“Corramos com perseverança na
competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da
nossa fé e a leva à perfeição” (Hb 2,1-2a).
É necessário recordar sempre que
Jesus é o centro da vida cristã. Nada pode ocupar o seu lugar. Na caminhada da
vida, o cristão precisa ter esta certeza: o Senhor caminha com o seu povo, sem
jamais abandoná-lo. Essa certeza da presença amorosa do Senhor afasta o
desespero, principalmente quando as águas do mar da vida se agitam, ameaçando a
embarcação. Na embarcação está Jesus (cf. Mc 4,38), que tem o poder de acalmar
a força das águas agitadas.
A vida cristã é tomada por agitações
de toda sorte. Tanto pessoal quanto eclesialmente, os discípulos de Jesus
passam por provações, que fazem parte da vida. São circunstâncias que revelam o
grau de intimidade que cada discípulo tem com o Mestre. Quanto mais unido a
ele, mais seguro o discípulo se encontra. Mesmo sabendo que ele dorme, enquanto
o barco é invadido pelas ondas, a certeza de sua presença confere um sentimento
de serenidade e segurança.
A história da Igreja católica é
repleta de momentos agitados, marcados por episódios que causam confusão e
descrença. Na verdade, já no grupo dos discípulos de Jesus, aqueles da primeira
hora, que tiveram a graça de conviver com ele, é possível encontrar
manifestações de fraqueza e de infidelidade. Os discípulos de Jesus não eram
perfeitos, mas com suas fragilidades se colocaram no caminho do Mestre, que
despertou neles o desejo de segui-lo. Eles foram percebendo que para seguir o
Mestre era necessário tomar a cruz, porque esta é caminho de santificação.
Eles descobriram em Pentecostes que
com o auxílio do Espírito do Senhor o seguimento de Jesus é possível. Ninguém
se coloca no caminho de Jesus sem que o Espírito impulsione e conduza. O
seguimento de Jesus não é invenção humana, nem existe sem o auxílio da graça
divina. Sem esta, o ser humano somente é capaz de pecar, fica desorientado,
perde o rumo e cai no vazio. Na história do cristianismo, todos os que perderam
o rumo da vida, na verdade, quiseram caminhar sem o auxílio da graça, sem a luz
do Espírito do Senhor.
Também a Igreja, em muitas ocasiões,
parece ter se esquecido da sua missão no mundo. Mas como é o Espírito do Senhor
que a guia na história, este mesmo Espírito vai fazendo surgir mulheres e
homens que apontam para o caminho. São Francisco de Assis, São Vicente de
Paulo, Santa Teresa de Ávila, Santa Dulce dos Pobres, São João XXIII e tantos
outros santos e santas chamaram a atenção da Igreja para o essencial.
O Espírito do Senhor vai conduzindo a Igreja, em meio às
luzes e trevas da caminhada. Também nos momentos de trevas, a voz do Senhor
ecoa forte, revelando a necessidade do retorno ao essencial. As Escrituras
falam que também nas situações de pecado, Deus se manifesta para socorrer seus
filhos e filhas (cf. Rm 5,20).
Quando cai, o pecador é chamado a
levantar-se. O mesmo chamado é dirigido à Igreja, sempre necessitada de
conversão. A humildade ensina a reconhecer a fragilidade e encoraja para a
experiência da misericórdia divina. Na Igreja, ninguém pode se colocar como
perfeito, porque a perfeição é um atributo divino (cf. 1Sm 2,2; Os 11,9). Neste
sentido, a Igreja é a Casa dos pecadores, chamados a fazer a experiência do
feliz encontro com a misericórdia de Deus. Isso significa que ninguém possui
autoridade para apontar o dedo para o outro, colocando-se como acusador e
julgador. O acusador é Satanás (cf. Ap 12,10), um só é legislador e o juiz: “aquele que é capaz de salvar e de fazer
perecer” (Tg 4,12).
As atuais circunstâncias eclesiais
no Brasil estão sinalizando para a urgente necessidade de conversão estrutural
e pastoral. O Espírito do Senhor está chamando a Igreja para voltar-se para o
essencial, que se manifesta no cuidado com os mais frágeis e desprotegidos.
Tudo está mais uma vez apontando para os pobres, que são as maiores vítimas do
capitalismo selvagem. Há muitos famintos, desempregados, violentados,
injustiçados, desorientados, desamparados, doentes, desiludidos e desesperados.
Toda essa gente pertence ao rebanho do Senhor, e a missão da Igreja consiste em
cuidar deste rebanho.
O caminho é muito simples, mas
exigente. O amor se faz cuidado: esta é a vocação da Igreja. Importar-se com o
que acontece com as pessoas, para cuidar delas. Ajudar a libertá-las do mal e
do maligno. Sarar as feridas do corpo e da alma. Despertar a esperança e
acompanhar os processos de transformação. Colocar-se do lado dos que sofrem.
Este é o caminho simples e exigente.
Tudo isso é possível se cada discípulo e toda a Igreja
mantiverem os olhos fixos em Jesus, porque é ele que conduz a fé de cada pessoa
e da Igreja à perfeição. Sem desviar o olhar, mas contemplando Jesus, é
possível caminhar com segurança e perseverança, até chegar o dia da realização
plena do Reino de Deus. Nunca se deve esquecer de que tudo passa, somente o
Amor permanece para sempre. Esta é a consolação dos filhos e filhas de Deus. Nesta
esperança é preciso se manter firme até o fim.
Tiago de França
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