segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

RETROSPECTIVA 2019


           Algumas decisões políticas chamaram a atenção no decorrer deste ano. Vale a penar mencioná-las para que não caiam no esquecimento. Elas revelam um projeto político que, indiscutivelmente, está provocando sofrimento na vida dos brasileiros. Não surpreendem porque o presidente eleito já falava de cada uma delas durante a campanha eleitoral. Mesmo assim, parcela do povo brasileiro o elegeu, pensando que um ex-capitão do exército, com quase trinta anos de vida pública, sem fazer praticamente nada a favor do seu próprio estado, o Rio de Janeiro, pudesse trabalhar para resolver os reais problemas de um país continental como o Brasil.
           Não é novidade para ninguém que o atual presidente é, intelectualmente, muito fraco e desprovido de um projeto político claro e capaz de melhorar a vida dos brasileiros. Isto era visível na campanha eleitoral. O então candidato Bolsonaro sequer tinha plano de governo. Tudo foi criado às vésperas do dia das eleições. Marcada por uma onda de notícias falsas, veiculadas pelo Facebook e WhatsApp, a campanha do ex-capitão conseguiu enganar uma parcela da população, que conseguiu elegê-lo presidente. Esta parcela não constituiu a maioria dos eleitores brasileiros. A maioria dos votantes não compareceu ao segundo torno das eleições, permitindo a vitória de um político totalmente descomprometido com o bem comum.
            Dadas estas considerações, assistimos ao primeiro ano do governo Bolsonaro. Trata-se de um ano que aponta para o como serão os próximos três anos de mandato. Das várias medidas e acontecimentos que vieram a público durante este ano, selecionamos aqueles que mais chamaram a atenção dos brasileiros que gozam do bom senso. Apesar de tudo, ainda há inúmeras pessoas, que votaram no ex-capitão, que ainda acreditam ser ele o Messias, o salvador da pátria. Quais seriam os motivos que levam estas pessoas a continuarem acreditando nesse messianismo político, misturado com um estranho cristianismo oportunista, que tanto mal tem ocasionado à vida dos mais pobres do povo brasileiro?
            Seguem as medidas e acontecimentos que marcaram o ano político, que impactaram gravemente a vida do povo brasileiro e que envergonharam o Brasil no cenário internacional:
ü  O governo enviou ao Congresso um projeto de lei complementar que visa usar dinheiro público para socorrer os bancos. Não há dinheiro para maiores investimentos em educação e outros setores, mas há para socorrer os bancos?;
ü  Com o objetivo de reduzir e, progressivamente, acabar com a autonomia das universidades públicas, Bolsonaro impôs, por meio de uma Medida Provisória, novas regras para a escolha dos reitores das universidades federais. Tal medida caracteriza os governos autoritários;
ü  Ricardo Galvão, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foi demitido do cargo por mostrar ao mundo a real situação do desmatamento da Amazônia. O presidente da República queria que o INPE escondesse a realidade, para não manchar mais ainda a imagem do Brasil no exterior. Posteriormente, o físico Ricardo Galvão foi incluído, pela famosa revista científica “Nature”, na lista dos dez cientistas que mais se destacaram na área da ciência em 2019;
ü  Neste ano, não se ouviu mais, da boca do presidente, um de seus bordões de campanha: “Bandido bom é bandido morto!” Analistas perceberam o sumiço deste bordão desde que veio a público o escândalo de corrupção envolvendo o filho do presidente e o amigo da família Bolsonaro, o Queiroz, que continua sumido;
ü  Pela primeira vez nos últimos anos, um presidente da República se volta contra Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira, um dos educadores mais influentes do mundo. Bolsonaro o chamou de “energúmeno”. Tal fato contribuiu mais ainda para queimar a imagem do Brasil no exterior;
ü  Como se tivesse gastando do próprio bolso, Bolsonaro impôs sigilo nos gastos do cartão corporativo da presidência da República. Considerando que se trata de dinheiro pública, o STF derrubou o sigilo. Mesmo assim, o presidente insistiu no sigilo dos gastos, numa clara demonstração de falta de transparência no uso do dinheiro público;
ü  Pela primeira vez na história do Palácio do Planalto, a bancada “evangélica” conseguiu fazer um culto religioso na residência presidencial, contando com a presença do representante da Igreja Universal do Reino de Deus; prova evidente da preferência do presidente da República pelo protestantismo em detrimento das demais denominações religiosas. O Estado somente é laico na letra da Constituição;
ü  Bolsonaro foi denunciado no Tribunal Penal Internacional (TPI) por incitar o genocídio e promover ataques sistemáticos aos povos indígenas do Brasil. Mesmo não seja condenado, a imagem do presidente já está gravemente comprometida no cenário internacional. Isto também afeta a imagem do Brasil na comunidade internacional;
