sábado, 30 de maio de 2009

Solenidade de Pentecostes 2009


“O amor de Deus foi derramado em nossos corações
pelo Espírito que habita em nós, aleluia!”(Rm 5,5; 10,11)

“Recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia, na Samaria e até os confins da terra” (Atos 1, 8). Foram estas as palavras de Jesus antes de retornar ao seio do Pai. Ele promete o Espírito aos discípulos. Os discípulos confiam na palavra de Jesus e reunidos esperam a descida do Espírito Santo. As palavras de Jesus revelam a missão do Espírito Santo ao descer sobre os discípulos e sobre a face da terra: ajudá-los na missão de serem testemunhas da Ressurreição. Jesus deseja que a Boa Nova, que é ele mesmo, chegue aos confins da terra através da palavra e do testemunho de seus discípulos, que se tornando apóstolos foram as autenticas testemunhas de sua vida. Jesus convida-os a segui-lo e o Espírito os encoraja a assumir a missão.

“Mas o defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14, 26). Ensinar e recordar, eis duas ações que o Espírito operou nos discípulos de Jesus. Foram muitas as coisas que Jesus ensinou com a palavra e com sua vida aos seus seguidores. E o Espírito de Deus é aquele que ensina ao discípulo a seguir o Mestre e falar de sua intimidade. O Espírito recorda o seguidor de Jesus a sua missão, para que não se desvie do caminho. Recordar significa ter em mente a missão, o anúncio da Verdade que integra e liberta o homem das forças da morte que se manifestam nas pessoas e no mundo. É o Espírito que mantêm a fidelidade do discípulo, levando-o a doar a sua vida sem reservas.

“Então apareceram línguas como de fogo que se repartiam e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (Atos 2, 2 – 3). Verdadeiramente, em nome de Jesus, seu amado Filho, Deus enviou sobre os discípulos, o Espírito Santo. Este veio em forma de fogo. Um fogo que se reparte e pousa. O versículo primeiro fala de um forte barulho e como que uma ventania que enche toda a casa onde os discípulos se encontravam. Todos os verbos relacionados ao Espírito indicam movimento, ação, mudança, transformação. O Espírito veio sobre homens, limitados, pecadores. Faz estes homens falar línguas estranhas. E para que não pensemos que eles falaram a língua dos anjos, o autor dos Atos expressa claramente: “Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua” (Atos 2, 6), isto seria como seu, brasileiro, falante da língua portuguesa, fosse impelido pelo Espírito para uma missão no Japão e, sem nenhum conhecimento da língua, pregasse a Boa Nova em japonês. Foi isto que aconteceu. Extraordinário! O missionário jesuíta Francisco Xavier viveu esta experiência quando evangelizou indonésios, chineses e japoneses.

“De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito” (1 Cor 12, 13). O Espírito Santo une as pessoas e mantêm a unidade do povo de Deus. Todos são batizados no Espírito, e todos bebemos deste mesmo Espírito. Unidos pelo Espírito formamos um só corpo, tendo Cristo como cabeça. Na missão, não é admissível a divisão e a confusão, pois todos são impulsionados pelo mesmo Espírito de Deus. As divisões que há entre os cristãos devem-se ao esquecimento da missão, por meio da busca de interesses particulares e institucionais. A briga pelo prestígio e pelo poder divide os cristãos de todos os tempos e lugares. Enquanto não houver renúncia de tais interesses não haverá unidade entre os cristãos. Estes precisam tomar consciência de que a missão é seguir Jesus no caminho do amor, dando testemunho diante dos homens do amor de Deus, que dá vida e liberta integralmente o gênero humano e toda a criação.

“Tendo assim recebido pelo Espírito a imagem e a inscrição do Pai e do Filho, façamos frutificar os dons que nos foram confiados e os restituamos multiplicados ao Senhor” (Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo. Séc. II, p. 926 da Lit. das Horas). Nós temos em nosso ser, a imagem e a inscrição do Pai e do Filho, dadas pelo Espírito. Estamos selados. Temos identificação. Somos cristãos. A autenticidade da vida cristã é conferida pelo Espírito de Deus. Toda pessoa que aceitou Jesus pelo batismo, carrega consigo este caráter indelével. Recebemos de Deus os dons necessários para uma vida feliz. Dons que precisam ser colocado a serviço. Os dons só servem para servir. Os dons dados por Deus a cada pessoa é para que ela se torne sua servidora, somos servidores de Deus. Todos os dons estão intimamente ligados ao amor, porque este é o dom maior. Quando amamos, estamos servindo a Deus. O cristão não pode deixar de amar, porque se o fizer, deixará de viver sua vocação por excelência.

