domingo, 5 de julho de 2020

Jesus manso e humilde de coração


“Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso” (Mt 11,29).
            A pandemia do coronavírus revelou o quanto o ser humano é frágil e dependente. Gente de toda condição social atingida por um ser invisível e perigoso. Mesmo assim, ainda há muita teimosia, arrogância, prepotência e desejo de autossuficiência. Ainda há muita agressividade, deboche, desrespeito e hipocrisia. A raça humana é dura na queda. Por isso, a mensagem de Jesus é muito oportuna e necessária, porque fala à dureza do coração humano. É preciso exortar, apesar de o sofrimento não parecer suficiente para despertar uma multidão numerosa, cada vez mais surda e cega, caminhando feito Caim (cf. Gn 4,12), errante no meio do mundo.
            O texto evangélico para a nossa meditação é muito rico em consolação (cf. Mt 11,25-30). Nele, Jesus aparece louvando o Pai por ter ocultado “estas coisas” aos sábios e entendidos e revelado aos pequeninos. Os que se consideram “sábios e entendidos” não conseguem ter acesso ao conhecimento de Deus. Segundo o desejo do próprio Deus, a revelação divina é dirigida aos pequeninos, porque estes são frágeis, vistos como ignorantes. Os poderosos e entendidos deste mundo sempre enxergam os pequeninos como gente que não sabe de nada. No seio da comunidade cristã, também algumas lideranças considera os pequeninos como gente ignorante.
            Isso explica a exploração dos pobres. Os mais entendidos, em todas as épocas da história, sempre se aproveitaram dos que possuem pouco conhecimento das coisas. Hoje também é assim. Os espertos e entendidos exploram os que desconhecem os direitos fundamentais necessários à dignidade humana. Na religião ocorre o mesmo: Muita gente enganada e explorada pelos que se consideram sábios e entendidos, mas que, na verdade, não passam de mercenários que se aproveitam da ingenuidade das pessoas. Essa realidade é totalmente contrária à vontade de Deus.
            O que seria dos fracos se Deus optasse pelos fortes? Foi do agrado de Deus fazer com que os pequeninos o conhecessem, porque o conhecimento de Deus liberta e salva. Não se trata de conhecer somente com o intelecto, mas com o coração, os sentimentos e todo o ser. Na Bíblia, o conhecimento não é mera atividade intelectual, mas envolvimento afetivo e efetivo com a realidade conhecida. Assim, em Cristo e por meio de Cristo, é possível conhecer a Deus, envolvendo-se com Ele e se deixando envolver por Ele. Esta graça é concedida aos pequeninos. Aos sábios e entendidos isso não é possível, porque já estão cheios de si mesmos; já não desejam conhecer Aquele que não se deixa conhecer plenamente neste mundo. A inteligência dos sábios e entendidos, por si mesma, é incapaz de compreender e abraçar a Deus.
            Jesus é o canal de acesso a Deus; é o caminho que conduz; é a Luz que ilumina a inteligência, libertando das trevas daquela ignorância capaz de manter o espírito humano longe de seu Criador. O Filho revela o Pai, e este revela aquele. Quem se envolver com Jesus, atendendo ao chamado de fazer parte de sua intimidade, terá acesso ao Pai e ao Espírito. Jesus é a porta de entrada da morada de Deus, que é o próprio Deus Uno e Trino. O chamado é para caminhar com Ele; chamado dirigido especialmente aqueles que estão cansados e fatigados.
            São tantos os fardos e jugos que o povo de Deus carrega. O apóstolo Paulo fala do “viver segundo a carne” (cf. Rm 8,9). A vida segundo a carne é uma vida sem o Espírito de Deus; uma existência atribulada, desassossegada. Uma vida sem descanso é um fardo pesado. Muitos desistem no meio do caminho: São tomados pela tristeza, pelo desânimo, pela depressão, pelo vazio existencial, pela morte... Há muitos cadáveres ambulantes: Gente que somente existe no corpo, mortos pedindo para serem sepultados. São corpos mutilados por tantos males, corpos em desespero... Jesus é a vida enviada pelo Pai, no Espírito, para fazer novas todas as coisas. É o Espírito de Deus que liberta da indignidade e da baixeza da condição humana.
            Este mesmo Espírito que habita todo o universo faz o discípulo aprender com Jesus, que é manso e humilde de coração. A mansidão é uma bem-aventurança (cf. Mt 5,5). A pessoa mansa é pacífica e promotora da paz. O Reino de Deus não pertence aos violentos, mas aqueles que, guiados pelo Espírito do Senhor, são cheios de ternura e mansidão. Numa sociedade marcada por tanta gente violenta e estressada, é necessário pedir a Deus a virtude da mansidão. O mundo precisa de pessoas suaves, leves, ternas e pacíficas. A arrogância faz mal ao corpo, ao espírito e às relações interpessoais. Quem é habitado pelo Espírito de Deus é manso, porque vive segundo Deus.
            A humildade é outra virtude que precisa ser procurada e aprendida com Jesus. Somente quem é humilde reconhece que depende de Deus para ser e viver. A pessoa humilde não é autossuficiente, porque sabe que somente Deus basta-se a si mesmo. Quem é humilde conhece o seu lugar, e não vive resmungando ou reclamando reconhecimento. Certamente, ser reconhecido é bom, mas, para a pessoa humilde, basta o cumprimento fiel de sua obrigação. Deus é a recompensa, e reconhece os humildes, confirmando-os em sua humildade. A pessoa humilde é reconciliada com a sua fragilidade e finitude, e não sente necessidade de afirmar-se diante dos outros para ser feliz.
            Sereno e livre, o justo caminha diante de Deus. A sua segurança está naquele que reina com justiça, cujo domínio se estende “de um mar a outro mar, e desde o rio até os confins da terra” (Zc 9,10). Se Deus, rico em poder e misericórdia, manso e humilde, origem e fonte de toda graça, Senhor do céu e da terra, puro Amor que a todos alcança, nos ama e cuida de nós, por que ter medo? Se Ele permanece conosco, por que temer a desolação? Tudo passa, exceto o amor que Ele tem por cada pessoa, indistintamente. Não tenhamos medo, mas abracemos o jugo e o fardo de Jesus, e encontraremos o descanso necessário para uma vida fecunda, plena de sentido e feliz.

