terça-feira, 21 de junho de 2016

Recuperar a visão do outro. Pensamentos (XI)

Há uma cegueira do coração a ser enfrentada pelas pessoas no mundo atual. Esta cegueira se manifesta na falta se sensibilidade. Esta sensibilidade nos faz sentir a presença do outro. Este outro existe e está diante de nós. E nós não podemos ignorá-lo. A presença do outro requer visão, tato e ação. Precisamos recuperar o hábito sadio de olhar na pupila dos olhos do outro, dilatada pelos medos, pelas angústias, pelas tristezas, pelo assombro...

No mundo das artificialidades, do transitório, das evasões, das fugas, do descartável, das futilidades, do brilhantismo, da liquidez, da ausência de compaixão, da banalidade do mal, das incertezas, da total desorientação oriunda da ausência de discernimento, da multiplicação infinita das inúmeras formas de sofrimentos; neste mundo, precisamos recuperar a virtude da aproximação, do interessar-se pelas circunstâncias que compõem a vida do outro, suas histórias, seus desafios, seus sonhos...

O que será de cada um de nós se passarmos, sempre, a nos estranharmos e a nos ignoramos, reciprocamente?... Como sobreviveremos sobre a face da terra se não nos reconhecermos como membros de uma mesma família, a família humana?... O que há dentro do nosso interior que nos impede de olhar para os olhos apelativos do outro?... Como podemos ser felizes, entregando-nos à frieza e à indiferença?... Por que não combatemos essa mania diabólica, desumana e suicida de procurarmos somente o nosso bem em detrimento do outro?... Por que não buscamos nos libertar da vida segundo as aparências para vivermos uma vida autêntica e plena de sentido?...

“Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres”, afirmou Jesus de Nazaré em seu Evangelho. A mentira nos torna prisioneiros de uma vida medíocre. Estamos vivos, cuidemos, portanto, em trilhar o caminho da verdade. Ainda temos tempo. Nunca é tarde para descobrirmos em nós a verdadeira felicidade. E somente há felicidade quando aceitamos a verdade. Qual verdade? A verdade daquilo que realmente somos, a verdade do outro, a verdade da realidade que nos cerca, sem ilusões, sem fugas, sem desculpas. Tudo é muito simples. A verdade é simples e humilde, é caminho para ser feliz.


Tiago de França

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