sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Maria: vocacionada do Pai

“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42)
            Na Igreja católica, agosto é o mês vocacional, tempo oportuno para rezar e refletir sobre o chamado de Deus. Nas Sagradas Escrituras há muitos e belos testemunhos vocacionais que servem de inspiração para uma resposta generosa à voz de Deus.
A iniciativa é sempre de Deus, que vem ao encontro das pessoas, propondo-lhes uma missão. Não há exclusivismos, porque chama a todos. Toda pessoa é importante aos olhos do Senhor, e é chamada a uma vida cheia de sentido na missão. Neste artigo, a reflexão sobre a vocação partirá da experiência vocacional de Maria, mãe de Jesus. O seu sim livre e generoso tem muito a ensinar aos que procuram responder ao chamado de Deus.
Quando Deus quis recapitular todas as coisas em Cristo (cf. Ef 1,10), escolheu uma mulher, prometida em casamento (cf. Lc 1,27), para ser a mãe do Salvador. Ao receber o convite, ela fez questão de compreender como isso aconteceria (cf. Lc 1,29). Todos os chamados precisam ter a mesma atitude: questionar Aquele que chama para a missão. A resposta sempre é dada, imediata ou posteriormente. Deus não deixa ninguém sem resposta.
A atitude de Maria revela que toda vocação possui um sentido, uma razão de ser; e cada vocacionado precisa conhecer o sentido de sua vocação. Somente assim, a pessoa tem convicção do seu chamado. O diálogo franco com Deus é necessário, para que Ele revele a sua vontade, porque a vocação visa à obediência na fé, e esta significa observar a vontade divina. Ninguém é chamado por Deus para fazer a própria vontade, nem para satisfazer seus próprios interesses. Se assim fosse, não seria vocação.
Quando o Senhor explica o sentido de sua vocação, Maria responde, prontamente: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Ela se apresenta como serva do Senhor, não como uma senhora importante, que deseja se servir de Deus para ser feliz e conseguir realizar seus sonhos. Maria se coloca diante de Deus como alguém que deseja realizar a vontade divina. A partir daquele momento, esta já estava se realizando de forma concreta: Maria estava grávida, o Espírito do Senhor desceu sobre ela.
É assim que acontece com toda pessoa que diz sim a Deus. Ao responder ao chamado, Deus vai realizando a sua obra na vida da pessoa e, assim, vai conduzindo-a para que realize a missão que deseja que se realize. E não há nada que impeça essa realização. Não há, neste mundo, nada que impeça a realização dos desígnios divinos. Tudo acontece conforme Deus quer, no tempo e no lugar que Ele determina. Tudo se dá na liberdade e para a liberdade. Maria não foi coagida a aceitar o plano de Deus, mas aceitou ser a serva do Senhor com toda a liberdade. O seu sim é uma prova de sua total confiança no Senhor.
Sem essa confiança não pode existir resposta autêntica e possível ao chamado divino. Confiar é acreditar que Deus realiza o que promete. Portanto, é depositar toda a confiança Naquele que conhece todas as coisas e as conduz à vida plena. O vocacionado precisa ser pessoa de fé, conhecedor das maravilhas que Deus sempre realizou e realiza na vida do seu povo. O vocacionado é alguém que faz parte do povo de Deus, portanto, sabe do que o Senhor é capaz para salvar esse povo. O Deus que chama é fiel e sempre cumpre o que promete (cf. Lc 1,54-55).
Porque confiou e se entregou à missão dada pelo Pai, Maria é bendita entre as mulheres, porque bendito é o fruto do seu ventre. Maria é bem-aventurada por causa de Jesus. O culto mariano na Igreja não confere nenhum louvor a Maria desligada de Jesus, o Filho amado do Pai. Sem Jesus, Maria perde o seu brilho. Muito feliz o Pe. Zezinho, em uma de suas músicas, ao dizer: “Não és deusa, não és mais que Deus, mas depois de Jesus, o Senhor, neste mundo ninguém foi maior”. A vocação de Maria está intimamente ligada à missão de Jesus, único mediador entre Deus e os homens (cf. 1Tm 2,5).
Tendo respondido ao chamado divino e cumprido fielmente a sua missão, acompanhando Jesus na realização do Reino do Pai, Maria participa, de forma antecipada, da glória reservada aos filhos e filhas de Deus. Esse é o mistério que celebramos nestes dias, por ocasião da solenidade da Assunção de Maria. A fé da Igreja ensina esta verdade de fé: Maria participa da glória do Ressuscitado, que revelou a fidelidade e o poder do Deus que derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes (cf. Lc 1,52), e que colocou tudo debaixo dos pés do seu Filho amado (cf. 1Cor 15,27a).
Maria é expressão do amor que Deus tem pela humanidade e por toda a criação. Nela, o Verbo se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1,14). É a prova por excelência do amor divino, que enviando o seu Filho a este mundo, não abandonou o ser humano à própria sorte, mas o salvou, maravilhosamente. Com Maria, o discípulo missionário de Jesus aprende a docilidade à voz de Deus, que chama e envia para a missão. Fazer o mesmo que ela fez vale a pena. Deus não cessa de chamar e enviar. É necessário ouvir a sua voz.

Tiago de França

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