Tiago de França

8 comentários:

Sergio Severino Ferreira disse...

Muito bom meu amigo. A humildade e a simplicidade de Jesus colocada no texto nós faz refletir o que estamos sendo nesse mundo tão individualista?

Charles Rodrigues disse...

Texto simples e direto. Os pobres é uma opção da igreja. Jesus se faz presente sempre na vida de quem o percebe.

Gostei meu irmão Tiago!
Abraços...

Charles Rodrigues disse...

Texto simples e direto. Os pobres é uma opção da igreja. Jesus se faz presente sempre na vida de quem o percebe.

Gostei meu irmão Tiago!
Abraços...

Unknown disse...

Nossa, que lindo 👏👏👏👏👏

Tiago de França disse...

Obrigado pela leitura do texto! Grande abraço!

Tiago de França disse...

Obrigado pela leitura do texto! Grande abraço!

Tiago de França disse...

Obrigado pela leitura do texto! Grande abraço!

Ana Maria Zodi disse...

A passagem que diz: "porque meu fardo é leve e meu jugo é suave" está em outro evangelho entao.
Interpreto esta frase da seguinte forma: o fardo dos apegos materiais excessivamente pesado, embora as pessoas não percebam. Mas o fardo do Espírito é suave, embora as pessoas pensem o contrário. Quando pegamos o fardo do Espírito recebemos toda a força e amor necessários para enfrentar as situações da vida.