sábado, 11 de julho de 2020

O Brasil e a pandemia do novo coronavírus


        As notícias indicam que o novo coronavírus não deixará o Brasil tão rapidamente como se pensava. Mas houve quem pensasse que ele iria embora rapidamente? Sim, o presidente da República, quando afirmou ser o novo coronavírus uma “gripezinha”. Curiosamente, o presidente diz estar tomando a tal da cloroquina, ao anunciar, sem ser obrigado por medida judicial, que está contaminado.
            Sobre esta contaminação, há os que questionam se é ou não verdade. Mas por que esse questionamento aparece? Porque muitas notícias falsas estão diretamente ligadas ao governo. Nestes dias, o Facebook derrubou uma rede de perfis falsos ligada a funcionários dos gabinetes da família Bolsonaro. Já parece bastante claro que desde a campanha eleitoral o governo trabalha com as chamadas fake news (notícias falsas). E qual a finalidade dessas falsas notícias? Obviamente, enganar as pessoas, levando-as a acreditar naquilo que não existe, criando, assim, um Brasil fake.
            Seria impossível que as notícias falsas não aparecem durante a pandemia do novo coronavírus. É o que está acontecendo, desde que o vírus se manifestou na China. Quando se noticiou o surgimento do vírus, os produtores de notícias falsas entraram em ação, dizendo que a China criou o vírus para se beneficiar política e economicamente. Qualquer pessoa que faça uso, minimamente, da sua massa encefálica (cérebro) percebe a falta de lógica de toda e qualquer notícia falsa. Como o que é falso é logicamente oposto ao que é verdadeiro, então a razão logo descobre a falsidade daquilo que é invenção de gente desocupada e maliciosa.
            Quando chegou ao Brasil, o chefe do poder executivo federal, também chamado de “mito” pelos seus fãs, logo minimizou a situação. Como no Brasil há uma massa incontável de pessoas desinformadas, a expressão “gripezinha” do presidente viralizou. Seus fãs a dogmatizaram. Muitos desses fãs hoje descansam nos túmulos dos cemitérios pelo Brasil afora. Devem ter se esquecido de que eram pobres, e não tinham uma UTI no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. A “gripezinha” pegou o presidente, que toma cloroquina. Mas esse remédio serve para gripe? O Brasil é o país da piada pronta!
            O vírus se aproveitou bem da letargia inerente a muitos do povo brasileiro e seus governantes. Inicialmente, até que governadores e prefeitos agiram rapidamente, pois não foram contaminados pelo vírus da ignorância que nunca deixou o presidente em paz. Começaram a falar de isolamento social. Mas para este dar certo, seria necessário que o povo fosse disciplinado, e que o Ministério da Saúde contasse com medidas enérgicas de combate ao vírus. Ambas as coisas não existem: o povo tende à indisciplina, e o Ministério da Saúde não tem sequer um Ministro. Pelo contrário, mais parece um quartel de militares!
            O vírus foi ganhando espaço e corpos, fazendo o brasileiro conhecer a Covid-19. Segundo os números oficiais atualizados, mais de 70 mil pessoas morreram. O brasileiro ainda não parou para pensar sobre esse número. Mas como a maioria vive sem analisar as coisas, porque as pessoas não são educadas para análises, o número já não assusta. É mais fácil dizer que o número é invenção da mídia, ou de governos que querem receber dinheiro por pessoa morta. Essas fake news circulam como se fossem verdades.
O presidente previu esse número. Mas por que será que ele fez essa estimativa? Porque, segundo ele, o novo coronavírus é como a chuva: Vai pegar todo mundo! É como se tivesse dizendo a todos os brasileiros: “Olha, eu acho esse vírus uma bobagem! Como não estamos fazendo muita coisa para combatê-lo, pois o nosso foco é a economia, ninguém vai escapar, taokey?” Com outras palavras e ações, o presidente quis dizer isso aí, desde o início da pandemia.
Mas um presidente pode agir dessa forma? Pode, sim. Não deveria, mas age. Por que será que as pessoas já não acham isso um absurdo? Porque o brasileiro, de modo geral, já está se acostumando com o que é ruim. Nas redes sociais, a produção diuturna de notícias falsas ajuda a anestesiar e a manter as pessoas na cegueira. Já não se enxerga absurdo nenhum. Nunca na história do Brasil, o brasileiro se viu numa situação tão esquisita e, simultaneamente, tão bem arquitetada como a atual.
A cloroquina está recebendo o mesmo tratamento de uma arma de fogo. Quem ganha com a flexibilização do uso das armas? A indústria de armas. Quem ganha com o uso irresponsável e danoso da cloroquina? A indústria farmacêutica. Quem não enxerga isso? Os iludidos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já se pronunciou sobre a cloroquina. Por acaso a OMS é um partido político, que trabalha com ideologias? A Agência Nacional de Saúde (Anvisa) e o Conselho Federal de Medicina são organizações partidárias? Claro que não! Essas instituições trabalham com pesquisas e dados científicos. Quem entende de medicamentos é a ciência. Os políticos brasileiros, de modo geral, mal entendem de política.
A cloroquina não previne as pessoas da ação do novo coronavírus. Quem tomar esse remédio e se expor ao vírus, será contaminado. Não existe medicamento capaz de impedir que alguém contraia um vírus. Em estágio avançado da Covid-19, o médico pode, após analisar cuidadosamente as condições do paciente, prescrever a cloroquina. Trata-se de um remédio que possui efeitos colaterais que colocam em risco a vida das pessoas, principalmente insuficiência cardíaca com desfecho fatal. Basta ler a bula do medicamento para descobrir o quanto é perigoso para muitas pessoas.
