terça-feira, 2 de agosto de 2016

Olimpíada 2016 e a política do faz de conta

O mês de agosto se inicia com a expectativa para o início dos jogos olímpicos, nesta sexta-feira, 5 de agosto. Algumas coisas nos chamam a atenção desde a chegada, ao Rio de Janeiro, das equipes estrangeiras que participarão dos jogos. São questões que merecem um olhar crítico.

A primeira, revela um detalhe de nossa cultura: fazer as coisas em cima da hora. As delegações chegaram e não encontraram a Vila Olímpica pronta para hospedá-las dignamente. A equipe australiana foi a que fez questão de manifestar, veementemente, a sua insatisfação. E com razão.

Infelizmente, nós, brasileiros, temos a fama de sermos um povo indisciplinado, e esta indisciplina nos leva a fazermos as coisas de forma apressada e um tanto desorganizada. Geralmente, não gostamos de planejar as coisas com a necessária antecedência. Desse modo, o resultado envergonha a todos. Mas este não é o ponto mais importante. O que importa está por trás disso.

Politicamente, agimos da mesma forma. Estamos no início de agosto. Em outubro teremos eleições municipais. Vamos eleger prefeitos e vereadores. No cotidiano dos brasileiros, praticamente ninguém fala em política. Talvez, depois dos jogos olímpicos, aqui e acolá, algumas pessoas discutam o assunto. Mas a previsão é a de sempre: as pessoas vão escolher em cima da hora. Poucos meses após as eleições, muitas já não lembrarão em quem votaram.

A segunda questão, nos faz pensar na esperteza do governo interino. Estamos falando de uma possível ameaça de terrorismo durante os jogos olímpicos. A Polícia Federal prendeu algumas pessoas, que foram acusadas de planejar atos terroristas. O que está por trás dessas prisões? O governo interino não é bem aceito pela maioria dos brasileiros. As manifestações e as pesquisas de opinião retratam a rejeição.

Preocupado com esta rejeição, o governo resolveu, com a ajuda da grande mídia que o apoia, fazer uma verdadeira campanha contra o terrorismo, numa tentativa desesperada de convencer os brasileiros e os estrangeiros, de que o Brasil é um país seguro. Nos locais dos jogos e nos arredores, tudo indica que nada de grave acontecerá, pois investiram pesado na segurança. Não temos nada contra às iniciativas em matéria de segurança. De fato, os atletas e o povo precisam contar com a devida segurança.

Considerando a índole política do chefe interino do Poder Executivo, não há dúvidas quanto ao seguinte: o governo não está preocupado com a segurança pública ao investir pesado na segurança por ocasião dos jogos olímpicos. Após os jogos, a cidade do Rio de Janeiro continuará sendo uma cidade assustadoramente violenta, pois os milhares de militares que foram chamados para atuar na segurança retornarão aos seus lugares e/ou postos de origem.

O governo quer vender uma imagem falsa do Brasil. Não é novidade para ninguém o fato de o Brasil ser um país marcado pela violência, intolerância e tantos outros males oriundos da desigualdade que assola a sociedade há séculos.

Uma terceira questão bastante reveladora é a seguinte: a ocorrência dos jogos olímpicos desvia a atenção do povo sobre o que está acontecendo em Brasília. A mídia não fala mais do deputado Eduardo Cunha, que anda, propositadamente, sumido. Também já não fala mais do senador Aécio Neves, que praticamente escapou das investigações que poderiam revelar seus crimes.

Não fala das manobras do grupo responsável pelo golpe em marcha, formado pelos políticos do PSDB, DEM, PMDB e outros, que agilizam o afastamento definitivo da Presidenta Dilma Rousseff da Presidência, pois sabem que o interino Michel Temer os recompensará muito bem por isso.

Aliás, as recompensas já começaram a aparecer: cargos, perdão de dívidas, concessões etc. Um exemplo para ilustrar: José Serra, do PSDB, se tornou ministro do governo interino. Não precisamos explicar esta nomeação. Só podemos afirmar que, desde a sua chegada ao Ministério das Relações Exteriores, José Serra só tem passado vergonha, pois está ocupando uma pasta sobre a qual entende pouco ou praticamente nada.

Este mês pretende entrar para a história do Brasil. O clima tenso da instabilidade política e econômica não revela que teremos dias melhores. Assusta-nos a passividade da maioria do povo, que somente assiste aos desmandos que se comete praticamente todos os dias em Brasília.

Quase todo dia aparece uma novidade contrária ao bem comum. As medidas tornar-se-ão piores com o possível afastamento da Presidenta Dilma. O governo está ansioso para que chegue logo este dia. Os políticos criminosos estão fazendo a festa: sem nenhum pudor, continuam trabalhando contra o povo brasileiro. Muitos projetos que tramitam no Congresso Nacional são escandalosamente criminosos. E ainda há quem diga que a nossa democracia é plena.

Nossa pobre democracia padece de um grande mal: carece de um povo politizado e, portanto, consciente. Os destinos do Brasil estão nas mãos de figuras antidemocráticas, e enquanto estas figuras permanecerem no exercício do poder, não teremos dias melhores. Nisto está a fraqueza de milhões de pessoas: mesmo apanhando por causa da falta de consciência, não aprendem. Somos um povo acostumado à escravidão. Resistir à opressão nunca foi a marca dos brasileiros, salvo exceções memoráveis.


Tiago de França

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