“E a Palavra se faz carne e
habitou entre nós” (Jo 1, 14).
Meditando sobre o significado do
Natal do Senhor, eis que surge uma pergunta: Quem vai celebrar o Natal de Jesus? E na oração foram aparecendo
algumas categorias de pessoas que, à luz do verdadeiro significado do Natal de
Jesus, certamente não se recordarão desta importante festa cristã. E mesmo que
se recordem, não poderão celebrá-la. Algumas destas pessoas, se católicas, até
comparecerão às missas celebradas no dia 25 de dezembro. Mesmo assim, não
estarão em sintonia com o mistério do Natal de Jesus. Que categorias de pessoas
não estarão em sintonia com este sublime mistério? Ousamos mencionar algumas
delas.
Na classe política, encontramos os
ladrões do dinheiro público. Estes não poderão celebrar o Natal de Jesus. O motivo
é óbvio: Passam o ano se dedicando ao desvio, ao saque criminoso do dinheiro
público. Tiram o pão da boca dos pobres. O desvio de dinheiro público não afeta,
em primeiro lugar, os ricos, mas fere de morte a dignidade dos pobres. O dinheiro
desviado deveria servir para o custeio da educação, saúde, infraestrutura,
saneamento básico etc. Quem rouba o que é do povo, no exercício da função
pública, não pode celebrar o Natal de Jesus, pois o mandamento de Deus proíbe
roubar. O político ladrão não pode elevar a Deus um canto de ação de Deus por
nos ter enviado Jesus.
Também na classe política
encontramos outro tipo de político nocivo à democracia e, consequentemente, ao
povo: O político que não rouba diretamente o dinheiro público, mas colabora
para que isso ocorra, aprovando projetos contrários ao bem comum, legislando e
executando leis injustas, que provocam o sofrimento dos pobres, jogando o País
no atraso escandaloso e danoso. São políticos que debocham das pessoas que os
elegeram e que transformaram a política em um meio desonesto de vida, ganhando
altos salários e gozando de privilégios geradores de conforto e vida tranquila.
São imorais, sanguessugas, filhos e promotores do atraso, desrespeitadores e
ocupados em nada fazer de bom.
Na economia, também há pessoas que
não celebrarão o Natal: Os gananciosos e avarentos, escravos do dinheiro e das
riquezas. São pessoas que dedicam suas vidas à multiplicação do dinheiro. São
capazes de praticar toda espécie de mal para ganhar mais dinheiro; acordam e vão
dormir pensando em dinheiro. Inúmeros empresários e profissionais liberais
sofrem deste mal, e sempre apresentam justificativas para convencer os outros e
apaziguar as próprias consciências. Alguns tentam enganar a Deus, doando cestas
básicas aos pobres nas campanhas natalinas. Pensam que Deus se deixa enganar
com a falsa caridade.
Jesus nasceu na manjedoura: As Escrituras
falam que nasceu, viveu e morreu pobre. A pobreza material de Jesus é uma
denúncia contra a ganância e a avareza; é a revelação da opção divina pelos
pobres. Quem vive a vida somente preocupado em manter e aumentar riqueza não
está em comunhão com Jesus. De modo geral, o avarento é alguém egoísta, que não
está preocupado com o sofrimento do próximo. Por isso, é incapaz de compreender
e celebrar o mistério do Natal de Jesus. Esta festa é, para o avarento e
ganancioso, oportunidade para fazer negócios. Os avarentos celebram o Natal do
mercado financeiro, jamais o Natal de Jesus.
Nos demais espaços que compõem a
sociedade, encontramos outras categorias de pessoas que não aceitam Jesus nem,
por isso mesmo, poderão celebrar o seu Natal: Preconceituosos, racistas,
misóginos, homofóbicos, difamadores e caluniadores, e todos aqueles que se
ocupam em violentar os outros, contribuindo para a cultura da eliminação do
outro. São pessoas que não estão em sintonia com a mensagem de Jesus cujo
centro é o amor a Deus e ao próximo. Quem adere à cultura do ódio e da
indiferença não poderá celebrar o Natal de Jesus, pois no centro do mistério do
Natal está o amor ao próximo.
