O coronavírus surgiu na
China e se espalhou por praticamente todo o mundo, causando medo, desolação e
mortes. As autoridades sanitárias anunciam medidas preventivas, e os profissionais
da saúde tratam os enfermos. O isolamento social virou regra, cujo objetivo é
conter a transmissão do vírus. Muitas pessoas continuam brincando com a
situação, comportando-se como se o vírus fosse inofensivo. O presidente da
República do Brasil é uma destas pessoas, que mais se preocupa com o resultado
anual do produto interno bruto (PIB), do que com a saúde das pessoas.
Mas neste breve artigo queremos discorrer a respeito da
fé cristã em tempos de coronavírus. O que a fé em Jesus tem a dizer nestes
tempos tão desoladores? Como deve o cristão proceder diante do avanço
avassalador de um vírus que mata milhares de pessoas? A Igreja católica tem
levado em consideração as recomendações das autoridades sanitárias sobre a
pandemia do coronavírus: todas as atividades religiosas estão suspensas. Mas
não queremos falar sobre as restrições religiosas, mas tratar de algumas
afirmações que se espalham, principalmente nas redes sociais, e que revelam uma
imagem deturpada do Deus e Pai de Jesus de Nazaré.
Muitos propagam a ideia de um deus castigador, afirmando
que o vírus seria um castigo de Deus. Categoricamente, temos que afirmar que
tal ideia não encontra legitimidade nas Sagradas Escrituras. O Deus revelado em
Jesus de Nazaré é Pai misericordioso, cheio de bondade e ternura. Jesus revelou
que Deus é Amor. Um Deus que é Amor não castiga nem se vinga de seus filhos e
filhas. Deus é o sumo Bem, e nele não existe o mal. Castigo e vingança são
coisas más. Deus não se utiliza dessas coisas para chamar a atenção da
humanidade.
A ciência está aí para nos falar sobre a origem do
coronavírus. Não se pode atribuir o mal a Deus. Portanto, desconsideremos essas
mensagens deturpadoras da natureza divina. É no amor e para o amor que Deus se
manifesta. Ele liberta o homem do mal através do amor, jamais utilizando o
castigo e a vingança. Castigo e vingança são coisas do ser humano, que se
desviando do caminho de Deus, pratica o mal. Esta é a mensagem cristã. O Deus e
Pai de Jesus é o Deus da compaixão, que escuta o clamor dos injustiçados e
sofredores e vem socorrê-los. Ele vê e conhece o sofrimento da humanidade (cf.
Êxodo 3,7).
Outra ideia recorrente nestes dias é a de que estamos na
iminência do fim do mundo. Quem lê as Sagradas Escrituras sabe que Deus não
revelou a ninguém o dia do juízo final. As Escrituras falam deste juízo final
(cf. Mateus 25,31-46), mas Jesus de Nazaré não mencionou data. O que fez foi
apontar para o amor, como condição para a salvação oferecida por Deus. Os que
serão salvos experimentam desde já o amor de Deus na relação amorosa com Deus,
o próximo e toda a criação.
Jesus de
Nazaré não pregou nem incentivou apocaliptismos, ou seja, não vivia
amedrontando as pessoas, exortando-as sobre o fim do mundo. Este tema não
ocupava a centralidade de sua mensagem. Para ele, o mais importante é amar a
Deus e ao próximo como a si mesmo. Quem muito se ocupa com o fim do mundo,
termina se esquecendo de viver o amor.
O evangelho diz que é necessário rezar e vigiar (cf.
Marcos 13,33). Quem assim procede, não vive preocupado com o fim do mundo. A
oração, a vigilância e o amor são práticas que pertencem ao cotidiano da vida
cristã, que revelam a necessária intimidade que se deve ter com Deus. Quem vive
em sintonia com Deus não precisa se preocupar com o juízo final. A intimidade
com Deus gera força, segurança, serenidade, firmeza e perseverança.
Uma postura questionável de muitas pessoas diante da pandemia
é a de quem tenta a Deus. Há pessoas que não seguem as orientações das
autoridades sanitárias e pensam que poderão escapar do vírus porque acreditam
em Deus. A fé em Deus não dispensa a prevenção. Uma pessoa de fé quando
acometida por uma doença, deve procurar o médico, para diagnóstico e medicação;
uma pessoa de fé faz os exames de prevenção das doenças; uma pessoa de fé evita
a rua deserta após às 22h para não ser assaltada ou sofrer outro tipo de
violência; enfim, uma pessoa de fé não tenta o Senhor seu Deus (cf. Mateus
4,7). É preciso confiar em Deus sem deixar de se precaver (cf. Mateus 10,16).
A fé cristã ensina que o seguidor de Jesus é alguém que
se alegra na perseverança, é paciente na tribulação e perseverante na oração
(cf. Romanos 12,12). Vivemos tempos sombrios, de intensa tribulação. Esta exige
alegria, perseverança, paciência e oração. Para evitar o desespero, este é o
caminho. A esperança cristã não é ingênua nem alienada, mas ativa.
O cristão
espera em Deus sem jamais se conformar com este mundo. Esperançoso, o seguidor
de Jesus é alguém que confia na oportuna intervenção de Deus, que age na
história humana. O Deus e Pai de Jesus é próximo, atento, compassivo e bom.
Deus age na hora certa e a partir dos meios certos. Não é dado a espetáculo,
mas age discretamente, e, assim, vai conduzindo a humanidade com seu amor
generoso. É neste Deus que cada seguidor de Jesus é chamado a confiar; um Deus
que permanece fiel, apesar da infidelidade das mulheres e homens que tornam
este mundo cada vez mais difícil e desumano.
Em
tempos de coronavírus a postura do cristão, seguidor de Jesus, é a de quem espera
em Deus, precavendo-se de todo mal e sendo solidário com o próximo. Escutar os “profetas
da desgraça” não é um bom caminho. Escutemos os profetas da esperança, que estão
agindo, diuturnamente, para erradicar o mal do mundo, com palavras e gestos de
cuidado.
Cada cristão
é chamado a ser um profeta da esperança, recusando-se a reforçar ideias
deturpadoras da realidade e de Deus. O profeta da esperança vive a experiência do
encontro com Deus, e conduz os outros a esta mesma experiência (cf. João 4, 28-29).
Quem se encontra com Deus e nele permanece não se deixa dominar pelo medo e
pelas falsas ideologias, pois se encontra envolvido pelo amor que salva e dura
para sempre.
Tiago
de França
Um comentário:
Uma bela explicação.
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