quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O anúncio do Evangelho de Jesus nas redes sociais


         As redes sociais constituem lugar apropriado para o anúncio do Evangelho de Jesus. Não é pequeno o número daqueles que utilizam Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, WhatsApp e tantas outras mídias sociais, no Brasil e em todo o mundo. São bilhões de pessoas conectadas, compartilhando notícias, fotografias, eventos etc.

Há pessoas de todos os tipos nas redes sociais, com intenções diversas. Por isso, também encontramos criminosos, camuflados em perfis falsos. Há aqueles que cometem crimes sem a necessidade de perfis falsos. Infelizmente, tais pessoas transformam as redes sociais em espaço de guerras virtuais, onde ocorrem à calúnia, difamação, injúria e tantos outros tipos de ofensas à honra das pessoas. A troca de acusações é uma constante, bem como a difusão das notícias falsas (fake news).

            Estes e outros abusos transformam as redes sociais em um lugar onde reina a superficialidade. No mundo virtual as pessoas tendem a ser superficiais, passando a exercer papeis que não seriam capazes de desempenhar no mundo real. Há uma multiplicação de comportamentos indignos de um ser verdadeiramente humano. Claro que não são todas as pessoas que se utilizam das redes sociais para assim proceder, mas, infelizmente, o número dos dissimulados não é insignificante.

            Por outro lado, também encontramos boas pessoas, que compartilham boas  e verdadeiras notícias. As redes sociais oferecem a feliz oportunidade do encontro e reencontro entre as pessoas, bem como a possibilidade de as pessoas conhecerem outras, para novas amizades. O mundo se transforma em uma “aldeia global”.

Por meio das redes sociais é possível o acesso e o conhecimento de novas realidades culturais, o compartilhamento de ideias, sonhos e visões de mundo. Para muita gente é, também, oportunidade de conhecimento humano e afetivo, que, em muitos casos, desemboca em relacionamentos duradouros.

            Segundo os indicadores atuais, os que mais utilizam as redes sociais são os adolescentes e jovens. Deve ser pequeno o número de jovens que não possuem algum tipo de rede social. Isto é uma faca de dois gumes: por um lado é bom, por outro é ruim. Dependendo da forma e da intenção com a qual se utiliza, as redes sociais podem ser perigosas, mas também podem ser benéficas. No parágrafo anterior apontamos alguns dos benefícios, mas há um grande risco que queremos salientar.

            Curiosamente, as redes sociais podem se transformar em uma gravíssima fuga da realidade. Esta se encontra no mundo real. A vida acontece no mundo real. As redes sociais podem refletir o mundo real, mas é neste mundo real que acontece a ação humana, capaz de transformá-lo para melhor ou para pior. Se as pessoas avançam para as águas profundas do mundo virtual, certamente podem morrer afogadas. A causa de morte de muita gente hoje é, justamente, o excesso de virtualidade. Muita gente não é mais encontrada no mundo real: vivem refugiadas e escondidas no mundo virtual.

            Esta é uma situação muito grave, que se deve evitar. Quando o barco da vida se perde nas águas profundas do oceano do mundo virtual, a vida já não é mais possível: a morte é certa. Muito facilmente, encontramos, nas ruas das cidades, as pessoas caminhando, mas ali somente são seus corpos. São como cadáveres ambulantes. Elas estão no mundo virtual, grudadas em seus smartphones (telefones celulares). Se estes lhes são tirados, são capazes de morrer! A vida de milhões de pessoas se transformou em um vício. Os jovens que não estudam nem trabalham (geração nem-nem) são as maiores vítimas. Não estudam nem trabalham, mas estão nas redes sociais.

            Aí está a cultura da superficialidade e do fingimento. É muito comum encontrarmos a expressão de muita felicidade nas fotos e selfs (fotos que a pessoa tira de si mesma) publicadas nas redes sociais: as pessoas estão sempre rindo, aparentando uma vida feliz. No mundo real, muitas delas não tem muita ligação com a aparência das selfs que tiram. A regra é fingir estar bem.

E quando as pessoas se apegam à imagem e ao perfil que criaram no mundo virtual, já não querem mais ser encontradas no mundo real: fogem do encontro e reencontro no mundo real. Consciente ou inconscientemente, muitas tem medo de serem descobertas no mundo real.

No mundo real as pessoas se revelam, mesmo que consigam enganar as outras por um certo período de tempo. Fica, então, a evidente conclusão: sem a sábia administração do mundo virtual, perde-se, facilmente, o contato e o compromisso com o mundo real. E quando isso ocorre, a vida não passa de uma frágil ilusão.

Dada esta sucinta descrição, pergunta-se: Como anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus nas redes sociais? Cremos que a descrição deixou bem clara a necessidade do anúncio desta Boa Notícia. Como esta deve ser apresentada nas redes sociais? O que Jesus tem a dizer aos que se encontram no mundo virtual? Como deve o cristão proceder neste mundo tão complexo e dinâmico? Ou será que o cristão não deveria aderir às redes sociais? Vamos pensar possíveis respostas para estas indagações.

