A notícia da morte do ator
Domingos Montagner pegou todo mundo de surpresa. A morte sempre nos surpreende.
As pessoas sempre pensam que se terão por muito tempo.
Praticamente ninguém reflete
sobre a transitoriedade de todas as coisas. E com os avanços da técnica e da
ciência, o homem procura sempre, os meios para adiar a própria morte. Mas,
muitas vezes, ela não respeita esses métodos; é mais forte que todos eles.
A morte das pessoas, sejam
famosas ou não, deveria ser uma oportunidade para cada um pensar na própria
morte e, sobretudo, na própria vida. Está valendo a vida que levamos? Há sentido
na vida que insistimos em manter? Qual tem sido a nossa contribuição para o
crescimento da vida em um mundo marcado pelo poder avassalador da morte?...
Estas e tantas outras
perguntas deveriam nos levar a uma reflexão sobre a nossa maneira de viver a
vida, sobre aquilo que realmente importa.
Assistindo pela TV às
lágrimas dos amigos mais próximos do ator, assim como de seus familiares, uma
pergunta surgiu: será que estas pessoas aproveitaram bem a sua presença? Será que
lhe deram o devido valor enquanto ele estava vivo?...
Infelizmente, em inúmeros
casos, descobre-se o quanto o outro faz falta somente em decorrência da sua morte.
Aí é tarde demais.
Estas mortes repentinas
falam da fragilidade da vida humana, de sua transitoriedade inevitável. Isto nos
alerta para uma verdade que a gente sempre evita considerar: não teremos ao nosso lado e ao nosso
alcance, para sempre, as pessoas que nos são queridas.
Cedo ou tarde, previsível,
ou imprevisivelmente, elas desaparecerão. As pessoas são finitas, elas passam. Ninguém
é eterno neste mundo. Uns desaparecem com o passar do tempo; outros, deixam de
existir de repente, num estalo de dedos. Evaporam como a fumaça levada pelo
vento...
E quando isto não ocorre,
somos nós que conhecemos o nosso fim, e desaparecemos da vida das pessoas. Às
vezes, deixamos de existir para os outros por causa dos nossos conflitos e do
nosso orgulho; outras vezes, porque simplesmente morremos.
Quando vivos, ainda existe
uma possibilidade de nos reencontrarmos para continuarmos juntos a peleja da
vida; do contrário, quando morremos, aí já não tem mais jeito. E não há choro
nem revolta que mude a situação. Esta se impõe sem pedir licença.
Para a vida deste mundo, a
morte é irreversível. Uma vez mortos, para os que ficam, ingressamos em um de
dois mundos: no mundo das lembranças, ou no mundo do esquecimento. É assim a
vida humana sobre a face da terra.
Nada, absolutamente nada,
muda isso: nem nosso dinheiro, nem nossa vaidade, nem nosso orgulho, nem nosso
prestígio, absolutamente nada consegue mudar a certeza e a realidade de nosso
fim.
É a nossa condição de seres
que caminham, inevitavelmente, para a morte. E a cada dia que se passa, ela se
torna próxima. Resta-nos, a esperança da ressurreição para aqueles que creem. Para
os que não creem, o homem caminha ao encontro do nada.
Tiago de França
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