“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um
filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco”. (Mt 1,23)
Para estar no mundo, Deus também se
fez homem. Antes disso, já estava no mundo. Ele nunca se ausentou. Este mundo
também é a casa de Deus. Por isso, eis uma lição primeira: não há nenhuma razão
plausível, à luz da fé cristã, para o cristão fugir do mundo. Parece óbvia esta
afirmação, mas é o que assistimos ao longo da história do cristianismo:
inúmeras pessoas entenderam o caminho de Jesus como caminho de fuga. Quando envia
Jesus a este mundo, Deus ensina o movimento contrário. Jesus não foge de nada.
Ele vem ao encontro, mergulha de cabeça no mundo, revela que Deus se encarnou
para a salvação da humanidade.
Neste sentido, o Natal do Senhor
Jesus é a solene festa do mistério da encarnação de Deus no mundo. Jesus,
Palavra de Deus, fez-se carne (pessoa) e habitou entre nós. Fazer-se carne é
fazer-se frágil, impotente, sujeito às intempéries da vida humana. Os cristãos
acreditam em um Deus que se tornou gente, carne frágil no meio do mundo, mas
sem perder a sua divindade. Jesus é Deus
e homem verdadeiro. A humanidade de Jesus não anula a sua divindade; pelo
contrário, a sua divindade o faz plenamente humano. Crer em Jesus é
divinizar-se, ou seja, em Cristo Jesus o cristão participa da plenitude da sua
humanidade, e nesta, da sua divindade.
Concebido pelo Espírito Santo, com a
cooperação de Maria e José, Jesus foi enviado, segundo as Escrituras, para
salvar a humanidade dos seus pecados (cf. Mt 1,21). O pecado existe e causa
estragos, afastando as pessoas do seu Criador e Pai. Inúmeros são os pecados
que tem afetado hoje a humanidade: indiferença globalizada, apego ao dinheiro e
ao poder, intolerância e preconceito, autossuficiência e arrogância, ódio,
rancor, fechamento e falta de solidariedade, mesquinhez, roubos e assassinatos,
desrespeito, devassidão de toda espécie etc. São realidades que desfiguram as
pessoas, escravizando-as. Jesus foi enviado por Deus Pai para ensinar o caminho
da libertação do pecado e da morte.
A libertação do pecado e da morte se
inicia quando a pessoa aceita Jesus, mas este Jesus não é somente uma pessoa,
mas um projeto de vida plena para todos. Aceitar Jesus é se comprometer com o
que Ele anunciou: amor, justiça e paz. Quem ama não odeia o próximo, mas se
torna próximo, torna-se samaritano. Eis o compromisso fundamental de quem
aceita Jesus: amar o próximo, na gratuidade e sem fazer distinção. O amor está
no centro do projeto de Jesus. Isto significa que aceitar Jesus não é mera
profissão pública da fé. Certamente é importante professar a fé em Jesus no
culto, na liturgia. Mas aceitar Jesus é, sobretudo, uma atitude, uma decisão
que muda radicalmente a vida.
Portanto, celebrar o Natal do Senhor
Jesus é assumir o compromisso de ser amoroso para, assim, revelar Deus ao
mundo. Sem este compromisso, o Natal é uma festa mentirosa e hipócrita. O brilho
da noite de Natal está na adesão ao amor de atos, concreto, afetivo e efetivo. Um
amor capaz de fazer com que a pessoa se transforme em outro Cristo, para a
salvação do mundo. Natal é amor aderido na liberdade e para a liberdade. Quem verdadeiramente
celebra o Natal de Jesus se torna uma pessoa livre, leve e feliz, comprometida
com o Reino de Deus, que é o amor que tudo transforma.
Jesus é o Emanuel, que significa: Deus está conosco. Deus é amor,
portanto, que acolhe Jesus, acolhe o amor. Quem permanece no amor, permanece em
Deus e Deus permanece nele. É o que nos ensina o apóstolo João em seus
escritos. Permanecer no amor é assumir o
compromisso de se tornar uma pessoa amorosa. O mundo está cheio de gente
rancorosa, marcada pelo ódio e pela indiferença. Essa gente é violenta, não tem
a paz que somente o amor de Deus concede. Quem quiser se livrar desta violência
que corrói o coração e dilacera a alma, aceite o amor, torne-se amor. Quem ama revela ao mundo o Emanuel, pois
Deus se faz presente onde o amor é a regra da vida.
Esta é, portanto, a mensagem central
do Natal do Senhor: em Cristo Jesus, pela força do Espírito Santo, Deus se
revelou. Deus se tornou pessoa e, assim, ensinou a amar de verdade. O puro
amor, desprovido de interesses e outras manias humanas que matam o amor. O amor
ensinado por Jesus, Deus e homem verdadeiro, é amor-doação, que liberta do
egoísmo e de todas as demais forças de morte que operam neste mundo. Fora deste
amor, as pessoas e toda a humanidade perecem. Não há futuro fora do amor-doação. Quem quiser experimentar a vida e fazer a
vida valer a pena, entregue-se ao amor. E não se demore, pois nas trevas do
pecado e da ignorância não existe felicidade, não existe vida plena.
A celebração do Natal do Senhor é
uma feliz oportunidade para acolher este amor perfeito e capaz de transmitir
vida plena para todos. Resistir a este amor não parece atitude inteligente nem benfazeja.
A situação atual exige postura clara e consciente, exige pessoas amorosas,
abertas e disponíveis. Esta realidade se transformará a partir do momento em
que nos dermos conta, de forma definitiva, de que o caminho trilhado até o
momento – caminho de mentira, apego ao dinheiro, prestígio, poder e intrigas –
está conduzindo a humanidade à destruição total. O Natal de Jesus ensina que o amor-doação é a saída, e Jesus, Palavra
de Deus encarnada, é o modelo por excelência que ensina a amar. Abramo-nos a
Ele e o acolhamos.
Tiago
de França
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