Mas o presidente está prescrevendo a medicação? Claro que não! Ele não é médico. Mas está indicando, influenciando, incitando, levando as pessoas a acreditar que se trata de um remédio que serve para todas as pessoas, inclusive no estágio inicial da doença. Ao anunciar o resultado positivo para Covid-19, logo informou que estava tomando a cloroquina; ou seja, no estágio inicial da doença. Nenhum médico minimamente responsável prescreve um remédio como esse no estágio inicial da doença, com presença de sintomas leves. Mas como no Brasil tudo é possível, então é possível também que alguns médicos estejam fazendo isso; principalmente se o médico for eleitor ou fã do presidente.
Onde já se viu um presidente da República indicar um remédio reprovado pela OMS? O presidente dos EUA fez o mesmo, no início da pandemia, mas depois percebeu que estava equivocado. O que fez? Não mais recomendou o medicamento, e disse que mandaria o estoque para qual país do mundo? O Brasil! Não quis o mal para si e seu povo, mas quer mandar para os outros, dominados pela cegueira. Mas isso somente aparece como absurdo se a pessoa conseguir enxergar, criticamente, a realidade.
O fato de o presidente ter contraído o vírus é um sinal indicativo. A indicação da cloroquina não é o mais grave da situação brasileira atual. O mais grave é que as pessoas estão morrendo e o governo federal mal consegue fazer o básico, e de propósito. Nenhum país do mundo, afetado pelo vírus, comportou-se como o Brasil. Em outras palavras, nenhum outro chefe de nação se comportou tão irresponsavelmente como o presidente do Brasil. É algo inédito na história mundial.
No cenário internacional, os demais países estão estarrecidos com o que está acontecendo no Brasil. A imagem deste país está totalmente comprometida. A mídia internacional, principalmente a europeia, que não tem nada de comunista, retrata o que ocorre por aqui. A imagem que eles apresentam, retratando a realidade que a mídia brasileira tende a esconder, é muito vergonhosa. Os investidores não estão querendo investir no Brasil, pois o governo brasileiro não oferece segurança nenhuma. Pelo contrário, vendem a imagem de um país que não existe, como se os investidores internacionais fossem tão desinformados como a maioria do povo brasileiro.
Mais de 70 mil mortes por Convid-19; centenas de indígenas perdendo a vida, porque grileiros de terras e outros criminosos levam o vírus para as aldeias; quase 13 milhões de pessoas desempregadas; milhares de pequenas e médias empresas fechando as portas; o presidente e seus filhos sendo investigados pelo Judiciário, no STF e no TSE (inquérito das fake news contra o STF e nas eleições, e inquérito das “rachadinhas”, entre outras investigações que respingam no presidente e filhos); desvios de dinheiro na compra de insumos hospitalares em vários lugares; descoberta de uma rede criminosa de produção e circulação de notícias falsas nas redes sociais; o aperfeiçoamento da “reforma” trabalhista do Temer, agravando ainda mais a situação do trabalhador; a elaboração de uma “reforma” tributária que vai tornar mais pesado o fardo de impostos nas costas dos pobres etc. Esses e outros males estão acontecendo no Brasil. Será que as pessoas estão percebendo?
Para além da Covid-19, a situação do Brasil é gravíssima. E a culpa não é do Lula nem da Dilma, como os bolsonaristas costumam dizer. Os governos petistas cessaram com a cassação da Dilma. Agora é Bolsonaro. A responsabilidade pela condução do país é dele. Não adianta jogar a culpa no passado, nem em terceiros. O governo atual foi eleito sem um projeto para o país, e continua sem projeto. Onze ministros caíram em menos de dois anos de governo. Somente no Ministério da Educação, já estamos com o quarto ministro no mesmo período! A situação de desgoverno é clara. Não sabem administrar a coisa pública.
A reunião ministerial de 22 de abril, tornada pública, evidenciou o nível do governo: Total e vergonhosa desqualificação. O Brasil pode ser comparado a um transatlântico (navio gigante), que não sabe para onde vai. Totalmente exposto e desgovernado, poderá cair num precipício, porque o comandante da embarcação não sabe comandar. Foi eleito sem nunca ter sido prefeito sequer de uma das milhares de cidades pequenas do país. Não é necessário falar do histórico do presidente, porque já é bastante conhecido.
Tudo indica que após a pandemia as coisas continuarão do mesmo jeito ou pior. Isso não é pessimismo, mas realidade. Quando um governo não tem projeto para o país, dificilmente as coisas melhoram. As melhorias dependem de projetos inclusivos, transparência na administração e boa vontade política. Essas três exigências para a construção de um país justo e fraterno para todos não existem no atual governo. Como a esperança é a última que morre, espera-se que, pelo menos, o povo esteja prestando atenção a tudo o que está acontecendo e vote melhor em 2022. Assim como em 2018, em 2022 as pessoas terão alternativas melhores para uma escolha madura e consciente; do contrário, o país continuará sofrendo e passando vergonha perante o mundo.

Tiago de França

2 comentários:

Anônimo disse...

PARABENS AO REDATOR DO TEXTO. EU NAO SOU CRISTAO, MAS O TEXTO TA RECHEADOS DE VERDADES.

Tiago de França disse...

Obrigado! Abraço.