Precisamos falar deste tema. O
que seria uma pessoa que sofre do mal da mediocridade intelectual? Vamos pensar
um pouco. Este convite já nos mostra uma primeira característica de uma pessoa
que sofre deste mal: ausência do pensar. Quem não pensa, não evolui, e quem não
evolui padece na mediocridade. Certamente, quem sofre deste mal, também padece
de outro: o da vida medíocre.
Mas queremos
nos deter sobre a mediocridade que afeta o cérebro humano. Isto mesmo. Queremos
falar daquela situação que nos assusta, a saber: olhar para uma pessoa que não
se concebe pessoa, portadora de uma capacidade de crescimento humano e
intelectual. Toda pessoa tem este potencial, mas o medíocre não liga para a
maravilha que é a capacidade humana de pensar, criar e intuir as coisas.
Pensar a vida, naquilo que ocorre ao seu redor, analisar
as razões de ser das coisas e dos fatos, enfim, dar-se conta de que viver é
mais do que comer, dormir, trabalhar etc. A vida está para além do meramente
biológico. Quem se deixa afetar pelo mal da mediocridade intelectual é incapaz
de perceber isso.
Intelecto
medíocre é aquele tomado pela ferrugem, que somente é ativado para o
desenvolvimento das funções básicas e fisiológicas do humano. Isto é muito
pouco. Isto integra tão somente a nossa animalidade. Os animais não sabem que
sabem, apenas sentem, desejam, imitam e sofrem. O animal não se ocupa com o
próprio pensamento, porque é irracional. Há humanos que levam uma vida semelhante:
passam pela vida sem se ocupar com o próprio pensamento. O que enxergam em si
mesmo costuma ser a cópia dos outros.
A pessoa medíocre, intelectualmente falando, desconhece a
evolução da vida e de tudo o que nela ocorre. Entre outros motivos, isto ocorre
porque se encontra acomodada em um mundo criado para si mesma. Em outros
termos, o medíocre não enxerga com criticidade o que acontece ao redor, porque
se encontra ocupado com a mesmice de suas ideias, repetidas e sem conexão com o
mundo exterior, e com os afetos mesquinhos que daí decorrem.
Afetos
mesquinhos geralmente são egoísticos, pois não são construídos a partir do
encontro com o que é diferente. O diferente aparece praticamente como inimigo
do medíocre, graças à ausência de esforço intelectual, necessário à realização
de uma correta compreensão das diferenças. Esta dificuldade também é ocasionada
pela mania de imitação que domina a vida do medíocre. Quem nada cria, termina
por imitar, caindo na mesmice que marca a rotina.
A mera imitação é
própria de quem sofre de outro mal terrível, muito comum em nossos dias: o da preguiça
mental. Como criar o novo sem fazer o mínimo esforço mental? Como repensar
ideias e comportamentos, sem colocar em prática a arte de pensar? A preguiça
mental gera uma sociedade bestializada. Parece ser isto que estamos enxergando
hoje no Brasil: o domínio da ignorância, que leva o ser humano a comportar-se
como animal. Esta bestialização multiplica o número dos imbecis, também
denominados tolos ou idiotas, que são aqueles de curta inteligência, facilmente
entregues às mãos dos espertos e aproveitadores.
É importante salientar outra característica dos que são
afetados pela mediocridade intelectual: apresentam incapacidade para o diálogo.
Isto decorre da falta de abertura para o novo, ocasionada pelo desinteresse e pelo
mínimo de estrutura mental para dialogar. O diálogo obriga o pensar. Portanto,
não é próprio dos que são dominados pela preguiça mental. No diálogo há sempre
uma necessidade de esforço e disposição para compreender, analisar, ponderar,
escutar, propor, pensar e repensar, rever, ceder e acolher, ensinar e aprender.
Um medíocre é incapaz de entrar e permanecer na dinâmica do diálogo, pois é
intolerante e autoritário.
Assim, o medíocre é alguém muito limitado, que se
encontra na superfície. Nunca se arrisca a mergulhar para as águas mais
profundas da razão que tudo verifica e aprofunda. Aprofundamento é uma palavra
que causa tédio no medíocre, pois está habituado à superfície daquilo que é
concebido. Geralmente, costuma repetir o que os outros dizem, sem analisar. Muitas
vezes, chega a brigar por pontos de vista que não são seus, mas de outros
considerados “autoridades no assunto”.
Os que
ousam pensar defendem a tese de que estas “autoridades” são passíveis de
equívocos e aperfeiçoamentos. Não há dúvidas de que os especialistas no assunto
são apreciados pelos que ousam pensar, mas estes nunca aceitam, literalmente, o
que aqueles afirmam de forma sempre transitória. Para quem ousa pensar, tudo
pode ser repensado e analisado.
Quando a maioria dos que constituem determinado grupo ou
sociedade repete, sem cessar, sem análise criteriosa, aquilo que uma minoria
pensou e elaborou para a maioria, então temos um grupo ou sociedade medíocre. Neste
tipo de sociedade, todo mundo repete as mesmas coisas.
Praticamente
não há conflitos inteligentes e saudáveis de ideias, com o objetivo de possíveis
aperfeiçoamentos do que está estabelecido. O que está estabelecido é facilmente
aceito como certo, como verdade inquestionável, como caminho único. Parece não
existir outras possibilidades, porque estas não podem ser pensadas. No universo
religioso, isto aparece com mais força, devido à tendência preponderante ao
dogmatismo e à sacralização do argumento de autoridade.
Parece não existir outro caminho de libertação da
mediocridade intelectual senão o empenho na arte de pensar e repensar todas as
coisas e realidades. É preciso estudar muito; gastar tempo com análises e
reflexões. É necessário, como dizia o filósofo Immanuel Kant: “ousar saber!”
Quem não ousa saber, torna-se escravo da ignorância, e quem ignora termina por
ser dominado por quem conhece, pois o conhecimento confere poder.
O medíocre
é um sofredor, porque não existe liberdade sem o pensar. Há um ditado popular
que diz: “quando a cabeça não pensa, o corpo padece!” Não há luz sem
conhecimento. Também na religião cristã se afirma a necessidade do conhecimento
de Deus. Há muita gente sofrendo por causa da mediocridade intelectual;
sofrendo porque prefere permanecer na zona de conforto da ignorância (zona nada
confortável aos de espírito inquieto!), dedicando boa parte do precioso tempo
da vida em conflitos com aqueles que vivem buscando a sabedoria. Esta é o passo
imediatamente posterior que integra o caminho dos que buscam conhecer.
Tiago
de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário