segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Quem vai celebrar o Natal de Jesus?

“E a Palavra se faz carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).
            Meditando sobre o significado do Natal do Senhor, eis que surge uma pergunta: Quem vai celebrar o Natal de Jesus? E na oração foram aparecendo algumas categorias de pessoas que, à luz do verdadeiro significado do Natal de Jesus, certamente não se recordarão desta importante festa cristã. E mesmo que se recordem, não poderão celebrá-la. Algumas destas pessoas, se católicas, até comparecerão às missas celebradas no dia 25 de dezembro. Mesmo assim, não estarão em sintonia com o mistério do Natal de Jesus. Que categorias de pessoas não estarão em sintonia com este sublime mistério? Ousamos mencionar algumas delas.
            Na classe política, encontramos os ladrões do dinheiro público. Estes não poderão celebrar o Natal de Jesus. O motivo é óbvio: Passam o ano se dedicando ao desvio, ao saque criminoso do dinheiro público. Tiram o pão da boca dos pobres. O desvio de dinheiro público não afeta, em primeiro lugar, os ricos, mas fere de morte a dignidade dos pobres. O dinheiro desviado deveria servir para o custeio da educação, saúde, infraestrutura, saneamento básico etc. Quem rouba o que é do povo, no exercício da função pública, não pode celebrar o Natal de Jesus, pois o mandamento de Deus proíbe roubar. O político ladrão não pode elevar a Deus um canto de ação de Deus por nos ter enviado Jesus.
            Também na classe política encontramos outro tipo de político nocivo à democracia e, consequentemente, ao povo: O político que não rouba diretamente o dinheiro público, mas colabora para que isso ocorra, aprovando projetos contrários ao bem comum, legislando e executando leis injustas, que provocam o sofrimento dos pobres, jogando o País no atraso escandaloso e danoso. São políticos que debocham das pessoas que os elegeram e que transformaram a política em um meio desonesto de vida, ganhando altos salários e gozando de privilégios geradores de conforto e vida tranquila. São imorais, sanguessugas, filhos e promotores do atraso, desrespeitadores e ocupados em nada fazer de bom.
            Na economia, também há pessoas que não celebrarão o Natal: Os gananciosos e avarentos, escravos do dinheiro e das riquezas. São pessoas que dedicam suas vidas à multiplicação do dinheiro. São capazes de praticar toda espécie de mal para ganhar mais dinheiro; acordam e vão dormir pensando em dinheiro. Inúmeros empresários e profissionais liberais sofrem deste mal, e sempre apresentam justificativas para convencer os outros e apaziguar as próprias consciências. Alguns tentam enganar a Deus, doando cestas básicas aos pobres nas campanhas natalinas. Pensam que Deus se deixa enganar com a falsa caridade.
            Jesus nasceu na manjedoura: As Escrituras falam que nasceu, viveu e morreu pobre. A pobreza material de Jesus é uma denúncia contra a ganância e a avareza; é a revelação da opção divina pelos pobres. Quem vive a vida somente preocupado em manter e aumentar riqueza não está em comunhão com Jesus. De modo geral, o avarento é alguém egoísta, que não está preocupado com o sofrimento do próximo. Por isso, é incapaz de compreender e celebrar o mistério do Natal de Jesus. Esta festa é, para o avarento e ganancioso, oportunidade para fazer negócios. Os avarentos celebram o Natal do mercado financeiro, jamais o Natal de Jesus.
            Nos demais espaços que compõem a sociedade, encontramos outras categorias de pessoas que não aceitam Jesus nem, por isso mesmo, poderão celebrar o seu Natal: Preconceituosos, racistas, misóginos, homofóbicos, difamadores e caluniadores, e todos aqueles que se ocupam em violentar os outros, contribuindo para a cultura da eliminação do outro. São pessoas que não estão em sintonia com a mensagem de Jesus cujo centro é o amor a Deus e ao próximo. Quem adere à cultura do ódio e da indiferença não poderá celebrar o Natal de Jesus, pois no centro do mistério do Natal está o amor ao próximo.