Hoje, exige-se que o anúncio do Evangelho aconteça em linguagem pós-moderna. A cultura dos povos evolui com o passar dos anos. A linguagem também acompanha esta evolução. É necessário falar de um modo que as pessoas compreendam. O Evangelho precisa ser anunciado na linguagem utilizada pelas pessoas hoje. Jesus foi fiel à linguagem do seu tempo. Ele falou de ovelhas, de Reino, de sementes, reis e súditos e outras categorias, porque estas palavras integravam não somente a linguagem, mas sobretudo também a realidade da época.

Vivemos na era digital, do conhecimento e da manipulação ideológica. O evangelizador precisa saber as palavras e os códigos linguísticos utilizados hoje para, assim, anunciar o Evangelho de forma apropriada; de forma que as pessoas compreendam a mensagem de Jesus. Isto significa atualizar o Evangelho para os nossos dias. Esta atualização não é sinônimo de mudança do sentido das palavras de Jesus. Em outros termos, não estamos defendendo que devamos mudar a mensagem de Jesus. Isto não deve ser feito. Mudar a mensagem é trair o próprio Jesus.

Atualizar é falar em linguagem pós-moderna o Evangelho de Jesus, preservando o essencial, que é o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Nas redes sociais, somos chamados a anunciar o amor de Deus para as pessoas. Anúncio do amor de Deus é diferente do anúncio da doutrina das Igrejas. O que significa amar a Deus e ao próximo hoje? Eis a questão fundamental para o anúncio do Evangelho.

Evangelizar não é doutrinar. Evangelizar é anunciar o Reino de Deus, que é amor, justiça e paz para todos, numa perspectiva escatológica, ou seja, o amor, a justiça e a paz vão se realizando neste mundo, não de forma plena, mas de forma progressiva e parcial no tempo e no espaço, até a volta definitiva de Jesus.

Humanamente, somos incapazes de realizar plenamente o amor, a justiça e a paz. Não somos perfeitos. Mas em meio às limitações de nossa condição humana, vamos trilhando o caminho do amor, da justiça e da paz. As redes sociais constituem lugar de testemunhar estas realidades que integram a mensagem de Jesus.

Desse modo, o discípulo missionário de Jesus, nas redes sociais, anuncia o amor, a justiça e a paz. Não é um instigador da discórdia, nem alguém que compartilha a mentira. O discípulo missionário de Jesus é alguém que promove a unidade, respeitando a diversidade da cultura e dos modos de ser e de agir das pessoas. É um promotor da tolerância, do respeito e da cultura do encontro.

Ao mesmo tempo em que anuncia os valores fundamentais do Evangelho de Jesus: justiça, solidariedade, amor, atenção aos marginalizados, paz, compreensão, cultura do encontro, tolerância, acolhida, respeito etc., o discípulo missionário também se utiliza das redes sociais para denunciar as injustiças que afetam a sociedade. O compartilhamento de notícias verificáveis faz parte deste processo de denúncia, que deve ser constante, ousado e criativo.

Denunciar é mostrar a realidade como ela é, sem maquiagens. Neste sentido, cabe ao discípulo missionário, antes de compartilhar as notícias, verificar a fonte e pesquisar a sua veracidade. Denunciar não é caluniar, injuriar nem difamar. Estas três atitudes são crimes previstos em lei.

Denunciar é desmascarar a mentira, é apontar o pecado que destrói as pessoas. Não se trata de apontar o pecado de pessoas, de forma isolada; mas de apontar o pecado das estruturas e das forças de morte presentes no mundo. A denúncia das injustiças é a oportunidade que as pessoas tem de conhecerem seus opressores e planejarem ações para que tais injustiças cessem.

            Este exercício profético do anúncio e da denúncia cabe a todas as pessoas, especialmente aquelas que dizem ser cristãs. O seguidor de Jesus tem um seríssimo compromisso com a verdade, jamais com a mentira. Mentir continua sendo pecado, e se torna grave quando causa sérios prejuízos às pessoas, também no mundo virtual. Nas redes sociais encontramos muitos cristãos dando contratestemunho, inventando e compartilhando mentiras sobre os outros. Esta é uma situação que também precisa ser denunciada.

            O que Jesus espera de seus seguidores é que estes sejam sinceros, transparentes, autênticos e amorosos. Não é possível seguir a Jesus e ser um disseminador de mentiras, gerando confusão na cabeça das pessoas. Propagadores de mentiras são agentes de Satanás, pai da mentira e da confusão. A verdade é o que condiz com a realidade dos fatos, é o que realmente acontece. Todos, em sã consciência e com reta intenção, podem e precisam ter acesso à verdade, promovendo-a, custe o que custar. É a verdade que liberta, disse Jesus (cf. Jo 8, 32).

            Se as pessoas procuram viver conforme o amor, a justiça e a paz, as redes sociais deixam de ser uma rede geradora de tolos e hipócritas, e passa a ser uma rede de solidariedade humana, necessária ao verdadeiro crescimento das pessoas. Por fim, queremos deixar uma questão para a reflexão pessoal do leitor cristão que utiliza as redes sociais: A forma como utilizo as redes sociais constitui um testemunho de Cristo ressuscitado, ou um contratestemunho que envergonha e destrói a dignidade das pessoas?...

E para os que não professam a fé cristã, também vale a pena pensar: A forma como utilizo as redes sociais tem colaborado para a minha humanização e para a humanização das pessoas?... Esta humanização, em linguagem cristã, é o testemunho mencionado na questão dirigida aos que acreditam e seguem a Jesus. Boa reflexão!

Tiago de França

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