Querido Pedro,
Graça e
paz!
Hoje, recebi a notícia de tua páscoa
definitiva. Não é uma notícia que alegra o coração, porque assim como os
discípulos de Jesus, fico triste quando tenho conhecimento da partida de
pessoas como você. Nosso país é carente de testemunhas do seu porte,
comprometidas com as grandes causas do Reino de Deus. Pelo que conheço, você
descobriu o tesouro escondido no campo, e deixou tudo para adquirir este campo
e compartilhá-lo com seus irmãos de caminhada, no caminho de Jesus. Você é um
bem-aventurado.
Neste momento, recordo-me da carta
que enviei a você, pedindo que me enviasse os livros de sua autoria. Não esperava
que fosse responder a um adolescente do interior de Alagoas, que desde criança
deseja ser padre. Mas fui surpreendido com sua resposta: uma bela carta, com
alguns livros autografados. Em cada dedicatória uma palavra profética.
Pedro, você não gosta de ser chamado
com os títulos comuns aos bispos da Igreja, nem de fazer uso das indumentárias
episcopais. Esse seu jeito me cativou ao ponto de também não gostar dos
excessos que andam ressuscitando na vida da Igreja. Cada vez que vejo vídeos
com sua imagem, marcada pela simplicidade e despojamento, fico emocionado. A gente
ver tanto excesso, que a simplicidade e o despojamento aparecem como
extraordinários.
Dou graças ao Deus Libertador pelo
seu testemunho na Igreja católica. Seu compromisso com a vida dos povos
indígenas entrou para a história da Igreja e do Brasil. Seu engajamento na luta pela terra
é admirável. De fato, você é um profeta de nossos tempos. A profecia que brota
do seu testemunho é marcada pela poesia profética. Você sabe, como nenhum
outro, expressar os mistérios do Reino de Deus de forma simples, profunda e
audaciosa.
Quando estudei Patrística,
comoveu-me o testemunho dos grandes Padres da Igreja: bispos, presbíteros,
diáconos, monges, cristãos de toda parte. A sua páscoa aos 92 anos de idade é
um sinal de Deus. Pensei que você iria receber a coroa do martírio, mas as
coisas de Deus são mistério.
O seu martírio não foi de sangue; a sua santidade é
expressão fiel da vocação ao martírio na Igreja. Por isso, receba esse meu
reconhecimento, que muita gente haverá de concordar: Pedro, você é um dos
Padres da Igreja da América Latina. Para mim, você é um santo de Deus. E não
vou esperar sua canonização para pedir que você não esqueça de mim e de toda a
Igreja, que nesta hora tão difícil, precisa da intercessão de seus santos.
Por fim, quero terminar assegurando que o seu testemunho
jamais será esquecido. Enquanto os pobres existirem no mundo, haverá sempre
mulheres e homens como você, para seguir Jesus no meio do povo simples. Você
nos ensinou a viver com Jesus no meio dos pobres. Não gastou seu tempo com
saudosismos, nem com a defesa ferrenha de um modelo de Igreja que não consegue
falar às mulheres e homens de hoje. Os tiranos exploram os pobres, e somente
vivendo com Jesus seremos capazes de vencer a tirania e celebrar a festa da
ressurreição dos eleitos. Somente vivendo com Jesus é que seremos a verdadeira
Igreja de Cristo.
Meu irmão, pede a Comunidade Amorosa para sermos fieis
neste propósito. A nossa caminhada não é ideológica, mas evangélica. A nossa
lei é o Evangelho de Cristo. Nosso caminho é amor. Obrigado, Pedro, por nos ter
revelado o significado do Evangelho, sendo um bispo pobre, desapegado,
corajoso, amoroso, fiel, de profunda fé, pastor, autêntico, amigo dos pobres,
livre e profético! Seu testemunho conduz e sempre conduzirá muita gente para o
caminho de Jesus. Sua luta não foi em vão!
Receba o meu afeto filial e minha prece. Bendito
seja Deus pelo fecundo testemunho da sua vida entre nós!
Teu irmão nas lidas do Reino,
Tiago de França
Seminarista, desde a Diocese de Parnaíba, Piauí,
Brasil.
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