quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

O encontro do ex-presidente Lula com o Papa Francisco e o ódio da extrema direita

Após a publicação das fotos do Papa Francisco com o ex-presidente Lula, uma onda raivosa de críticas ao Papa tomou conta das redes sociais. No perfil do ex-presidente Lula nas redes sociais aparecem vergonhosas expressões de preconceito e ódio ao Papa e ao ex-presidente. Esta situação precisa ser denunciada.
Aqui refiro-me, principalmente, aos católicos ultraconservadores que, sem vergonha nenhuma, utilizam-se das redes sociais para expressar o contrário daquilo que ensina a fé cristã: o amor a Deus e ao próximo.
Para quem diz ter fé em Deus, a mensagem de Jesus pode ser traduzida da seguinte forma: Não gostar de uma pessoa, grupo ou instituição, não confere o direito de agredir, partindo para ofensas. Quem agride aos outros comete pecado e está em contradição com a fé que diz professar.
O cristianismo deve ser a religião da tolerância, do diálogo, do entendimento, do respeito, da reciprocidade, da solidariedade, da justiça e da paz. Não se identificar com alguém não justifica nenhuma espécie de agressão. Dentro e fora das religiões, somos chamados ao respeito. O respeito é uma das regras da civilidade humana.
Para um católico, a falta de respeito em relação ao Papa é mais grave ainda, pois o Papa é o Bispo de Roma, responsável por promover a unidade cristã. Segundo o direito canônico, o Papa possui a autoridade suprema da Igreja católica. Portanto, cabe a todo católico o respeito, a reverência, a obediência e a oração pelo Papa.
Para além do ofício que exerce, o Papa Francisco é uma das autoridades mais respeitadas do mundo atual, tornando-se referência para milhões de pessoas, dentro e fora da Igreja católica. Seu testemunho pessoal de integridade e compromisso com a justiça do Reino de Deus é sinal de alegria e estímulo para a construção de um mundo mais justo e fraterno.
O ex-presidente Lula é católico e tem todo direito de se encontrar com o Papa. Este o cumprimentou, quando da ocasião de sua prisão em Curitiba. Todo religioso deve acolher, escutar e dar uma palavra de ânimo a todos aqueles que possuem sede de justiça e paz.
O ex-presidente Lula não é um santo, pois somente Deus é Santo. Mas, aceitando ou não, concordando ou não, no mundo da política, tão necessário ao progresso dos povos, o ex-presidente figura entre os presidentes mais influentes da história política do Brasil. Quem discorda, compare a nossa situação atual, sob o presidente Bolsonaro, com a era Lula, e verá que estamos caminhando para trás. Hoje, os pobres não participam do progresso do País. O projeto político que está no poder está sustentado e voltado para a promoção dos ricos em detrimento dos pobres. Esta é a realidade.
Somente os ricos, os que se beneficiam deles e os que não tem consciência do que está acontecendo hoje no Brasil são os que discordam deste ponto de vista. Cresce a pobreza, filha do desemprego e da concentração de renda nas mãos da elite do poder econômico, da ausência de políticas públicas inclusivas, e da corrupção abafada pelo jogo de poder que aparenta justiça, mas, na verdade, esconde a corrupção. O ex-presidente Lula foi se encontrar com o Papa para falar sobre estas coisas e, certamente, foi escutado com respeito, atenção e afeto paternal.
Aos católicos e demais cristãos não católicos que reagiram violentamente à notícia da visita do ex-presidente Lula ao Papa Francisco, recomendo que releiam o Evangelho de Jesus, especialmente a passagem da regra de ouro, que diz: "Não julgueis, e não sereis julgados, pois com o julgamento com que julgardes, sereis julgados, e com a medida com que medirdes se medirá para vós" (Mateus 7,1-2). Estas palavras de Jesus são um convite à conversão.

Tiago de França

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