicos. A Polícia Federal prendeu algumas
pessoas, que foram acusadas de planejar atos terroristas. O que está por trás
dessas prisões? O governo interino não é bem aceito pela maioria dos
brasileiros. As manifestações e as pesquisas de opinião retratam a rejeição.
Preocupado com esta
rejeição, o governo resolveu, com a ajuda da grande mídia que o apoia, fazer
uma verdadeira campanha contra o terrorismo, numa tentativa desesperada de
convencer os brasileiros e os estrangeiros, de que o Brasil é um país seguro. Nos
locais dos jogos e nos arredores, tudo indica que nada de grave acontecerá,
pois investiram pesado na segurança. Não temos nada contra às iniciativas em
matéria de segurança. De fato, os atletas e o povo precisam contar com a devida
segurança.
Considerando a índole
política do chefe interino do Poder Executivo, não há dúvidas quanto ao
seguinte: o governo não está preocupado com a segurança pública ao investir pesado
na segurança por ocasião dos jogos olímpicos. Após os jogos, a cidade do Rio de
Janeiro continuará sendo uma cidade assustadoramente violenta, pois os milhares
de militares que foram chamados para atuar na segurança retornarão aos seus
lugares e/ou postos de origem.
O governo quer vender uma
imagem falsa do Brasil. Não é novidade para ninguém o fato de o Brasil ser um
país marcado pela violência, intolerância e tantos outros males oriundos da
desigualdade que assola a sociedade há séculos.
Uma terceira questão
bastante reveladora é a seguinte: a ocorrência dos jogos olímpicos desvia a
atenção do povo sobre o que está acontecendo em Brasília. A mídia não fala mais
do deputado Eduardo Cunha, que anda, propositadamente, sumido. Também já não
fala mais do senador Aécio Neves, que praticamente escapou das investigações
que poderiam revelar seus crimes.
Não fala das manobras do
grupo responsável pelo golpe em marcha, formado pelos políticos do PSDB, DEM,
PMDB e outros, que agilizam o afastamento definitivo da Presidenta Dilma
Rousseff da Presidência, pois sabem que o interino Michel Temer os recompensará
muito bem por isso.
Aliás, as recompensas já
começaram a aparecer: cargos, perdão de dívidas, concessões etc. Um exemplo
para ilustrar: José Serra, do PSDB, se tornou ministro do governo interino. Não
precisamos explicar esta nomeação. Só podemos afirmar que, desde a sua chegada
ao Ministério das Relações Exteriores, José Serra só tem passado vergonha, pois
está ocupando uma pasta sobre a qual entende pouco ou praticamente nada.
Este mês pretende entrar
para a história do Brasil. O clima tenso da instabilidade política e econômica
não revela que teremos dias melhores. Assusta-nos a passividade da maioria do
povo, que somente assiste aos desmandos que se comete praticamente todos os
dias em Brasília.
Quase todo dia aparece uma
novidade contrária ao bem comum. As medidas tornar-se-ão piores com o possível
afastamento da Presidenta Dilma. O governo está ansioso para que chegue logo
este dia. Os políticos criminosos estão fazendo a festa: sem nenhum pudor,
continuam trabalhando contra o povo brasileiro. Muitos projetos que tramitam no
Congresso Nacional são escandalosamente criminosos. E ainda há quem diga que a
nossa democracia é plena.
Nossa pobre democracia padece
de um grande mal: carece de um povo politizado e, portanto, consciente. Os destinos
do Brasil estão nas mãos de figuras antidemocráticas, e enquanto estas figuras
permanecerem no exercício do poder, não teremos dias melhores. Nisto está a
fraqueza de milhões de pessoas: mesmo apanhando por causa da falta de
consciência, não aprendem. Somos um povo acostumado à escravidão. Resistir à
opressão nunca foi a marca dos brasileiros, salvo exceções memoráveis.
Tiago de França
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