terça-feira, 7 de julho de 2009

Ovelha e pastor


“Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9, 36). Diante da multidão faminta, Jesus tem compaixão das pessoas. O evangelista as compara com as ovelhas que não têm pastor. Uma ovelha sem pastor precisa ser reconduzida ao rebanho, precisa de cuidados e atenção. São ovelhas que precisam ser reunidas à vida comunitária. A ovelha nasceu para o rebanho, para a vivência fraterna com as demais e não para viver sozinha. Por isso, toda ovelha desgarrada e sem pastor deve ser motivo de preocupação. No versículo 37 do mesmo capítulo, Jesus fala que a messe é grande e poucos são os operários e pede para que peçamos ao dono da messe que envie trabalhadores para a messe. Que tipo de ovelhas temos e que tipo de trabalhadores precisamos?...

As ovelhas de nosso tempo andam dispersas, continuam parecendo como ovelhas que não têm pastor. São muitas as pessoas que se recusam a participar da vida de comunidade. É verdade também que nossa vida comunitária, o nosso ser Igreja, também deixa a desejar, mas isto não pode ser usado como pretexto para nos recusarmos à comunidade. Por mais difícil que seja a vida comunitária, ela continua sendo o modelo deixado por Jesus para ser vivido pelos cristãos. Os cristãos precisam cada vez mais aprender a viver em comunidade. Trata-se de um desafio possível. Quando olhamos para o próprio Cristo vemos que ele formou uma comunidade com os doze apóstolos. Em todos os lugares, Jesus procurava viver em comum-unidade com as pessoas, evitando o isolamento. Todos somos diferentes e nas diferenças somos chamados a vivermos unidos no amor de Deus. Não há necessidade de nos tornarmo-nos iguais, até porque não nos é possível. Se soubermos viver com nossas diferenças, tal vivência será um verdadeiro aprendizado para a vivência comunitária. A vida comunitária não é uma negação de si para viver para o outro. Negar-se a si mesmo não é um bom caminho, pois quem se nega a si mesmo não conseguirá aceitar o outro. Eu sou e represento algo e preciso ver que o outro também é e representa algo.

Pensando assim, as ovelhas não são um rebanho de gente subalterna aos pastores. As ovelhas não estão para servir aos pastores. Há pastores que pensam em servir, mas tratam as ovelhas como suas servidoras. A catequese e a doutrina orientam para o serviço, assim como para a participação das ovelhas, que foram sendo denominadas de “os leigos” na missão da Igreja no mundo. A vivência da diaconia é um desafio na vida dos pastores da Igreja. Uma vez que a participação na hierarquia também se trata de participação no poder que rege e administra, não são poucos os que sentem dificuldades em viver a autêntica vocação do sacerdócio ministerial: servir com alegria ao povo de Deus. É inegável a distância que há entre a vida de muitos pastores em relação com a vida das ovelhas. Muitos caem na tentação de esperar as ovelhas no curral, porque é mais fácil e mais cômodo. Durante muito tempo, os pastores esperaram as ovelhas nos currais (templos), mas descobriram recentemente que as ovelhas não se contentam mais em estar nos currais, mas elas querem ver seus pastores no meio delas, onde elas estão, participando da vida delas. Esta participação requer abertura, humildade, despojamento e caridade.

Sendo aberto, o pastor vai descobrindo aos poucos que ele não é mais tido como o dono da verdade, como muitos se consideravam antigamente. Houve um longo período em que a palavra do pastor era como palavra de rei: sem consulta aos súditos e no pleno uso do autoritarismo. Agora o pastor é chamado a partilhar suas idéias e não impô-las. Não se aceitam mais as imposições, estas só geram conflitos na comunidade. Esta postura de abertura do pastor requer muita humildade de sua parte, pois o pastor é preparado na academia filosófica e teológica para o exercício de seu ministério, e poderá não ser humilde o suficiente e pensar ser mais sábio e santo do que as ovelhas. Quando isto ocorre, as posturas autoritárias frustradas e frustrantes tornam-se presentes. E toda postura humilde requer caridade para com o próximo. Quando somos humildes, então somos caridosos, pois quem não falta com a humildade, não falta com a caridade.

Diante disso, a Igreja é chamada a pensar o modelo de pastor que precisa para os tempos atuais. Analisar a formação nos seminários é uma necessidade que se impõe. Qual o perfil de pastor que nossos seminários estão formando para a Igreja?... Como estão sendo formados?... Por outro lado, é preciso também pensar na realidade dos chamados “leigos”. Quem são eles e como estão agindo? Onde estão inseridos e o que estão fazendo?... Antes se falava de recepção passiva de sacramentos (sacramentalização, na Igreja pré-Vaticano II para ser mais exato), agora se fala de comunhão e participação. É preciso rezarmos e nos esforçarmos para que a verdadeira comunhão e participação existam entre nós.


Tiago de França

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