ü  Neste ano, o Superior Tribunal Militar (STM) julgou 1.036 processos envolvendo a posse e o uso de drogas nos quartéis. A tese bolsonarista de que não existe corrupção entre os militares é mentirosa. Estamos falando de um tipo de crime, apenas. Há muitos outros;
ü  Misteriosamente, apareceu óleo poluindo as praias do nordeste. Como a maioria dos nordestinos não votou no presidente, este não se mexeu para resolver o problema. Depois de muitas críticas, mandou a Marinha do Brasil ajudar na limpeza;
ü  O presidente tentou colocar o próprio filho, Eduardo Bolsonaro, que não domina sequer a língua inglesa, como embaixador do Brasil nos EUA. De tanto tentar, desistiu, dada a resistência no Congresso Nacional e no meio diplomático;
ü  Neste mês de dezembro, a carne teve um aumento de 17,7%. A ministra da Agricultura sinalizou que o preço não vai cair. O aumento atinge os mais pobres do povo;
ü  Foram liberados, para registro e venda, 474 novos agrotóxicos. A medida beneficia os fabricantes e prejudica a saúde dos brasileiros;
ü  Para piorar a Reforma Trabalhista, que já beneficiava os patrões, o governo editou a “MP da Liberdade Econômica”, aumentando os benefícios aos empresários em detrimento dos trabalhadores;
ü  O site The Intercept Brasil publicou inúmeras conversas do então juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, com procuradores da Lava Jato, que levaram a entender a escandalosa parcialidade do juiz na condução dos processos da Operação, principalmente nos processos envolvendo o ex-presidente Lula. As conversas não foram investigadas, pois Sérgio Moro é chefe da Polícia Federal;
ü  O ministro do Turismo do governo Bolsonaro está sendo investigado pela Polícia Federal, indiciado por envolvimento no escândalo de candidaturas laranjas do PSL (partido do Bolsonaro nas eleições 2018);
ü  O presidente tentou acabar com os radares móveis nas rodovias federais, impedindo a instalação de 8 mil radares. Mas a Justiça Federal impediu a tragédia;
ü  Visando beneficiar o próprio filho, acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de ser o chefe de uma organização criminosa no RJ, o presidente usou o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro para aprovar a figura do “juiz de garantias”, que impede o atual juiz do caso que envolve o filho do presidente de sentenciá-lo ao final do processo;
ü  A Reforma da Previdência, que mais beneficia os ricos que os pobres, foi aprovada neste ano. O brasileiro terá que trabalhar por mais tempo para receber o salário integral;
ü  O governo facilitou o acesso às armas de fogo no Brasil. A medida ajudou a indústria de armas, mas não resultou no aumento da segurança. A maioria do povo, sem dinheiro para comprar o necessário para viver, continua desarmada e exposta à violência;
ü  Para beneficiar os empresários, o governo acabou com a multa de 10% paga pelas empresas ao governo nas demissões sem justa causa de empregado;
ü  O governo tentou acabar com o seguro DPVAT, mas o STF não permitiu;
ü  O salário mínimo aprovado para 2020 é de R$ 1.031. Para assegurar novas vantagens para a carreira militar, o governo reservou 4,7 bilhões de reais no orçamento de 2020. Este valor é destinado somente às vantagens que serão criadas;
ü  O desmatamento na Amazônia cresceu assustadoramente. A grilagem de terra é o principal causador do problema. O governo demonstra pouco interesse em resolver o problema. A situação virou motivo de chacota no seio do governo federal;
ü  O setor que mais sofreu cortes e perseguições do governo federal foi o da educação. Acredita-se que com menos recursos a educação melhora! É a lógica do atual governo;
ü  O número dos que estão na extrema pobreza no Brasil é de 13,5 milhões de pessoas. Estas sobrevivem com 145 reais mensais. O governo não está preocupado com o problema;
ü  O número de desempregados no Brasil é de 11,9 milhões de pessoas. Até o presente momento o governo federal não apresentou nenhuma solução para este grave problema, e o assunto sequer é mencionado nas falas do presidente;
ü  Neste ano, o preço do gás de cozinha acumulou alta de cerca de 10%.
Finalizamos estes breves apontamentos, com estas tristes medidas adotadas pelo governo, com algumas questões que podem nos ajudar a pensar a situação: Por que a grande maioria do povo brasileiro está assistindo calada à implementação destas medidas prejudiciais? Por que a classe média, que foi às ruas na época do governo da presidenta Dilma, está calada, sem reação? E os eleitores do presidente Bolsonaro, não reagem por vergonha, ou por cegueira? Esta passividade está alicerçada no medo, na vergonha, na alienação, na indiferença, ou na falta de perspectiva política? Vamos pensar um pouco.

Tiago de França

2 comentários:

Unknown disse...

Fax noite em nosso País, mas eu canto. Resistirei até morrer🙏❤

Tiago de França disse...

Resistir é preciso!
Abraço!