“Tomai sobre vós o meu jugo e
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis
descanso” (Mt 11,29).
A pandemia do coronavírus revelou o
quanto o ser humano é frágil e dependente. Gente de toda condição social
atingida por um ser invisível e perigoso. Mesmo assim, ainda há muita teimosia,
arrogância, prepotência e desejo de autossuficiência. Ainda há muita
agressividade, deboche, desrespeito e hipocrisia. A raça humana é dura na
queda. Por isso, a mensagem de Jesus é muito oportuna e necessária, porque fala
à dureza do coração humano. É preciso exortar, apesar de o sofrimento não
parecer suficiente para despertar uma multidão numerosa, cada vez mais surda e
cega, caminhando feito Caim (cf. Gn 4,12), errante no meio do mundo.
O texto evangélico para a nossa
meditação é muito rico em consolação (cf. Mt 11,25-30). Nele, Jesus aparece
louvando o Pai por ter ocultado “estas coisas” aos sábios e entendidos e
revelado aos pequeninos. Os que se consideram “sábios e entendidos” não
conseguem ter acesso ao conhecimento de Deus. Segundo o desejo do próprio Deus,
a revelação divina é dirigida aos pequeninos, porque estes são frágeis, vistos
como ignorantes. Os poderosos e entendidos deste mundo sempre enxergam os
pequeninos como gente que não sabe de nada. No seio da comunidade cristã,
também algumas lideranças considera os pequeninos como gente ignorante.
Isso explica a exploração dos pobres.
Os mais entendidos, em todas as épocas da história, sempre se aproveitaram dos
que possuem pouco conhecimento das coisas. Hoje também é assim. Os espertos e
entendidos exploram os que desconhecem os direitos fundamentais necessários à
dignidade humana. Na religião ocorre o mesmo: Muita gente enganada e explorada
pelos que se consideram sábios e entendidos, mas que, na verdade, não passam de
mercenários que se aproveitam da ingenuidade das pessoas. Essa realidade é
totalmente contrária à vontade de Deus.
O que seria dos fracos se Deus
optasse pelos fortes? Foi do agrado de Deus fazer com que os pequeninos o
conhecessem, porque o conhecimento de Deus liberta e salva. Não se trata de
conhecer somente com o intelecto, mas com o coração, os sentimentos e todo o
ser. Na Bíblia, o conhecimento não é mera atividade intelectual, mas
envolvimento afetivo e efetivo com a realidade conhecida. Assim, em Cristo e
por meio de Cristo, é possível conhecer a Deus, envolvendo-se com Ele e se
deixando envolver por Ele. Esta graça é concedida aos pequeninos. Aos sábios e
entendidos isso não é possível, porque já estão cheios de si mesmos; já não
desejam conhecer Aquele que não se deixa conhecer plenamente neste mundo. A inteligência
dos sábios e entendidos, por si mesma, é incapaz de compreender e abraçar a
Deus.
Jesus é o canal de acesso a Deus; é
o caminho que conduz; é a Luz que ilumina a inteligência, libertando das trevas
daquela ignorância capaz de manter o espírito humano longe de seu Criador. O
Filho revela o Pai, e este revela aquele. Quem se envolver com Jesus, atendendo
ao chamado de fazer parte de sua intimidade, terá acesso ao Pai e ao Espírito.
Jesus é a porta de entrada da morada de Deus, que é o próprio Deus Uno e Trino.
O chamado é para caminhar com Ele; chamado dirigido especialmente aqueles que
estão cansados e fatigados.
São tantos os fardos e jugos que o
povo de Deus carrega. O apóstolo Paulo fala do “viver segundo a carne” (cf. Rm 8,9). A vida segundo a carne é uma
vida sem o Espírito de Deus; uma existência atribulada, desassossegada. Uma
vida sem descanso é um fardo pesado. Muitos desistem no meio do caminho: São
tomados pela tristeza, pelo desânimo, pela depressão, pelo vazio existencial, pela
morte... Há muitos cadáveres ambulantes: Gente que somente existe no corpo,
mortos pedindo para serem sepultados. São corpos mutilados por tantos males,
corpos em desespero... Jesus é a vida enviada pelo Pai, no Espírito, para fazer
novas todas as coisas. É o Espírito de Deus que liberta da indignidade e da
baixeza da condição humana.
Este mesmo Espírito que habita todo
o universo faz o discípulo aprender com Jesus, que é manso e humilde de coração. A mansidão é uma bem-aventurança (cf.
Mt 5,5). A pessoa mansa é pacífica e promotora da paz. O Reino de Deus não
pertence aos violentos, mas aqueles que, guiados pelo Espírito do Senhor, são
cheios de ternura e mansidão. Numa sociedade marcada por tanta gente violenta e
estressada, é necessário pedir a Deus a virtude da mansidão. O mundo precisa de
pessoas suaves, leves, ternas e pacíficas. A arrogância faz mal ao corpo, ao
espírito e às relações interpessoais. Quem é habitado pelo Espírito de Deus é
manso, porque vive segundo Deus.
A humildade é outra virtude que
precisa ser procurada e aprendida com Jesus. Somente quem é humilde reconhece
que depende de Deus para ser e viver. A pessoa humilde não é autossuficiente,
porque sabe que somente Deus basta-se a si mesmo. Quem é humilde conhece o seu
lugar, e não vive resmungando ou reclamando reconhecimento. Certamente, ser
reconhecido é bom, mas, para a pessoa humilde, basta o cumprimento fiel de sua
obrigação. Deus é a recompensa, e reconhece os humildes, confirmando-os em sua
humildade. A pessoa humilde é reconciliada com a sua fragilidade e finitude, e
não sente necessidade de afirmar-se diante dos outros para ser feliz.
Sereno e livre, o justo caminha
diante de Deus. A sua segurança está naquele que reina com justiça, cujo
domínio se estende “de um mar a outro
mar, e desde o rio até os confins da terra” (Zc 9,10). Se Deus, rico em
poder e misericórdia, manso e humilde, origem e fonte de toda graça, Senhor do
céu e da terra, puro Amor que a todos alcança, nos ama e cuida de nós, por que
ter medo? Se Ele permanece conosco, por que temer a desolação? Tudo passa,
exceto o amor que Ele tem por cada pessoa, indistintamente. Não tenhamos medo,
mas abracemos o jugo e o fardo de Jesus, e encontraremos o descanso necessário
para uma vida fecunda, plena de sentido e feliz.
Tiago
de França
8 comentários:
Muito bom meu amigo. A humildade e a simplicidade de Jesus colocada no texto nós faz refletir o que estamos sendo nesse mundo tão individualista?
Texto simples e direto. Os pobres é uma opção da igreja. Jesus se faz presente sempre na vida de quem o percebe.
Gostei meu irmão Tiago!
Abraços...
Texto simples e direto. Os pobres é uma opção da igreja. Jesus se faz presente sempre na vida de quem o percebe.
Gostei meu irmão Tiago!
Abraços...
Nossa, que lindo 👏👏👏👏👏
Obrigado pela leitura do texto! Grande abraço!
Obrigado pela leitura do texto! Grande abraço!
Obrigado pela leitura do texto! Grande abraço!
A passagem que diz: "porque meu fardo é leve e meu jugo é suave" está em outro evangelho entao.
Interpreto esta frase da seguinte forma: o fardo dos apegos materiais excessivamente pesado, embora as pessoas não percebam. Mas o fardo do Espírito é suave, embora as pessoas pensem o contrário. Quando pegamos o fardo do Espírito recebemos toda a força e amor necessários para enfrentar as situações da vida.
Postar um comentário