            Entre os violentos também encontramos um tipo de gente que tem assustado a sociedade brasileira nos últimos anos: Os feminicidas, ou seja, os homens que sentem ódio das mulheres pelo simples fato de serem mulheres e as matam, impiedosamente. Esses assassinos não poderão celebrar o Natal de Jesus. O sangue das vítimas clama a justiça divina. O Brasil está entre os países que mais matam mulheres no mundo, e esta vergonhosa situação atenta contra o mistério da encarnação de Deus no mundo. Deus se encarnou para que todos tenham vida plena; por isso, ninguém recebeu de Deus o poder de matar. Homens covardes que matam, principalmente os que matam as crianças e as mulheres, jamais poderão celebrar o Natal de Jesus.
            No seio de nossas Igrejas cristãs também encontramos pessoas que não poderão celebrar o Natal de Jesus: Todos aqueles que se dizem cristãos, mas que se dedicam à divisão; ao ódio; à indiferença; à perseguição; às intrigas; aos falsos testemunhos; à exploração da ingenuidade e inocência das pessoas; ao uso da religião para extorquir dinheiro, enriquecendo-se; a usar a religião para estuprar, assediar, ameaçar, enganar e cometer toda espécie de mal. São pessoas que afetam gravemente a imagem do cristianismo, utilizando-se dele para praticar o mal. Jesus as chama de “sepulcros caiados” e “hipócritas”, entre outras expressões duras, que indicam reprovação e convite à conversão.
            Certamente, por motivos tão graves quanto os que aqui enumeramos, há outras tantas pessoas que não poderão celebrar o Natal. Todas estas categorias de pessoas não são chamadas a celebrar o Natal de Jesus? Sim, todas são chamadas. O que devem fazer? São chamadas a acolher Jesus, para que possam receber dele “a capacidade de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 12). São os filhos de Deus que celebram o Natal, pois acreditaram no nome de Jesus, recebendo-o no coração e na vida. Os filhos de Deus são seguidores de Jesus, que é a vida e a luz dos homens, e, por isso, dão testemunho desta luz. Agem como filhos da luz, não como filhos das trevas.
            Quem acolhe Jesus recebe o convite à conversão. Quando acolhido, Jesus muda radicalmente a vida de quem o acolhe. Isto é Natal. Com a vida sendo transformada, a pessoa sente Jesus nascer, crescer e tomar conta do seu ser. Este é o desejo de Deus: Fazer morada em nós. Todos aqueles que se transformam na morada de Deus são interiormente iluminados pela luz divina, tornando-se filhos de Deus e capazes de amar. Aí já não existe mais a capacidade para as obras das trevas. É verdade que o pecado faz parte da vida daqueles que seguem Jesus. Mas é verdade também que a força de Jesus já não permite que seus seguidores se entreguem ao pecado. Em Cristo Jesus, Palavra do Pai encarnada, somos pecadores livres da escravidão do pecado e do poder da morte! Isto é Natal.
             Portanto, todas aquelas categorias de pessoas que se dedicam ao mal são chamadas a acolher Jesus para, assim, celebrar o Natal. A celebração do Natal é um convite à conversão, à mudança de vida. O convertido não deixa de ser pecador, mas é alguém que se coloca no caminho de Jesus, e neste caminho é chamado a perseverar até o fim de sua vida. Para que o Natal não se transforme em uma mera data comemorativa na qual há muita comida, bebida e troca de presentes, precisamos acolher o Cristo Jesus. Festejar faz bem e causa alegria, mas a alegria sem fim está no acolhimento de Jesus, que implica acolher o próximo, amando-o, gratuita e generosamente.
Que o Cristo Jesus seja tudo em todos!
Feliz Natal!
Tiago de França

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