“A santidade é o fruto do Espírito, ela não pode ser produzida por poderes humanos. Ser santo é agir pelo poder do Espírito, livrar-se dos poderes deste mundo para viver o poder de Deus. A santidade do Espírito vive-se na renúncia aos poderes deste mundo. Jesus tornou-se fraco, pequeno, pobre para ser santo, para ser instrumento de Deus. Também a Igreja há de se tornar fraca, pobre para ser santa” (José Comblin, O Espírito Santo e a Libertação. Vozes, 1987, p. 132). O Espírito Santo santifica o seguidor de Jesus por meio do amor. O amor de Deus santifica as pessoas. Agir pelo poder do Espírito, isto é ser santo. O teólogo José Comblin coloca o poder como impedimento para a santidade. Um santo não tem poder para nada neste mundo, a não ser o poder de Deus. O verdadeiro santo é aquele que só tem o poder de Deus. Um exemplo de santo pobre que só possuiu o poder de Deus foi São Francisco, o pobre de Assis. Então, para sermos santos precisamos renunciar aos poderes deste mundo. Jesus, modelo e fonte de santidade, não teve poder neste mundo: não era doutor da lei e nem sacerdote do templo, mas filho de um carpinteiro. Jesus não tinha onde reclinar a cabeça, dada a sua pobreza. Numa linguagem popular, em sua humanidade, Jesus foi um “Zé ninguém”. Os ricos costumam dizer que o homem que nada pode e nada possui é um “pobre lascado”, assim foi Jesus.

“No amor participamos da plenitude de Jesus e de Deus. E não há outra fórmula melhor para dizer que existe salvação” (Jon Sobrino, Fé em Jesus Cristo – ensaio a partir das vítimas. Vozes, 2000, p. 300). O Espírito de Deus ensina-nos a viver o amor de Deus e este amor nos faz participantes da plenitude de Jesus e de Deus. Isto é o Evangelho. É isto que devemos viver e assim estamos anunciando ao mundo a Boa Notícia da salvação. As pessoas e o mundo precisam saber desta verdade. A partir do conhecimento desta verdade é se restituirão no mundo, a vida e a liberdade. O Espírito de Deus trabalha incansavelmente todos os dias no mundo, porque o desejo de Deus é a vida do homem e do mundo. Quando o homem vive, o mundo se transforma. Quando a vida é aniquilada, o mundo também perde a vida. Precisamos tomar consciência que este mundo foi-nos dado para nele vivermos pela via do amor e do cuidado. O Espírito de Deus é vida e nos faz viver. Celebrar o Pentecostes significa permitirmos que a vida viva.

“... certamente não tenho prazer na morte do ímpio; mas antes, na sua conversão, em que ele se converta do seu caminho e viva” (Ez 33, 11). Hoje, fala-se muito no Espírito Santo nas Igrejas Cristãs. O Espírito é invocado para muitas coisas, inclusive para legitimar o poder e o suborno. O Espírito é “usado” para invocar curas e milagres a troco de recompensas financeiras. São muitas as curas, visões, êxtases, profecias, prodígios etc. Tomemos cuidado, pois o próprio Espírito de Deus denuncia os falsos profetas e nos faz discernir aquilo que nada tem a ver com a ação divina. Toda ação espiritual que estiver ligada aos poderes deste mundo e tiver a finalidade de ganhar dinheiro em nome de Deus, é mentira e falsidade. Nestas ações, ritos e cultos, o Espírito de Deus está totalmente ausente, porque nelas não há vida nem liberdade, mas alienação, exploração e morte.

Que o Espírito Santo nos guie no caminho da justiça e da paz!

Tiago de França da Silva

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