sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Olhos fixos em Jesus


“Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição” (Hb 2,1-2a).
            É necessário recordar sempre que Jesus é o centro da vida cristã. Nada pode ocupar o seu lugar. Na caminhada da vida, o cristão precisa ter esta certeza: o Senhor caminha com o seu povo, sem jamais abandoná-lo. Essa certeza da presença amorosa do Senhor afasta o desespero, principalmente quando as águas do mar da vida se agitam, ameaçando a embarcação. Na embarcação está Jesus (cf. Mc 4,38), que tem o poder de acalmar a força das águas agitadas.
            A vida cristã é tomada por agitações de toda sorte. Tanto pessoal quanto eclesialmente, os discípulos de Jesus passam por provações, que fazem parte da vida. São circunstâncias que revelam o grau de intimidade que cada discípulo tem com o Mestre. Quanto mais unido a ele, mais seguro o discípulo se encontra. Mesmo sabendo que ele dorme, enquanto o barco é invadido pelas ondas, a certeza de sua presença confere um sentimento de serenidade e segurança.
            A história da Igreja católica é repleta de momentos agitados, marcados por episódios que causam confusão e descrença. Na verdade, já no grupo dos discípulos de Jesus, aqueles da primeira hora, que tiveram a graça de conviver com ele, é possível encontrar manifestações de fraqueza e de infidelidade. Os discípulos de Jesus não eram perfeitos, mas com suas fragilidades se colocaram no caminho do Mestre, que despertou neles o desejo de segui-lo. Eles foram percebendo que para seguir o Mestre era necessário tomar a cruz, porque esta é caminho de santificação.
            Eles descobriram em Pentecostes que com o auxílio do Espírito do Senhor o seguimento de Jesus é possível. Ninguém se coloca no caminho de Jesus sem que o Espírito impulsione e conduza. O seguimento de Jesus não é invenção humana, nem existe sem o auxílio da graça divina. Sem esta, o ser humano somente é capaz de pecar, fica desorientado, perde o rumo e cai no vazio. Na história do cristianismo, todos os que perderam o rumo da vida, na verdade, quiseram caminhar sem o auxílio da graça, sem a luz do Espírito do Senhor.
            Também a Igreja, em muitas ocasiões, parece ter se esquecido da sua missão no mundo. Mas como é o Espírito do Senhor que a guia na história, este mesmo Espírito vai fazendo surgir mulheres e homens que apontam para o caminho. São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, Santa Teresa de Ávila, Santa Dulce dos Pobres, São João XXIII e tantos outros santos e santas chamaram a atenção da Igreja para o essencial.
O Espírito do Senhor vai conduzindo a Igreja, em meio às luzes e trevas da caminhada. Também nos momentos de trevas, a voz do Senhor ecoa forte, revelando a necessidade do retorno ao essencial. As Escrituras falam que também nas situações de pecado, Deus se manifesta para socorrer seus filhos e filhas (cf. Rm 5,20).
            Quando cai, o pecador é chamado a levantar-se. O mesmo chamado é dirigido à Igreja, sempre necessitada de conversão. A humildade ensina a reconhecer a fragilidade e encoraja para a experiência da misericórdia divina. Na Igreja, ninguém pode se colocar como perfeito, porque a perfeição é um atributo divino (cf. 1Sm 2,2; Os 11,9). Neste sentido, a Igreja é a Casa dos pecadores, chamados a fazer a experiência do feliz encontro com a misericórdia de Deus. Isso significa que ninguém possui autoridade para apontar o dedo para o outro, colocando-se como acusador e julgador. O acusador é Satanás (cf. Ap 12,10), um só é legislador e o juiz: “aquele que é capaz de salvar e de fazer perecer” (Tg 4,12).
            As atuais circunstâncias eclesiais no Brasil estão sinalizando para a urgente necessidade de conversão estrutural e pastoral. O Espírito do Senhor está chamando a Igreja para voltar-se para o essencial, que se manifesta no cuidado com os mais frágeis e desprotegidos. Tudo está mais uma vez apontando para os pobres, que são as maiores vítimas do capitalismo selvagem. Há muitos famintos, desempregados, violentados, injustiçados, desorientados, desamparados, doentes, desiludidos e desesperados. Toda essa gente pertence ao rebanho do Senhor, e a missão da Igreja consiste em cuidar deste rebanho.
            O caminho é muito simples, mas exigente. O amor se faz cuidado: esta é a vocação da Igreja. Importar-se com o que acontece com as pessoas, para cuidar delas. Ajudar a libertá-las do mal e do maligno. Sarar as feridas do corpo e da alma. Despertar a esperança e acompanhar os processos de transformação. Colocar-se do lado dos que sofrem. Este é o caminho simples e exigente.
Tudo isso é possível se cada discípulo e toda a Igreja mantiverem os olhos fixos em Jesus, porque é ele que conduz a fé de cada pessoa e da Igreja à perfeição. Sem desviar o olhar, mas contemplando Jesus, é possível caminhar com segurança e perseverança, até chegar o dia da realização plena do Reino de Deus. Nunca se deve esquecer de que tudo passa, somente o Amor permanece para sempre. Esta é a consolação dos filhos e filhas de Deus. Nesta esperança é preciso se manter firme até o fim.

Tiago de França

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