Entre os violentos também
encontramos um tipo de gente que tem assustado a sociedade brasileira nos
últimos anos: Os feminicidas, ou seja, os homens que sentem ódio das mulheres
pelo simples fato de serem mulheres e as matam, impiedosamente. Esses assassinos
não poderão celebrar o Natal de Jesus. O sangue das vítimas clama a justiça
divina. O Brasil está entre os países que mais matam mulheres no mundo, e esta
vergonhosa situação atenta contra o mistério da encarnação de Deus no mundo. Deus
se encarnou para que todos tenham vida plena; por isso, ninguém recebeu de Deus
o poder de matar. Homens covardes que matam, principalmente os que matam as crianças
e as mulheres, jamais poderão celebrar o Natal de Jesus.
No seio de nossas Igrejas cristãs
também encontramos pessoas que não poderão celebrar o Natal de Jesus: Todos
aqueles que se dizem cristãos, mas que se dedicam à divisão; ao ódio; à
indiferença; à perseguição; às intrigas; aos falsos testemunhos; à exploração
da ingenuidade e inocência das pessoas; ao uso da religião para extorquir dinheiro,
enriquecendo-se; a usar a religião para estuprar, assediar, ameaçar, enganar e
cometer toda espécie de mal. São pessoas que afetam gravemente a imagem do
cristianismo, utilizando-se dele para praticar o mal. Jesus as chama de “sepulcros
caiados” e “hipócritas”, entre outras expressões duras, que indicam reprovação
e convite à conversão.
Certamente, por motivos tão graves
quanto os que aqui enumeramos, há outras tantas pessoas que não poderão celebrar
o Natal. Todas estas categorias de pessoas não são chamadas a celebrar o Natal
de Jesus? Sim, todas são chamadas. O que devem fazer? São chamadas a acolher
Jesus, para que possam receber dele “a capacidade de se tornarem filhos de Deus”
(Jo 1, 12). São os filhos de Deus que celebram o Natal, pois acreditaram no
nome de Jesus, recebendo-o no coração e na vida. Os filhos de Deus são seguidores
de Jesus, que é a vida e a luz dos homens, e, por isso, dão testemunho desta
luz. Agem como filhos da luz, não como filhos das trevas.
Quem acolhe Jesus recebe o convite à
conversão. Quando acolhido, Jesus muda radicalmente a vida de quem o acolhe. Isto
é Natal. Com a vida sendo transformada, a pessoa sente Jesus nascer, crescer e
tomar conta do seu ser. Este é o desejo de Deus: Fazer morada em nós. Todos aqueles
que se transformam na morada de Deus são interiormente iluminados pela luz
divina, tornando-se filhos de Deus e capazes de amar. Aí já não existe mais a
capacidade para as obras das trevas. É verdade que o pecado faz parte da vida
daqueles que seguem Jesus. Mas é verdade também que a força de Jesus já não
permite que seus seguidores se entreguem ao pecado. Em Cristo Jesus, Palavra do
Pai encarnada, somos pecadores livres da escravidão do pecado e do poder da
morte! Isto é Natal.
Portanto, todas aquelas categorias de pessoas
que se dedicam ao mal são chamadas a acolher Jesus para, assim, celebrar o
Natal. A celebração do Natal é um convite à conversão, à mudança de vida. O convertido
não deixa de ser pecador, mas é alguém que se coloca no caminho de Jesus, e
neste caminho é chamado a perseverar até o fim de sua vida. Para que o Natal
não se transforme em uma mera data comemorativa na qual há muita comida, bebida
e troca de presentes, precisamos acolher o Cristo Jesus. Festejar faz bem e
causa alegria, mas a alegria sem fim está no acolhimento de Jesus, que implica
acolher o próximo, amando-o, gratuita e generosamente.
Que
o Cristo Jesus seja tudo em todos!
Feliz Natal!
Tiago de França
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