Estamos em pleno séc.
XXI e a maioria do povo brasileiro ainda não aprendeu a lição da necessidade da
boa política. O saldo das eleições deste domingo, 5 de outubro, em muitos casos
é vergonhoso e assustador. Quem tem o mínimo de bom senso fica escandalizado
com a ousadia de milhões de eleitores.
A
situação é, de fato, preocupante. Realmente, os brasileiros vivem uma
desorientação maciça e perigosa. A falta de reflexão e de análise abrem brechas
para a infiltração de figuras descomprometidas com a ética na política. De quem
estamos falando? Vamos citar alguns nomes que chamaram a atenção após a
divulgação do resultado pela justiça eleitoral.
Em Alagoas, com 52,16% dos votos, foi eleito para o cargo
de governador do estado, Renan Filho. Isto mesmo: o filho do senador e atual
presidente do Senado Federal, Renan Calheiros. Além dele, outro absurdo se
repete: foi reeleito senador pelo PTB, com 55,69% dos votos, Fernando Collor de
Melo. A maioria dos alagoanos entendeu que este é melhor que Heloísa Helena do
PSOL. É difícil compreender, mas foi isto que ocorreu. Talvez nas eleições de
2022, Fernando Collor deixe o Senado. Talvez.
Em Pernambuco, foi eleito um jovem político inexperiente
para o cargo de governador. O falecido Eduardo Campos foi seu cabo eleitoral! No
Brasil, até os mortos conseguem eleger seus candidatos! Paulo Câmara é o nome
dele, eleito com 68,08% dos votos. No Ceará, depois de alguns anos descansando,
os cearenses reconduziram ao Senado, um dos grandes nomes do PSDB, Tasso
Jereissati, eleito com 57,91% dos votos. O que este homem fez de tão
extraordinário pelo Ceará? Talvez seus eleitores consigam explicar.
Nas redes sociais, o preconceito contra o nordeste é
visivelmente vergonhoso. Afirma-se que os nordestinos só sabem votar em Lula e
Dilma por causa dos programas sociais, especialmente o Bolsa Família. Possuídos
pelo ódio, muitos são a favor de que o nordeste deve ser varrido do mapa! O
curto espaço deste artigo não nos permite uma análise mais criteriosa desse
preconceito, portanto, não discorreremos sobre o mesmo. Considerando alguns
políticos eleitos no sudeste, percebe-se, claramente, que a ignorância política
nesta região também é escandalosa. Citemos alguns nomes que nos causam vergonha
nacional.
Em Minas Gerais, 56,73% dos eleitores escolheram Antônio
Anastasia do PSDB para o Senado Federal. Esta foi a única vitória expressiva do
PSDB em Minas. Não existe uma explicação plausível para esta vitória, dada a
inexpressividade deste político falacioso. Outros quatro casos vergonhosos são
os de São Paulo. Ninguém sabe o que se passa na cabeça do povo daquele grande
estado, pois lá foram eleitos Celso Russomanno e Tiririca como os deputados
mais votados. Estes dois cidadãos, segundo o resultado das urnas, são dignos da
confiança da maioria do eleitorado! Trata-se de uma confiança questionável e
estranha.
Em
terceiro lugar, aparece o deputado pastor Marco Feliciano, conhecido por suas
posições homofóbicas e ultraconservadoras. Quase 400 mil pessoas entenderam que
este pastor é uma figura política ideal para representá-las na Câmara Federal. Eduardo
Suplicy do PT, famoso pela sua valiosa contribuição com os movimentos sociais,
homem de cabeça aberta e crítico do neoconservadorismo político em São Paulo,
perdeu para José Serra do PSDB, eleito com 58,49%.
E
para completar a lista, Geraldo Alckmin do PSDB foi reeleito governador, com
57,31% dos votos. Sinceramente, pior do que em Alagoas, encontra-se o povo de
São Paulo. Só Deus sabe quando vão se libertar do PSDB! Em Minas, com a vitória
de Fernando Pimentel do PT, os mineiros deram um basta na ditadura psdbista,
que durou 12 anos!
No
Rio de Janeiro, a maioria do povo também demonstrou que gosta de políticos
ultraconservadores e moralistas, com a vitória expressiva do militar da reserva
e deputado, Jair Bolsonaro do PP. Foi o deputado mais votado daquele estado! A
sua fama se espalhou em todo o país com seu notório discurso homofóbico, mas,
apesar disso, contou com a estranha confiança de 464.572 eleitores. Para não
deixá-lo tão à vontade no Parlamento, o povo também elegeu o deputado Jean
Wyllys do PSOL, homossexual assumido, sétimo colocado, eleito com 144.770
votos. A coragem deste último no exercício de seu mandato é, realmente,
admirável.
Há,
certamente, outras figuras que não deveriam ser eleitas e/ou reeleitas para as
assembleias legislativas nos estados e/ou para a Câmara Federal e para o Senado
da República, mas os mencionados acima foram os que mais se destacaram, exceto,
é claro, o deputado Jean Wyllys do PSOL, mencionado somente como exemplo oposto
ao Jair Bolsonaro.
Estes
políticos nos fazem pensar em algumas questões políticas importantes, a saber:
Nosso país está preparado para realizar a tão sonhada reforma política? Como
fazer uma reforma política votando em políticos dessa qualidade? Onde está o
“gigante” que “acordou” em junho do ano passado? Naquelas manifestações, que
tipo de protesto foi feito? Por que, apesar do livre acesso à informação, os
eleitores destes e de outros políticos não conseguem fazer uma análise apurada
dos fatos em vista de um voto consciente? Como construir um país mais justo e
verdadeiramente democrático com políticos dessa espécie?...
Estas
são questões que, infelizmente, não passam pela cabeça de milhões de
brasileiros. Muita gente sequer vai lembrar em quem votou. A maioria nem
procura saber a lista dos eleitos. A falta de compromisso com o destino do país
é vergonhosa e assustadora. Estes mesmos descompromissados só sabem reclamar e
atirar no escuro. Não se informam, não participam das autênticas discussões e
se deixam levar pelas distorções provocadas e oferecidas pela grande mídia; e o
resultado é este que acabamos de descrever, sucintamente.
Diante
do exposto, resta-nos alimentar a esperança e continuarmos acreditando, a
partir de nossa ação consciente, em um país melhor. Nem tudo está perdido
porque ainda há políticos comprometidos com as grandes causas do Brasil. Esse
triste e vergonhoso “saldo eleitoral” deve ser motivo de reflexão; do
contrário, essas figuras retornarão, daqui a quatro anos, com o mesmo querer
que sempre os motivou: a utilização da política para fazer politicagem, ou
seja, renunciam à promoção do bem comum em vista da satisfação dos próprios
interesses.
No
dia 26 de outubro, os brasileiros eleitores voltarão às urnas para o segundo
turno das eleições, para escolherem os governadores, em treze estados da
federação. Também escolherão quem vai ocupar o cargo de Presidente da República
a partir de 1º de janeiro de 2015. Sobre esta última escolha, iremos discorrer no
próximo artigo de nossa série sobre as eleições deste ano.
Tiago de França
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