sexta-feira, 17 de abril de 2020

A queda do Ministro da Saúde


O que dizer da queda do ministro da saúde, do governo Bolsonaro? Cremos que podemos, a priori, pensar três questões que explicam a demissão do ministro.
A primeira é a divergência com o presidente da República, que revela ser este um político intolerante. Com a demissão do ministro da saúde, deixa claro que não tolera divergências ou discordâncias. Fica evidente que entende pouco e não aceita a importância da pluralidade de pensamento e posicionamentos sobre os problemas do país. Em seu governo, todos os ministros devem concordar com as suas ideias e posturas. Quem não concordar, perde o cargo.
Numa democracia, este é um péssimo sinal. Quem não aceita o diferente e as posições contrárias demonstra ser pouco ou nada democrático. A demissão do ministro é uma manifestação de autoritarismo político, algo que todo mundo deveria condenar. Democracia não rima com autoritarismo. Numa República democrática, o pensamento crítico e a pluralidade de ideias e posturas devem ser promovidos, jamais erradicadas.
A segunda questão se refere ao fato de o presidente ser contrário aos dados científicos. A ciência não tem a verdade absoluta das coisas. Mas é verdade que sem ela nenhum país do mundo consegue evoluir. Vivemos em um mundo dominado pela tecnologia e pelos avanços científicos, que, apesar dos limites éticos inerentes à evolução, muitas das soluções a problemas que foram surgindo ao longo dos séculos são promovidas pelos estudos e descobertas científicas.
Numa pandemia como a que assola a humanidade hoje, ir contra a ciência é algo extremamente perigoso. Fora da ciência, não será possível a erradicação do vírus e, consequentemente, a "salvação" da raça humana, que tem sido afetada em praticamente toda a face da terra. Na América Latina, o Brasil se encontra isolado, como o país cujo presidente da República não reconhece o isolamento social como meio principal e eficiente para barrar a proliferação do vírus. Muitos outros líderes de governo e de estado zombaram do vírus e, posteriormente, se arrependeram amargamente. O presidente dos EUA é um deles.
O fato de o presidente do Brasil ser contrário à ciência, não é nenhuma novidade. Muito antes de se candidatar a presidente da República, já fazia questão de tornar pública a sua limitação intelectual e seu desprezo pela ciência. O presidente é muito limitado, e se torna presa fácil nas mãos daqueles que constituem a força dominadora da política e da economia nacionais: a elite financeira.
A terceira questão decorre da segunda, ou seja, por trás da demissão do ministro da saúde, que atuou com competência e rigor, pautando-se na ciência e nas resoluções da Organização Mundial da Saúde, temos um presidente curvado diante do poder econômico, constituído pelos grandes empresários, que estão reclamando a ausência dos trabalhadores e dos consumidores de seus produtos. O discurso em prol da economia é um discurso em prol de uma economia que não inclui os pobres. Trata-se da economia dos grandes empresários.
No capitalismo é assim: Mesmo em meio a uma pandemia, não é a saúde nem a vida das pessoas que importam, mas a manutenção do lucro a todo custo. Inclusive, aproveitam-se também da pandemia para mudar as leis que regulam os encargos sociais no setor laboral, aliviando a já tranquila vida dos grandes empresários, e sufocando cada vez mais a vida dos pobres trabalhadores.
O que esperar do novo ministro da saúde? Espera-se que seja um ministro obediente, que não expresse o que realmente pensa sobre o problema do coronavírus e que, assim, trabalhe no sentido de afrouxar o isolamento social, expondo mais ainda os brasileiros ao contágio do vírus. Consequência disso será o aumento de infectados e mortos, considerando que o sistema de saúde do país (SUS) é muito frágil e incapaz de atender ao crescente número daqueles que não terão para onde correr senão para os hospitais públicos. Se assim não proceder, o novo ministro não permanecerá no cargo.
Será que os bolsonaristas de plantão estão enxergando a realidade com senso crítico e sentimento de arrependimento? Ou será que continuam enxergando o presidente como o "mito", espécie de messias que libertará o país do vírus e livrará o Brasil, este imenso Titanic, do caos definitivo, após o terrível choque com a geleira da ignorância? Esta é a realidade, quer concordemos, quer não.

Tiago de França

Um comentário:

SocorroBarros disse...

Olá, Tiago!
Como vai? Excelente artigo. Você trouxe questões bem contundentes e verdadeiras. Infelizmente, o Brasil ė um paįs dividido. Uma parcela da população, mesmo diante do caos não consegue deixar a ideologia de lado para um bem maior. Preferindo aderir a ignorância do Presidente da República, que não está preocupado com a vida do povo brasileiro. Um forte abraço Socorro Barros.