domingo, 19 de abril de 2009

A Teologia da Libertação e a opção preferencial pelos pobres


A reflexão teológica tradicional da Igreja, construída ao longo dos séculos, sempre se esqueceu de levar em consideração a realidade dos pobres. Quando Constantino, na primeira metade do século IV, tornou o Cristianismo religião oficial do Império Romano, a Igreja se desviou da verdade de Jesus e enveredou por outros caminhos. Toda a história da Idade Média e parte da Idade Moderna sabem muito bem contar os desvios da Igreja. Isto não é mais novidade e quase não escandaliza mais ninguém. Durante todo este tempo o caminho de Jesus foi esquecido, salvo raras exceções de homens e mulheres, santos e santas, que tentaram recordar à Igreja o Evangelho de Jesus. Durante este tempo, a Igreja estava preocupada com o poder, o prestígio, a riqueza e o domínio hegemônico do mundo inteiro.

Quando foi eleito, o Cardeal Ângelo Giuseppe Roncalli tornou-se o Papa João XXIII, que ficou conhecido como “o Papa bom”. Era um homem conhecedor da história da Igreja e da importância do diálogo para a construção da justiça e da paz no mundo. Conduzido pelo Espírito de Deus, que sopra e rege a Igreja ao longo de sua história, convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II. O Papa João XXIII sabia muito bem que a Igreja conservadora e hipócrita, fechada em si mesma e que bradava condenações no mundo afora, não iria muito longe, desviando-se do mandato de Jesus, que é o anúncio da Boa Notícia da liberdade e da vida para todos. Foi graças ao Concílio Ecumênico Vaticano II que a Igreja procurou refazer a sua história pedindo até perdão pelos graves pecados cometidos. O estado em que se encontrava a Igreja antes do evento Vaticano II era insuportável. Todos reclamavam mudanças!

Atendendo aos apelos de mudanças apontados pelo Concílio, muitos teólogos e teólogas da Igreja e de outras Igrejas resolveram criar um novo método de reflexão teológica que partisse da realidade dos pobres da periferia do mundo. Esta reflexão recebeu de Gustavo Gutiérrez, teólogo peruano, o nome de Teologia da Libertação. Esta Teologia nasceu a partir da experiência oprimida do povo de Deus. Trata-se de uma reflexão que veio recordar mais uma vez à Igreja a existência dos pobres, convidando-a a uma opção preferencial por eles. Uma Igreja, que desde Constantino, esteve apegada ao poder e à riqueza, é convidada a ser pobre e missionária. O clamor dos pobres converte a Igreja ao Evangelho de Jesus Cristo: esta é a grande novidade da Teologia da Libertação. É verdade que a hierarquia da Igreja nunca viu essa teologia com bons olhos. Uma prova disso são as notificações e as sanções impostas a muitos teólogos e religiosos que fizeram a reflexão libertadora do Evangelho acontecer em suas vidas e na vida do povo de Deus. Frei Leonardo Boff, OFM e Pe. Jon Sobrino, SJ foram os teólogos que mais sofreram no tribunal da Congregação para a Doutrina da Fé. O primeiro deixou de ser clérigo e casou-se, mas continua no ofício de teólogo, agora dedicado a ecoteologia.

O objetivo da Teologia da Libertação não foi fundar outra Igreja dentro ou fora da Igreja. Teólogos renomados e comprometidos com o Evangelho não perderiam seu tempo com isso. A reflexão teológica da libertação acredita na conversão da Igreja ao Evangelho. Nos documentos pós-Vaticano II, a Igreja reconhece a necessidade de se converter a Jesus. A Igreja na América Latina fez a opção preferencial pelos pobres em seus documentos, e na prática eclesial se esforça em concretizar tal projeto. O que se pretende é voltar ao espírito de ação da Igreja Primitiva, que fazia referência direta a Jesus. Não é o poder nem a lei o centro da evangelização da Igreja Primitiva, mas o amor e a justiça como prática do Evangelho de Jesus. A Igreja é chamada a ser Serva da Humanidade, numa atitude misericordiosa com os pecadores deste mundo, promovendo a liberdade e a paz por meio do anuncio da Boa Nova. Não se trata de ser conservador ou libertador, mas de ir ao Evangelho e buscar uma fidelidade perseverante a ele. O interesse da Igreja em todo o mundo deve ser o anúncio do Evangelho. Jesus não pediu nada além disso, absolutamente nada. Se anunciarmos o Evangelho com a vida, pelo testemunho vivo e fiel a Jesus, então estaremos cumprindo o seu mandamento.

Tiago de França

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